Não se sabe ao certo a origem do nome Latito, a cuja entrada a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira dedica breves linhas: «Latito. Antiga denominação do monte Largo, próximo de Guimarães. Deste monte trata o livro de Numadona [sic], da antiga colegiada daquela cidade.»1
Também se regista no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado: «top. ant. Monte perto de Guimarães, Lattito em 959 (Dipl. p. 48; ver também p. 226), Latito em 961 (id. p. 51), Lattido em 1059 (id. p. 260), Latido em 1258 (Inq. p. 298).» A forma medieval Latido, em confronto com Latito, apresenta sonorização de -t- intervocálico, indicando que o elemento -ito esteve em variação com -ido. Acontece que -ido é um sufixo que ocorre em vários topónimos portugueses e galegos como Carvalhido (Porto), Pampelido (Porto), Teixido (Corunha, Galiza); é uma variante de -edo, sufixo que forma nomes colectivos, sobretudo no domínio botânico (arvoredo) e que está também na origem de alguns topónimos portugueses: Macedo, Moledo. Se a variante Latido designa um antigo colectivo, então poderíamos relacioná-lo com Latedo e Lata (ou Latas), este, por sua vez, conversão em topónimo do substantivo feminino lata, «talvez na acepção nortenha, de "courela, leira, belga" (Machado, op. cit.).2
Além disso, se o radical de Latito for o mesmo de lata, ficamos a saber que esta palavra tem origem controversa, segundo o Dicionário Houaiss:
«orig[em] contrv[ersa].; segundo [Antenor] Nasc[entes], b[aixo]-lat[m] latta, ae "vara comprida", de orig[em] céltica ou germ[âmica]; para J[psé Pedro Machado] M[achado] e A[natônio] G[eraldo da] C[unha], it[aliano] latta (1333) "lâmina de ferro, recoberta de leve camada de estanho, us[ada] para fabricar recipientes", do lat[im] tar[dio] lătta "pau ou vara comprida", donde "vara transversal de planta (esp[ecialmente] parreira), cerca ou grade de suporte de plantas", depois "tira, viga, chapa ou lâmina de metal (esp[ecialmente] ferro), p[or] ext[ensão] "caixa ou outros recipientes feitos desse material"; segundo Corominas (D[iccionario Crítico] E[timológico de la] L[engua] Cast[ellana]), a doc[umentção] mais ant[iga] da ac[e]p[ção] "lâmina estanhada de ferro ou aço" ocorre no it[aliano] e no fr[ancês], tendo prov[avelmente] influenciado o esp[anhol] lata (sXV) "id[em]"; f[ormas] hist[óricas] 1134 Vale de Latas top[ônimo], 1562 lata ac[e]p[ção] de carp[intaria], sXVI lata "folha-de-flandres" e "caixa de ferro estanhado".»
A relação com lata e Latedo é mera conjectura, até porque Latito chegou aos nossos dias com uma consoante dental surda, [t], a qual, retomando a hipótese da relação com lata, pode ser explicada por influência erudita ou eclesiástica, mantendo o som existente no étimo latino. Mas se assim fosse, porque não "Lateto", já que a origem do sufixo -edo/-ido é o latim -ētu-? Quer dizer a terminação -ito pode nem sequer dizer respeito ao citado sufixo latino. Já agora, observe-se que, como nome comum, latito é um tipo de rocha vulcânica, como se pode ler no Glossário Geológico Ilustrado. Não encontrámos, porém, referência ao tipo de rocha que é predominante na colina Sagrada de Guimarães, o qual calculamos ser diferente, dada a abundância de granito no Minho; em todo o caso, a designação monte Latito poderia também apontar para o tipo de rocha.
1 A forma correcta do nome da condessa é Mumadona (ver Rebelo Gonçalves, Vocabulário da Língua Portuguesa, 1966).
2 A. de Almeida Fernandes, em Toponímia Portuguesa — Exame a Um Dicionário, não acolhe este topónimo, mas regista como nomes de lugar Latas e Latedo, ao que parece, tudo com origem em lata e latada (a das vinhas do Entre-Douro-e-Minho).