DÚVIDAS

A coerência da expressão «regresso ao futuro»

Vi na primeira página de um jornal a seguinte frase: «Automóveis clássicos promovem regresso ao futuro»

Penso que ela não tem lógica, pois não pode haver regresso ao futuro... Estarei certo ou errado?

Muito obrigado.

Resposta

Uma vez que não temos acesso ao conteúdo da notícia, temos de analisar o título da mesma sem ter em conta o contexto em que está inserido.

A definição de regresso contraria de certa forma a de futuro (futuro implica algo que está por vir, enquanto regresso envolve algo que se verificou no passado e volta novamente a ocorrer). Vejamos as definições de regresso e de futuro registadas no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa:

regresso – «acto ou efeito de regressar; retorno no tempo; volta ao passado.»
futuro – «conjunto de factos, acontecimentos relacionados com um tempo que há-de vir; existência futura. »

Além disso, o adjectivo «clássico», que qualifica o substantivo «automóveis», denota algo antigo e tradicional, que teve origem no passado e não no futuro.

Contudo, a frase deverá ser interpretada como um paradoxo, isto é, como a associação de duas realidades aparentemente inconciliáveis. A aparente contradição é resolvida pela possibilidade de entendermos «futuro» como «ideia de futuro que hoje já não é válida». Com esta interpretação, a expressão tem todo o sentido. Trata-se do regresso à maneira de encarar o futuro numa dada época passada. E, na verdade, um «automóvel clássico» já foi um símbolo de modernidade e projecção no futuro.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa