O tempo cronológico ou físico é uma dimensão da realidade que pode ser medida em horas, dias, semanas, etc. O tempo verbal é uma representação do tempo de acordo com os princípios que organizam um sistema linguístico. Esta diferença é mais clara em certas línguas como, por exemplo, o inglês, que distingue entre “time”, para designar o tempo cronológico, e “tense”, para referir a representação linguística do tempo (ver “tense”, em David Crystal, Dictionary of Linguistics and Phonetics, Oxford, Blackwell).
Pode-se exemplificar o contraste entre os dois tipos de tempo através da organização dos tempos verbais em português. O uso do presente do indicativo é particularmente elucidativo, porque se trata de um tempo que muitas vezes não se reporta ao tempo presente. Com efeito, a forma falo em «amanhã falo contigo» marca muito mais, por parte do falante, a intenção (próxima da certeza) de realizar uma acção futura. Além disso, na linguagem há várias maneiras de perspectivar a acção no tempo, como acontece com o contraste entre o pretérito perfeito do indicativo (falei) e o pretérito imperfeito do indicativo (falava). Pode-se, pois, afirmar que não há coincidência entre o chamado tempo físico e o tempo linguisticamente construído.