Da pesquisa que, também, fizemos sobre a especificidade da esparsa, apercebemo-nos de que não é possível determinar o número exa{#c|}to de versos que a compõem.
Não há dúvidas de que é uma composição poética curta, com uma única estrofe, cuja brevidade formal implica a brevidade de expressão do conteúdo, do tema aí exposto. Filipe Nunes, na Arte Poética (Lisboa, Pedro Craesbeeck, 1815), integra-a no número das «coplas e redondilhas, de forte tradição na literatura hispânica» e, por sua vez, a Biblos, Enciclopédia Verbo das Literaturas da Língua Portuguesa (vol. II, Lisboa/São Paulo, Verbo, 1997) acrescenta que se trata «de uma composição poética de matriz provençal, assaz cultivada pelos poetas peninsulares, apresentando-se como uma estrofe única cuja expansão não é geralmente inferior a oito, nem superior a doze versos de redondilha».
Caracterizando-se pela concisão, a esparsa é propícia ao «improviso caro aos poetas dos séc. XV e XVI e terá constituído igualmente desafio ao engenho dos seus cultores, que dentro de escassos limites ensaiaram diversas combinações formais (versificatórias e rimáticas)» (idem).
Sá de Miranda, cerca de 1554, na elegia a António Ferreira, em que tece considerações sobre o estado das letras em Portugal, questiona: «ũa pregunta escura, esparsa triste,/tudo bom, quem o nega? Mas porquê,/se alguém descobre mais, se lhe resiste?» (vv. 19-21). Aliás, parece-nos que esta é a característica da esparsa: «esparsa triste», pois «é esse o tom dominante no desenvolvimento dos temas privilegiados neste género: o amor, a fortuna, a ordem ou desordem do mundo» (idem).