Para responder, agora, directamente à pergunta: «de casa dos meus pais» é um modificador ou um complemento? Inês Duarte (Língua Portuguesa. Instrumentos de Análise, Lisboa, Universidade Aberta, 2000, pág. 143) apresenta um teste que permite diferenciá-los. Trata-se do teste de retoma anafórica em pares pergunta-resposta, o qual consiste na resposta a perguntas do tipo o que fez + sujeito, o que aconteceu + sujeito e o que se passa com + sujeito (atenção que a designação sujeito se refere ao sujeito da frase a que se aplicam os testes). Assumindo que o par mais adequado à frase aqui em análise é o que fez, introduzam-se algumas adaptações, como sejam as de o sujeito ser um sujeito indeterminado marcado por eles, o que dá «Que fizeram eles?». O resultado do teste é o seguinte: se o constituinte não puder ocorrer na pergunta, mas sim na resposta, então é porque é um complemento. Observe-se então o par pergunta-resposta:
(3) *P: O que fizeram eles de casa de meus pais?
*R: Levaram-me
(4) P: O que fizeram eles?
R: Levaram-me de casa de meus pais
O par em (3) é agramatical, mas (4) é gramatical (em Inês Duarte, o par é abrangido por uma chaveta, à qual se antepõe um asterisco para marcar agramaticalidade; aqui, por limitações técnicas, opto por usar um asterisco para a pergunta e outro para a resposta). A aplicação do teste mostra, portanto, que o constituinte «de casa de meus pais» é um complemento preposicional da forma verbal «levaram».
Note-se que a frase não apresenta nenhum modificador da frase; tê-lo-ia, se se dissesse «Infelizmente, menina e moça me levaram de casa de meus pais». É que o modificador de frase tem um comportamento diferente de um modificador do grupo verbal ou de um complemento, porque enquanto estes podem ser focalizados e negados, com aquele não se passa o mesmo. Assim, observem-se os seguintes pares de frases, com base nas frases «levaram-me de casa de meus pais» e «infelizmente, levaram-me»:
(1) a. foi de casa de meus pais que me levaram
b. não de casa de meus pais mas da de meus avós me levaram
(2) a. *foi infelizmente que me levaram?
b. *Não infelizmente mas felizmente me levaram
No par (1), as frases são gramaticais, porque a expressão deslocada («casa de meus pais») é um complemento do verbo («levaram-me»); com efeito, o constituinte «de casa de meus pais» aceita quer a construção e foco («foi… que»), quer a negação (usando a construção «não… mas…»). Em (2), as frases são agramaticais, porque «infelizmente» não admite os testes de focalização e negação, o que mostra que se trata de um modificador de frase. Do ponto de vista semântico, os modificadores de frase caracterizam-se por veicularem uma apreciação acerca do conteúdo da frase.