Sandra Duarte Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sandra Duarte Tavares
Sandra Duarte Tavares
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É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e  participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua  e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna  mensal  na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!SOS da Língua PortuguesaQuem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber qual é o sujeito da frase:

«André é o nome do marido da minha tia.»

Agradeço a disponibilidade.

Resposta:

O sujeito da frase é «André».

Em frases com o verbo ser identificacional, nem sempre é fácil determinar qual o sujeito e qual o predicativo do sujeito.

Mas os critérios sintácticos podem ajudar-nos:

Sujeito

Pronominalização nominativa — O sujeito é a expressão nominal que puder ser substituída por um pronome pessoal nominativo:

(1)  «Ele é (o nome d)o marido da minha tia.»

(2)  ?? «André é ele.»

A frase (2) é gramatical apenas do ponto de vista pragmático, quando em situação de comunicação fazemos referência a alguém. Porém, do ponto de vista sintáctico, a frase não é gramatical, pois o pronome pessoal ele não substitui a expressão nominal «o nome do marido da minha tia».

Predicativo do sujeito

Substituição do predicativo pelo pronome demonstrativo invariável -o  – O predicativo do sujeito é a expressão que puder ser substituída por esse pronome:

(3) «André é o nome do marido da minha tia, e Oliveira também o é.» (Oliveira também é o nome do marido da tia)

Por conseguinte, a expressão nominal «o nome do marido da tia» é o predicativo do sujeito, e a expressão nominal «André» é o sujeito da frase — a entidade sobre a qual se faz uma afirmação.

Disponha sempre!

Pergunta:

Como voltei de novo a ouvir nas tevês e rádios pronunciarem “Nóbel”, em vez de “Nobél”... Afinal qual é a pronúncia correcta?

Resposta:

Como aqui já se referiu, a pronúncia correcta é mesmo [nobél]. Há duas boas razões para assim ser:

1. Trata-se de uma palavra aguda, isto é, tem acento tónico na última sílaba, tal como, papel, anel, animal, etc. Se  Nobel tivesse a tónica na sílaba "nò", teria de ter acento gráfico na vogal o (repare-se que, por exemplo, túnel tem acento no u).

2. A segunda boa razão é a etimologia: Nobel é o nome do senhor sueco – Alfred Nobel – que instituiu o prémio, e a pronúncia original é [nobél].

 

N.E. – Sobre este tema,Cf. Regras da acentuação, do Código de Redação Institucional da União Europeia + Bases VIII, IX, X, XI e XIII do Acordo Ortográfico de 1990.

Pergunta:

O meu superior hierárquico e vários colegas gostam de usar «De referir» no início de uma frase, por exemplo: «De referir que a fase inicial do projecto ainda não se encontra concluída.»

Agradeço os vossos comentários quanto à correcção do uso desta expressão para começar uma frase, uma vez que já a corrigi para «É de referir que...» e fui repreendida, por a forma correcta ser «De referir que...»

Obrigado.

Resposta:

Quando os seus colegas dizem «de referir que...», em vez de «é de referir que...», não estão a cometer nenhum erro sintáctico, mas antes a usar um processo estilístico que se chama elipse.

Elipse é a omissão de um termo da frase que o contexto permite recuperar, por exemplo: «Vida difícil, (é) a nossa.»

O objectivo do uso destes processos é dar maior expressividade ao discurso.

Por conseguinte, a omissão do verbo ser é perfeitamente legítima nas estruturas que apresenta.

Disponha sempre!

Pergunta:

A primeira oração de uma frase onde se estabelece uma relação de coordenação pode ser considerada coordenada assindética?

Ex.: «O João foi ao Porto e observou o teatro Rivoli.»

1— «O João foi ao Porto» é uma oração coordenada assindética.

2— «e observou o teatro Rivoli» é uma oração coordenada copulativa sindética.

Obrigada pela atenção.

Resposta:

Na coordenação sindética, uma das orações coordenadas é introduzida por uma conjunção:

(1) «As crianças foram ao cinema e comeram pipocas.»

Na coordenação assindética, as orações coordenadas são justapostas, não havendo qualquer conjunção a uni-las:

(2) «A Maria foi ao cinema, o João ficou em casa.»

Por conseguinte, na frase que apresenta, estamos perante uma estrutura de coordenação sindética, uma vez que uma das orações coordenadas é introduzida pela conjunção copulativa e: «e observou o teatro Rivoli».

Quanto ao estatuto da primeira oração: «O João foi ao Porto», a mesma era designada tradicionalmente por oração coordenante, visto preceder lógica e formalmente a segunda oração.

A linguística actual designa-a simplesmente por primeira oração coordenada.

Disponha sempre!

Pergunta:

Atente-se nas frases: «Cesário Verde foi o poeta da cidade» e «O poeta da cidade foi Cesário Verde».

Onde está o sujeito e qual o predicativo do sujeito?

Resposta:

Se me é permitida a metáfora, este parece ser um dos terrenos mais pantanosos do domínio da sintaxe!

Há alguns critérios sintácticos que nos permitem identificar o sujeito e o predicativo do sujeito de uma frase.

Para a função de sujeito, temos a concordância com a flexão verbal e o teste da pronominalização nominativa.

Uma vez que em alguns casos é o predicativo que concorda com o verbo (ex.: «A vida não são rosas»), resta-nos o teste da pronominalização:

(1) «Ele foi o poeta da cidade.»

(2) «O poeta da cidade foi ele.»

(3) ?? «Cesário Verde foi ele.»

Os exemplos (1) e (2) provam que «Cesário Verde» é sempre o sujeito da frase, qualquer que seja a sua posição na frase — pré ou pós-verbal.

A frase 3 é gramatical apenas do ponto de vista pragmático, quando em situação de comunicação fazemos referência a alguém. Porém, do ponto de vista sintáctico, a frase não é gramatical, pois o pronome pessoal ele não substitui a expressão nominal «o poeta da cidade».

Para a identificação do predicativo do sujeito, a Gramática da Língua Portuguesa (Editorial Caminho, 2003) propõe o seguinte critério sintáctico:

Substituição do predicativo pelo pronome demonstrativo invariável -o. O predicativo do sujeito é a expressão que puder ser substituída por esse pronome.

(4) «A vida não são rosas, e o casamento também não o é.»

A expressão nominal «rosas» é, efectivam...