No caso em questão – caçador, que é nome e adjetivo derivado do tema verbal de caçar –, considera-se que o sufixo é -dor, na perspetiva de descrições recentes do português contemporâneo.*
Note-se, porém, que, numa perspetiva histórica, pode considerar-se que o sufixo é -or:
«Em -dor, -tor e -sor, bem como em -dora, -tora e -sura, os sufixos são propriamente -or e -ura. As consoantes d, t e s pertencem ao tema do particípio passado latino. Apenas as formas -dor e -dura são evolutivas; as demais são eruditas: só ocorrem em palavras latinas ou formadas sobre o seu modelo» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, pág. 99).
Por outras palavras, a forma sufixal latina -or, que se associava ao tema do particípio passado (exemplo: delator, que pressupõe um tema participial delat-), foi transmitida sem interrupção ao português, mas passou a ser analisada como uma unidade linguística integrando a consoante d, a qual é o resultado em português do -t- intervocálico latino. Além disso, o atual sufixo -dor passou a ligar-se a temas verbais de infinitivo: dar/dador, conhecer/conhecedor, repetir/repetidor. Esta informação tem interesse histórico, mas não faz parte da intuição que qualquer falante tenha das unidades morfológicas da língua atual.
Sendo assim, na descrição do uso contemporâneo, deverá dizer-se que o sufixo tem a forma -dor, e não -or.
* Fontes: M.ª Helena Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho, 2003, p. 948); Graça Rio-Torto et al. Gramática Derivacional do Português, Coimbra, 2013, p. 181/185.