Pedro Mateus - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Pedro Mateus
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Pedro Mateus, licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa; mestrado em Literaturas Românicas, na área de especialização Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea pela mesma Faculdade.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Fui assaltado por uma dúvida ao olhar para um cartaz de divulgação de um ciclo de conferências. As mesmas destinavam-se a estudantes de um mestrado, e o título do ciclo era «Conferências Pós-Graduadas do Curso x». É esta forma correcta?

Muito obrigado.

Resposta:

Julgo que o caro consulente se referirá às «Conferências Pós-Graduadas – Mestrado de Gerontologia 2013», promovidas pela Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Portalegre (ESEP).

De facto, do ponto de vista semântico, e assim à primeira vista, a formulação proposta não parece ser a mais óbvia e esperada, ainda que imediatamente se deduza que se trate de «conferências de estudos pós-graduados».

O motivo da opção por tal formulação algo insólita naturalmente que apenas poderá ser explicitado pela organização das referidas conferências. Nesse sentido, contactei a pessoa responsável, na ESEP, pelas «Conferências Pós-Graduadas», contudo, até ao momento em que terminei de redigir este texto, não obtive qualquer resposta.

Pergunta:

«O Presidente da República recebeu, em audiência, o embaixador Manuel Gonçalves de Jesus, para entrega de cartas credenciais como representante diplomático de Portugal em Díli, Timor-Leste.»

Sei que se pode usar o termo credenciais para nos referirmos à carta apresentada por um embaixador ao chefe de Estado do país onde executará funções. No entanto, vejo frequentemente a utilização da expressão «cartas credenciais». Dado que se trata de um só documento, não faria mais sentido dizer-se só «carta credencial»?

Obrigado.

Resposta:

Os dicionários de referência consultados (portugueses e brasileiros) são unânimes em afirmar que o plural «cartas credenciais» é a forma mais usada no contexto das relações diplomáticas (ex., Dicionário Priberam; Aulete Digital). De facto, parece estar instituído que assim deverá ser, independentemente de se tratar de uma ou de várias cartas.

O mesmo acontece, por exemplo, na língua francesa, «lettres de créance» (Le Nouveau Petit Robert de la Langue Française), como se pode verificar, por exemplo, numa das páginas eletrónicas oficiais do governo francês: «(...) c’est cette lettre que l’on appelle "lettres de créance" (toujours au pluriel)» (1). Em francês, porém, o uso do plural cinge-se à palavra carta («lettre»), sendo que o segundo termo da expressão – credencial/credenciamento («crédence») – mantém a sua forma singular.

Saliente-se, contudo, que esta pluralização, pelo menos na língua portuguesa, não parece ser obrigatória, ainda que não seja muito comum encontrar ocorrências que, neste contexto específico, optem pelo singular «carta credencial».

(1) Tradução livre: «(...) é a este tipo de carta que se chama "cartas de credenciamento" (sempre no plural).»

Pergunta:

Quando se aconselha a escrita de obras em itálico ou aspas, assim como em títulos de livros, de pinturas, entre outros, fico com dúvidas quanto ao que se considera uma obra! Por exemplo: o monumento La Diligencia, em Montevidéu? ou ainda a Guitarra na Proa, em Lisboa? E se falarmos do Mosteiro dos Jerónimos? E no Edifício Castil na Rua Castilho em Lisboa? E a Ponte 25 de Abril? Se o livro de estilo que escolher me indicar que devo escrever o nome de obras em itálico, devo escrever todos estes nomes em itálico? Creio que não, mas não consigo encontrar a fronteira na definição de obra, será que me podem encaminhar nalgum sentido?

Agradeço muitíssimo a vossa atenção, são uma grande ajuda.

