O particípio encantada adquiriu uma certa autonomia em relação ao paradigma verbal de que provém, que é o do verbo encantar. Trata-se de um adjectivo participial, como muitas vezes se diz na gramática tradicional. Não estamos, portanto, na presença da típica construção passiva, uma vez que a expressão «com as histórias da avó» é interpretada com valor causal («por causa das histórias da avó») e tem, portanto, a função de modificador com valor de causa (adjunto adverbial na nomenclatura gramatical brasileira).1
Assinale-se que, embora seja possível substituir a preposição com por por («A menina ficou encantada pelas histórias da avó»), não é isto indicativo de estarmos claramente na presença de um agente da passiva. É o que nos diz E. Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, pág. 434/435):
«Nem todo termo introduzido pela preposição por funciona como complemento de agente, principalmente se apresenta o traço não-animado, referente a uma coisa, quando deve ser classificado como adjunto circunstancial de causa ou meio. Neste caso, por é comutável por outra preposição (p. exemplo, com) [...]:
Ficaram aborrecidos pelas falsas promessas.
[...] a experiência comunicada em pelas falsas promessas [...] pode ser expressa mediante outra construção:
Ficaram aborrecidos com (por causa de) as falsas promessas.»
1 À luz da Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967, falar-se-ia em complemento circunstancial de causa.