Numa coordenação deste tipo, a concordância entre o verbo e o sujeito depende do valor da conjunção ou (inclusivo ou exclusivo).
Quando a posição sintática de sujeito é ocupada por mais do que uma entidade referencial nominal e a conjunção ou tem um valor inclusivo, então a concordância é feita no plural – como podemos observar no exemplos abaixo, ou tem uma leitura quase equivalente à conjunção e – veja-se e compare-se a) e b):
a) i. «Ou eu ou tu fazemos isto sem dificuldades. Ambos somos qualificados para tal.»
ii. «Ou a faca ou a tesoura são objetos de perigo para as crianças.»
b) i. «Eu e tu fazemos isto sem dificuldades. Ambos somos qualificados para tal.»
ii. «A faca e a tesoura são objetos de perigo para as crianças.»
Por outro lado, quando ou tem um valor exclusivo1, então a concordância só poderá ser feita assim:
c) i. «Um de nós faz isto.»
ii. «Alguém tem de fazer isto: ou eu ou tu.»
iii. «Quem faz isto? Eu ou tu?»
E não de outras formas:
d) i. *«Ou eu ou tu faço isto.»2
ii. *«Ou eu ou tu faz isto.»
iii. *«Ou eu ou tu fazemos isto.»
iv. *«Ou eu ou tu fazes isto.»
Resumindo: pode dizer-se «Ou eu ou tu fazemos isto» se tiver o significado de «Eu e tu fazemos isto». Caso contrário, deverá dizer-se «Um de nós faz isto».
1 Na Gramática da Língua Portuguesa (Mateus et aliae 2003: 586) são adotados os termos inclusivo e disjuntivo para determinar o valor da conjunção, mas para evitar que daí surjam dúvidas, já que esta conjunção se denomina por conjunção coordenativa disjuntiva, preferirmos usar antes aqui os termos inclusivo e exclusivo como valores possíveis da conjunção disjuntiva, como referido em Áreas Críticas da Língua Portuguesa (Peres e Móia 1995: 379).
2 O asterisco indica agramaticalidade, isto é, que as frases em exemplo não estão, por algum motivo, corretas.