A acentuação nos nomes das cidades
De acordo com a nova ortografia, caíram os acentos agudos em vogais abertas paroxítonas, correto? Pois bem, quero saber se esta nova regra se aplica aos nomes de cidades, estados, etc.
De acordo com a nova ortografia, caíram os acentos agudos em vogais abertas paroxítonas, correto? Pois bem, quero saber se esta nova regra se aplica aos nomes de cidades, estados, etc.
Como sabemos, as palavras paroxítonas/graves «não são em geral acentuadas graficamente» (ponto 1 da Base IX do Acordo Ortográfico de 1990), pois a língua portuguesa é uma língua grave, uma vez que a sílaba tónica da grande maioria das palavras recai na penúltima sílaba. Por isso, desde há muito tempo, e «em virtude desta lei fundamental da nossa língua, a acentuação das palavras paroxítonas/graves só se faz excecionalmente, isto é, nos casos em que a sua falta poderia levar a hesitações ou erro de leitura» (José Nunes de Figueiredo e António Gomes Ferreira, Compêndio de Gramática Portuguesa, Lisboa, Bertrand, 1965, p. 46).
É essa a razão pela qual as Bases IX e X do Acordo Ortográfico de 1990 estipulam que, no caso das palavras paroxítonas/graves, só se acentuam:
Com acento agudo:
– As palavras paroxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -l, -n, -r, -x e -ps, assim como, salvo raras exceções, as respectivas formas do plural, algumas das quais passam a proparoxítonas: amável (pl. amáveis), Aníbal, dócil (pl. dóceis), dúctil (pl. dúcteis), fóssil (pl. fósseis);
– As palavras paroxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -ã(s), -ão(s), -ei(s), -i(s), -um, -uns ou -us: órfã (pl. órfãs), acórdão (pl. acórdãos), órfão (pl. órfãos), órgão (pl. órgãos);
– as vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento agudo quando antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde de que não constituam sílaba com a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s: alaúde, amiúde, Araújo, Ataíde, atraiam (de atrair), atraísse (id.), baía, balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo, faísca, faúlha, graúdo, influíste (de influir), juízes, Luísa, miúdo, paraíso, raízes, recaída, ruína, saída, sanduíche, etc.
Com acento circunflexo:
– as palavras paroxítonas que contêm na sílaba tónica/tônica as vogais fechadas com a grafia a, e, o e que terminam em -l, -n, -r, ou -x, assim como as respetivas formas do plural, algumas das quais se tornam proparoxítonas: cônsul (pl. cônsules), etc.:
– as palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com a grafia a, e, o e que terminam em -ão(s), -eis, -i(s) ou -us: bênção(s), côvão(s), Estêvão, Mênfis, etc.;
– as formas verbais têm e vêm, 3.ªs pessoas do plural do presente do indicativo de ter e vir, que são foneticamente paroxítonas [...] (cf. as antigas grafias preteridas, têem, vêem), a fim de se distinguirem de tem e vem, 3.ªs pessoas do singular do presente do indicativo ou 2.ªs pessoas do singular do imperativo; e também as correspondentes formas compostas, tais como: abstêm (cf. abstém), etc.;
Com o trema:
Conserva-se, no entanto, o trema, de acordo com a Base I, 3.º, em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: hübneriano, de Hübner, mülleriano, de Müller, etc.
Relativamente ao caso específico dos nomes de cidades e de estados (topónimos) derivados de nomes próprios estrangeiros, o ponto 3 da Base I do AO apresenta duas propostas: a da manutenção da grafia já existente ou a substituição pela forma aportuguesada (recomendada).
Portanto, para além destas poucas indicações referentes à grafia de casos particulares dos nomes próprios, o Acordo Ortográfico não estipula novas regras a nível da acentuação gráfica dos nomes das cidades nem dos estados nem de outros topónimos (paroxítonas), o que significa que se mantém a acentuação: Baía (grafia do português europeu); Bahia (grafia brasileira); Paraíba, Serra Gaúcha, São Cristóvão.