Se formos verificar a etimologia de cada um dos verbos, retiramos o seguinte: persuadir deriva «do latim persuadĕre, “decidir, resolver fazer qualquer coisa; persuadir, convencer; produzir convicção a respeito de qualquer coisa”» (José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, vol. IV, Lisboa, Horizonte, 1987), enquanto convencer provém do «latim convincĕre, “vencer completamente; confundir um adversário; convencer (= provar a culpabilidade); demonstrar vitoriosamente (um erro, uma falha, etc.); provar vitoriosamente qualquer coisa contra alguém”». (idem, vol. II).
A partir da etimologia, apercebemo-nos de que, apesar de os dois verbos serem considerados sinónimos, parece haver diferenças entre eles, pois a persuadir está associada a ideia de competência, de capacidade, de arte, do poder de alguém conseguir «produzir convicção [em outra pessoa] a respeito de qualquer coisa» (idem). Por isso é frequente ouvir-se dizer que «tal pessoa tem poder de persuasão».
Por sua vez, e apesar de um dos sentidos da etimologia do verbo convencer ser o de «vencer completamente», a realidade é que é comum ouvir-se a seguinte afirmação: «Vencido, mas não convencido», do que se infere que este sujeito/emissor não ficou convicto das razões que lhe quiseram passar. Portanto, ele não sofreu os efeitos da arte, do poder de persuasão do outro, pois manteve as suas convicções, apesar de ter perdido uma determinada causa. Mas também é um facto que ao adjectivo convincente (particípio presente do verbo convencer) está implícita a ideia de «que é capaz de fazer reconhecer como verdade um facto, uma situação; que convence = persuasivo: ”Ela foi extremamente convincente com as provas que apresentou.”» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa (2001).
Se recorrermos aos dicionários de língua portuguesa, verificamos que o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (ob. cit.) regista os seguintes significados para convencer — «1. Fazer acreditar que é verdade = PERSUADIR. 2. Levar alguém a fazer determinada coisa, persuadindo-o de que deve fazê-la = PERSUADIR ("A publicidade convence muita gente a comprar produtos de que não precisa. Não queria ir à festa, mas o namorado convenceu-a")» — e, por sua vez, para persuadir: «1. Levar ou ser levado a praticar determinada acção, devido a uma boa razão ou a argumentos convincentes = CONVENCER, INDUZIR # DESPERSUADIR, DISSUADIR (“Persuadiu a filha a tirar um curso superior”, “Persuadiu-o a aceirar a proposta”, “Persuadi-me de que era necessário mudar de emprego”). 2. Deixar ou ficar convencido, através de argumentação ou comprovação; fazer aderir ou aderir a um ponto de vista, a uma opinião…; levar ou ser levado a acreditar = CONVENCER # DESPERSUADIR (“O bom orador persuade a audiência”, “Os jurados persuadiram-se da inocência do réu”)».
Não há dúvida de que esta última pesquisa não nos trouxe novos dados, pois a ideia de sinonímia entre os dois verbos permanece.
No entanto, ao recorrermos ao Dicionário dos Sinónimos – Poético e de Epítetos da Língua Portuguesa, de J. I. Roquete e José da Fonseca (Porto, Lello e Irmão Editores, s. d.) damo-nos conta da seguinte explicação da diferença entre os substantivos persuasão e convicção:
«Exprimem estas duas palavras o acto pelo qual a nossa alma aquiesce àquilo que se lhe propõe como verdade, com a ideia acessória duma coisa que a determinou a este acto. A convicção é uma aquiescência fundada em provas duma evidência irresistível e vitoriosa. A persuasão é uma aquiescência fundada em provas menos evidentes, posto que verosímeis, porém mais próprias a interessar o coração que a ilustrar o espírito. Aquela é filha da razão, e do domínio da inteligência; esta obra mais sobre o coração, e depende da sensibilidade. A convicção, sendo o efeito da evidência, não pode enganar; assim que, não pode ser falso aquilo de que estamos legitimamente convencidos. A persuasão é o efeito de provas morais, que podem enganar; e assim podemos estar muitas vezes persuadidos dum erro mui real, que tenhamos por verdade mui segura.
«Um raciocínio exacto e rigoroso produz a convicção nos ânimos rectos; a eloquência e a arte oratória podem produzir a persuasão nas almas sensíveis. "As almas sensíveis, diz Duclos, têm uma grande vantagem para a sociedade, a de estarem persuadidas de verdades de que não está convencido o ânimo; a convicção é muitas vezes somente passiva; a persuasão é activa, dá impulso e faz obrar.»
Poder-se-á dizer que se trata de uma análise sobre o valor dos substantivos/nomes convicção e persuasão e não da dos verbos convencer e persuadir. Mas a realidade é que o substantivo designa o acto, e o verbo, a acção. E não há dúvida de que há diferenças implícitas.