Resposta:

De acordo, por exemplo, com o «anexo B», do Código de Redação Interinstitucional da Comunidade Europeia, «usam-se carateres itálicos [...] nos títulos de obras literárias, jornais, revistas e outras publicações similares desde que seja citado o seu nome completo [...]; em títulos de produções artísticas e obras de arte em geral (filmes, quadros, peças musicais, pinturas, esculturas, etc.), ex.: O Conde de Monte Cristo/A Guernica, de Picasso/a ópera Aida/David, de Miguel Ângelo [...]». Ora, tendo em conta estas indicações, assim como a amplitude e subjetividade do conceito de obra de arte (que não vamos aqui, como é evidente, escalpelizar), será aceitável recorrer a caracteres itálicos nos títulos elencados pela consulente.

Observe-se, contudo, que aos edifícios não se atribuem títulos, mas, sim, nomes¹, e, em relação a estes, a prática generalizada é usá-los sem itálico nem aspas, mesmo que tenham: Convento de Cristo, Palácio Nacional da Ajuda, Mosteiro da Batalha (cf. Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico – IGESPAR).

 ¹ Um título pode ser encarado como um subtipo de nome ou denominação, de acordo com a definição do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa: «Denominação de um livro, capítulo, jornal, artigo... que indica, geralmente, a matéria tratada» (ver também Dicionário Houaiss).

Pergunta:

Creio que o termo "suicidalidade" não existe em português, mas existe na língua inglesa (suicidality). Que termo sinónimo podemos utilizar para designar os comportamentos associados ao suicídio?

Resposta:

Não encontro a palavra "suicidalidade" em nenhum dos instrumentos linguísticos de referência consultados.

Reparo, porém, que este é um termo bastante utilizado, sobretudo em trabalhos académicos realizados no âmbito da área da psicologia.

Num trabalho de mestrado, desenvolvido sob a orientação de docentes do Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA), da autoria de Patrícia Alexandra Casaca Rodrigues, e intitulado justamente Homofobia Internalizada e Suicidalidade em Jovens LGB e não LGB, por exemplo, precisa-se que o mesmo «teve como objectivo avaliar os níveis de homofobia internalizada e ideação suicida em adolescentes lésbicas, gays, bissexuais (LGB) e heterossexuais». Por outro lado, se atentarmos igualmente no resumo do referido ensaio, que surge no sítio oficial do ISPA, reparamos que uma das «palavras-chave» apresentadas é exatamente «ideação suicida».

Deste modo, julgo que a expressão «ideação suicida» (sugerida, aliás, para este preciso contexto, por exemplo, pelo Dicionário Priberam) funcionará como uma boa opção para a tradução da palavra inglesa suicidality, que, de acordo com o Oxford English Dictionary, significa «the quality or condition of being suicidal» (1). Repare-se, assim, no evidente grau de enquadramento do vocábulo português ide...

Pergunta:

Qual a diferença entre tabela e quadro, e entre figura e ilustração?

Resposta:

Figura e ilustração são apresentadas como sinónimos em todos os dicionários de referência consultados, ex.: «Figura: imagem, ilustração, figuração» (Dicionário Houaiss).

Por outro lado, se atentarmos, por exemplo, nas definições de tabela e de quadro propostas pela Infopédia ou pelo Dicionário Houaiss, aparentemente, também não existirão diferenças substanciais entre estes dois conceitos.

Contudo, no sítio oficial da Biblioteca da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), por exemplo, é referido, de forma muito clara, que existem diferenças de formatação entre ambos:

«A tabela apresenta os seguintes elementos: título, cabeçalho, conteúdo, fonte e, se necessário, nota(s) explicativa(s) (geral e/ou específica). É dividida por linhas na horizontal, porém as bordas laterais não podem ser fechadas. Já o quadro, embora siga especificações semelhantes (título, fonte, legenda, notas e outras informações necessárias), terá suas  laterais  fechadas.» Estas são, efetivamente, as regras delimitadas pelas «Normas de apresentação tabular», definidas e publicadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Em Portugal, no entanto, não parece existir (pelo menos, oficialmente) este preciosismo formal. Nas apresentações constantes do