Já antes, a leitura do semanário Expresso me havia chamado a atenção para o uso da palavra bloguer:
«Ouvimos um painel de especialistas internacionais e de blogueres nacionais […]» (Revista Única, de 25 de Junho de 2011, p. 56).
Uma semana depois, o o caso repetiu-se, agora no singular:
«Palavras só comparadas com a violência usada pelo bloguer para falar de Sócrates» (Primeiro Caderno, de 2 de Julho de 2011, p. 11).
É bem certo que o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, até teve o cuidado, quando dicionarizou blogue, de criar a família expectável: blogosfera, ou seja, o conjunto dos blogues, o seu autor, o bloguista (português europeu) ou blogueiro (português do Brasil), e ainda bloguístico, ou seja, aquilo que é relativo a um blogue. Só faltou mesmo, e bem necessário era, o verbo blogar. Mas nestas coisas dos neologismos, os prognósticos são sempre difíceis, pois dependem mais dos falantes e escreventes do que do voluntarismo de linguistas e dicionaristas. O blogue vingou. A blogosfera vingou. O bloguista e o blogueiro, construídos a régua e esquadro no estrito respeito pelas características morfológicas do português, através da aposição a blogue dos sufixos -ista e -eiro, não vingaram no uso europeu. Falantes e escreventes deram sempre primazia ao blogger(s), do inglês. Daí ao bloguer(es) (660 000 ocorrências em português no Google) foi um passo agora dado pelo Expresso. Como em todas as famílias de palavras, há termos que nascem e outros que morrem. Atrevendo-me a prognosticar, a tríade blogosfera/blogue/bloguer parece-me que estará para ficar. E o verbo blogar (834 000 ocorrências em português no Google) será uma inevitabilidade. Irão cair, por desuso, os termos bloguista e blogueiro.
O que se poderá discutir aqui é se, sabendo que os empréstimos ingleses sufixados com -er costumam dar origem a aportuguesamentos acentuados na penúltima sílaba (palavras graves), com e aberto na sílaba final átona — como são os casos de líder (de leader), de repórter (de reporter), e de revólver (de revolver) —, bloguer(es) é ou não o aportuguesamento mais correcto de blogger. Pois o que parece estar a acontecer é, não a criação de blóguer(es), mas a prevalência da forma bloguer(es) (palavra aguda), rimando com chofer e chanceler.
* Com a colaboração de Carlos Rocha.