Susana Ramos - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Susana Ramos
Susana Ramos
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Licenciada em Estudos Clássicos pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e pós-graduada em Ensino do PLE/L2 pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi docente de Português L2/LE no Instituto Camões em Paris entre 2009 e 2010 e professora estagiária de PLE/L2 na Faculdade de Letras da Universidade do Porto entre 2010 e 2011.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostava de saber qual é a forma correcta para dizer a expressão entre a «publicação do livro» e «lançamento do livro», e se existem diferenças entre elas.

Obrigada.

Resposta:

Segundo o Dicionário Eletrónico Houaiss, o termo lançamento refere-se à «divulgação e colocação no mercado (de novo produto, atração inédita, etc.)», exemplo: «O lançamento do livro de Valter Hugo Mãe teve lugar na Fnac.» Por sua vez, publicação é o «ato de preparar e entregar um impresso ao público»; exemplo: «A publicação do livro de Valter Hugo Mãe foi feita pela Editora Minerva.» O termo publicação pode também referir-se à obra impressa ou publicada de um autor, exemplo: «José Saramago conta com mais de vinte publicações no seu currículo.» Pode-se ainda usar a combinação dos dois termos, «o lançamento da publicação», para nos referirmos à divulgação de uma obra impressa ao público.

Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão, no Dicionário do Livro (Coimbra, Edições Almedina, 2008), também distinguem os dois termos (manteve-se a ortografia original):

«LANÇAMENTO – Acção de colocar no mercado à venda uma publicação, utilizando os meios publicitários à disposição.»

«PUBLICAÇÃO – Acto ou efeito de publicar, isto é, de difundir um documento junto de um determinado universo de consumidores • Obra impressa de carácter literário, científico ou...

Pergunta:

Reparei recentemente que a palavra anime (de «animação japonesa») está no dicionário  como sendo em português europeu escrita animé, o que deixa também clara a forma como se deve pronunciar.

A questão é que penso que a maioria das pessoas pronuncia "anime", em vez de "animé".

Pesquisei na Internet e, de facto, não há muita informação em relação à palavra em português, assim como à sua adaptação para português.

Gostaria de saber se animé é realmente a grafia definitiva da palavra, ou se pode preferir-se escrever anime, assumindo assim uma dupla grafia.

Obrigado pela atenção.

Resposta:

O termo anime é um estrangeirismo relativamente recente, importado do japonês, para designar de um género de desenhos animados. No Dicionário Eletrónico Houaiss, não há ocorrência desta importação, mas o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa regista a palavra com a dupla grafia: animé, com acento agudo, forma atribuída ao português de Portugal (cf. também o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora;  animê, associada à variedade brasileira (cf. também Dicionário Aulete). Ambas as formas são adaptações do japonês anime, forma romanizada, isto é, vertida em caracteres latinos. Constata-se, portanto, que em Portugal os dicionários disponibilizam a forma animé, muito embora também se possa usar a romanização anime, em itálico ou entre aspas, de forma a indicar o seu estatuto de estrangeirismo, ao mesmo tempo que se lhe atribui a pronúncia com e final aberto, como acontece com a palavra inclusive.1

Refira-se, por último, que o empréstimo japonês tem um homónimo, anime, de etimologia obscura e com o significado de «resina aromática encontrada no copal, esp. us. em vernizes» (Dicionário Houaiss).

1 No Dicionário Houaiss (s.v. inclusive) observa-se o seguinte, sobre a pronúncia de inclusive em português de Portugal: «em Portugal, o e final é pronunciado aberto (como o de café), lembrança do som dos adv. ...

Pergunta:

Gostaria de saber se existe alguma regra que defina o som da letra o: quando se lê "ó", "u" ou "ô".

Muito obrigado.

Resposta:

Existem algumas regras de acentuação que permitem distinguir o fechamento e a abertura de vogais, embora muitas vezes seja necessário consultar um dicionário para conhecer a pronúncia adequada de uma dada palavra, já que muitas se regulam pela etimologia.

Em relação à vogal o, quando estamos perante sílaba tónica assinalada com acento gráfico, pronunciamos o aberto, se estiver marcado com acento agudo, como em avó, hóquei ou ótimo, e o fechado, se a vogal apresentar acento circunflexo, como em avô ou sôfrego; não havendo sinal gráfico, como acontece com muitas palavras paroxítonas (graves na terminologia mais usada em Portugal) e algumas oxítonas, a vogal pode ser aberta ou fechada: porta, mas Porto1; «saber de cor uma canção» ("cór"), mas «os campos têm uma bela cor» ("côr").

1 Há casos em que pode prever-se a abertura da vogal: o singular de substantivos e adjetivos como porco, palavra grave com o fechado na sílaba tónica, tem o aberto na sílaba tónica do feminino e do plural: porca, porcos; substantivos com o fechado tónico na sílaba tónica podem corresponder a formas verbais homógrafas e semanticamente afins com o aberto: acordo («assinaram um acordo»), com o fechado, mas acordo («acordo cedo», do verbo acordar), com o aberto.

Cf. 

Pergunta:

Qual a forma correcta?

«Todos os anos a história se repete», ou «todos os anos a história repete-se»?

Obrigado.

Resposta:

Em português europeu, os clíticos, pronomes pessoais átonos, admitem as posições na frase de próclise, mesóclise e ênclise, embora esta última seja o padrão de colocação básico1. Nas frases que apresenta – (a) «Todos os anos a história se repete» e (b) «Todos os anos a história repete-se» –, a primeira (a) é a aceitável: o atrator de próclise todos, que é quantificador distributivo2 e que precede o hospedeiro verbal repete, obriga à próclise do clítico se.

«Ao contrário do português brasileiro, as formas clíticas não podem ocupar a posição inicial absoluta de frase», Ana Maria Brito et alii, "Tipologia e distribuição das expressões nominais", p. 849, em Gramática da Língua Portuguesa, Editorial Caminho, 2003.

Nem todos os quantificadores induzem próclise: «Quantificadores distributivos e grupais como todos, ambos e qualquer induzem próclise, contrariamente a cada, que a admite mas não exige; os quantificadores numerais, partitivos e de contagem não são proclisadores; quantificadores indefinidos e existenciais como um e algum são proclisadores, enquanto alguém e algo são; quantificadores generalizados como bastantes e poucos induzem a próclise, contrariamente a muitos, que a admite mas não exige.» Ana Maria Brito et alii, "Tipologia e distribuição das expressões nominais", p. 855, em Gramática da Língua Portuguesa, Editorial Caminho, 2003.

Pergunta:

Donde vieram as palavras esposo e esposa?

Resposta:

O substantivo masculino esposo significa, segundo o Dicionário Eletrónico Houaiss, «homem casado, em relação à sua mulher; marido» e deriva do étimo latino sponsus, i, que, por sua vez, significa «noivo ou marido» (Dictionnaire Latin-Français: Le Grand Gaffiot, Hachette, 2000). O substantivo feminino esposa é a «mulher casada, em relação ao seu marido; mulher» (cf. Dicionário Eletrónico Houaiss) e deriva do étimo latino sponsa, ae, que significa «noiva ou mulher». Os termos esposo e esposa também podem ser utilizados para se referirem a «noivos», no âmbito de uma cerimónia de noivado, embora essa aplicação esteja em desuso nos tempos atuais.