O mais provável é que todos os topónimos que refere tenham origem no latim vulgar *areolu-1 ou *areola-, e não se relacionem com *hydreola-, que terá dado eiró, «enguia» (cf. eiró2 em José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Livros Horizonte, 1987).
É no seu Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa que José Pedro Machado sugere as duas etimologias para o topónimo Eiró (com acento agudo). No entanto, a possibilidade de os topónimos Eirô e Eiró terem a mesma origem que eiró («enguia) é muito discutível, como bem ilustra a posição de A. de Almeida Fernandes, que em Toponímia Portuguesa – Exame a Um Dicionário (1999, s.v. Eiró), autor que considera que Eiró só poderá ter origem no latim *areola, diminutivo do latim area, areae, «superfície plana, espaço geométrico, terreno, praça, horta, campo» (Dicionário Houaiss). E, de facto, a documentação medieval atesta formas como eiroo e eiroa, as quais parecem ser o resultado de *areolu- e *areola, com a queda do -l- intervocálico característica do romance galego-português e a metátese de E (deslocação para outra sílaba) com subsequente formação de ditongo (areolu- > aerolo > airoo > .eiroo).
Note-se ainda que o grau de abertura da vogal – Eirô e Eiró – parece ter incidência etimológica: o primeiro topónimo terá derivado de *areolu- mediante eiroo, que posteriormente passou a eiró; e o segundo vem de *areola-, mediante eiroa e depois eiró. Este contraste corresponde ao que existe atualmente em português entre avô (aviolu- > avoo > avô) e avó (aviola- > avoa > avó). Contudo, estas correspondências podem não impedir que, por vezes, a forma Eiró encontre origem em areolu-, tal como acontece ainda hoje com avó, que pode ser o mesmo que avô, por exemplo, em dialetos do Algarve (cf. avó em Eduardo Brazão Gonçalves, Dicionário do Falar Algarvio, Faro, Algarve em Foco Editora, 1996). Refira-se ainda que Eiró e Eiroa são formas frequentes na Galiza, cujos dicionaristas e estudiosos da toponímia consideram geralmente que *areola- é o étimo desses nomes (ver Airado e Airó em Fernando Cabeza Quiles, Toponimia de Galicia, Vigo, Editorial Galaxia, 2008).
Em suma, do ponto de vista histórico, Eirô e Eiró devem referir-se à existência de um pequeno terreno plano, usado ou não para atividades agrícolas.
1 O asterisco (*) assinala formas etimológicas hipotéticas ou não atestadas documentalmente. Os étimos latinos vão em minúsculas, embora em estudos de história da língua e etimologia se usem as maiúsculas, conforme prática referida e adotada, por exemplo, em Tópicos de História da Língua Portuguesa (Lisboa, Edições Colibri, 2014, p. 15), de Teresa Brocardo: «Na indicação de étimos latinos usa-se [na obra em referência] a prática de os representar em maiúsculas [...].»