DÚVIDAS

A contracção das preposições com artigos, pronomes e determinantes

O acento grave utiliza-se quando há uma contracção da preposição 'a' com os artigos definidos femininos e pronomes demonstrativos cuja letra inicial é um 'a'.
"Fui à cidade.", "Vou àquela casa.", etc.
A minha dúvida é se a frase "Vou para a festa." se pode também escrever "Vou parà festa." ou "Vou prà festa." (uma vez que a palavra 'pra' existe como redução de 'para').
Em caso de resposta negativa, gostaria que me explicassem porque é que a preposição 'para' não goza do mesmo "privilégio" que 'a'. Afinal, na frase que usei como exemplo, trata-se também duma contracção de preposição e artigo.
Em caso afirmativo, será que se pode também escrever "Estou-me nas tintas prò assunto."?
A minha questão prende-se essencialmente com a linguagem poética, em que, por vezes, se torna necessário aclarar quais as sílabas a elidir na leitura, para que se perceba à primeira vista o ritmo e a acentuação da frase.
Já agora, se é possível escrever "p'la" em substituição de 'pela' (por a), porque não permitir que (à semelhança de 'pra') se possa escrever 'pla'?
Muito obrigado e continuem o excelente trabalho.

Resposta

Em Portugal, a ortografia usada segue o Acordo Ortográfico de 1945, o qual prevê a contracção das preposições a, em, de e por com artigos (p. ex., à, na, da, pela), pronomes pessoais (p. ex., dele, nele), pronomes e determinantes demonstrativos e indefinidos (p. ex., àquele, naquele, daquele; dalgum, nalgum, etc.).

Estão também registadas contracções e reduções de para, com e por (neste caso, ocorre a sua forma arcaica per). Contudo, estas contracções são de uso muito limitado na escrita. Por exemplo, as da preposição para — «prò», «pròs» (não confundir com pró, com os sentidos de «a favor» e «vantagem») e «prà», «pràs» — são usadas em algumas situações (nunca formais). Do mesmo modo, embora surjam na pronúncia, raramente ocorrem as reduções de pelo e pela, isto é, as formas «plo», «plos», «pla», «plas» (a forma «p’lo» também é usada, mas parece menos compatível com a actual ortografia de Portugal). Por último, as contracções de com («co», «cos», «coa», «coas») têm as mesmas restrições na escrita, apesar de praticamente corresponderem à pronúncia corrente.

Note-se que Paul Teyssier, no seu Manual de Língua Portuguesa (1989), fala em «formas contractas arcaicas», como «ò» (ao) e «co» (com o), que diz serem próprias da poesia e na oralidade. Parece-me, pois, que o consulente pode usar as contracções que refere (excepto “parà”), desde que as restrinja a composições em verso, sobretudo quando a métrica o impuser.

 

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa