Artigo de Maria Regina Rocha publicado no Diário do Alentejo, na coluna "A vez ao… português", de 31 de Outubro de 2008, à volta de quatro palavras da área vocabular da Igreja Católica.
Licenciada em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa; mestrado em Ciências da Educação, pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e doutoranda na mesma; professora na Escola Secundária José Falcão, em Coimbra; larga experiência pedagógica no ensino politécnico (Escola Superior de Educação de Coimbra) onde lecionou várias disciplinas na área da Língua Portuguesa. Autora (ou em coautoria), entre outros livros, de Cuidado com a Língua!, Assim é que é falar! 201 perguntas, respostas e regras sobre o português falado e escrito, A Gramática – Português – 1.º Ciclo, A Gramática – Exercícios – 2.º ano, A Gramática – Exercícios – 3.º ano e A Gramática – Exercícios – 4. ano e Eu não dou erros!
Cf. 50 anos de carreira docente de Mª. Regina Rocha + 50 anos de docência de M.ª Regina Rocha assinalados pela Câmara Municipal de Coimbra + A linguagem e as expressões dos nomes de lugar + A elegância, a deselegância ou a «falsa sensação de elegância» na linguagem
Artigo de Maria Regina Rocha publicado no Diário do Alentejo, na coluna "A vez ao… português", de 31 de Outubro de 2008, à volta de quatro palavras da área vocabular da Igreja Católica.
Em Ainda demais, advérbio, Maria Regina Rocha, baseando-se no que, um pouco laconicamente, Rebelo Gonçalves anota no seu Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, não levou em linha de conta o facto de o mesmo autor (cf. Vocabulário da Língua Portuguesa, p. 317) classificar demais como advérbio de modo e não de quantidade, função esta que é suprida pela locução adverbial de quantidade «de mais». É inequívoco, pois, que apenas se poderá escrever «Os portugueses gastam de mais».
Cordialmente,
É muito interessante este assunto, dado suscitar dúvidas de pessoas conhecedoras da língua.
Vou, então, convidar o consulente a seguir a minha reflexão, por meio da qual tentarei esclarecer a dúvida levantada a respeito da frase «Os portugueses gastam demais».
Quando referi Rebelo Gonçalves, em resposta ao consulente Carlos Fontoura, citei o Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, por ser uma obra do mesmo autor, mas mais recente do que o Vocabulário. Efectivamente, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (da Academia das Ciências de Lisboa, coordenação de Rebelo Gonçalves) foi publicado em 1940, antes da entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1945, enquanto o Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, da autoria de Rebelo Gonçalves, foi publicado em 1947, tendo em conta o referido acordo ortográfico. Ora, nesta obra, o grande filólogo já não restringe o valor do advérbio, apenas refere (pág. 248) que demais é «advérbio, conjunção, pronome e elemento de várias locuções». E, noutra obra na qual colaborou, o Vocabulário Ortográfico Resumido da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa, também de 1947, também se refere (pág. 132) que demais é «advérbio, conjunção e adjectivo ou pronome demonstrativo», fazendo também parte das locuções adverbiais «demais disso, ao demais». Em ambas as obras se indica «cf. a loc. adv. de mais, a que se opõe de menos».
Ou seja, considero que o que Rebelo Gonçalves postula finalmente é o que decorre do acordo de 1945: demais é um advérbio com diversas ac...
Há dias, ouvindo José Sócrates num comício do seu partido nos Açores, dou por ele a dizer: «Viva o PS, viva os Açores!». «“Viva” os Açores», ou, antes, «"Vivam" os Açores»?
A construção correcta é «Vivam os Açores!».
Em primeiro lugar, lembremos que o nome do arquipélago, ou da região autónoma, é um plural – Os Açores –, levando o verbo para a 3.ª pessoa do plural. Por exemplo: «Os Açores integram a União Europeia com o estatuto de região ultraperiférica do território da União, conforme estabelecido no artigo 299.º-2 do Tratado da União Europeia.»
Quando à expressão «Viva!», ela não é mais do que uma forma do verbo viver, devendo, pois, concordar com o sujeito. A exemplo da expressão «Morra!», do verbo «morrer» («Morram os traidores!»), «Viva!» deverá seguir a regra geral da concordância verbal: «Viva a rainha!», «Vivam os príncipes!», «Vivam os republicanos!», «Vivam os monárquicos!», «Vivamos nós!».
É muito interessante a frase «Lépido, filhote de Valente, um indômito de quatro anos, estava ontem deitado no pasto, sem sela, relinchando, quando foi laçado.», pois não é totalmente pacífica a análise dos termos «deitado no pasto», «sem sela» e «relinchando».
Observemos a frase.
Gostaria de conhecer a origem e/ou motivo da expressão «dor de cotovelo» para exprimir a ideia de ciúme, inveja.
«Ter dor de cotovelo» significa ter inveja. Quando se bate com o cotovelo em algo, a dor é muito forte, pois está saliente a articulação do húmero com o cúbito. A dor de cotovelo é, portanto, muito forte, tal como o sentimento de inveja, que provoca insatisfação em que o experimenta.
Esta expressão está relacionada com o verbo acotovelar ou a expressão «dar uma cotovelada», que significam dar pancada ou empurrar com o cotovelo. Uma cotovelada também era um sinal que se dava para chamar a atenção de alguém sobre alguma coisa que se pretendia censurar ou ridicularizar: tocava-se com o cotovelo noutra pessoa para ela reparar nisso. Essa censura por vezes resultava de inveja. Se a pessoa dá muitas cotoveladas por muitas situações dessas, é natural que lhe doa o cotovelo.
Acotovelar-se significa bater com os cotovelos uns nos outros em virtude de aperto ou de aglomeração, tentando cada um sair-se melhor do que o outro.
Destes significados, resulta a expressão «dor de cotovelo», com o significado acima referido.
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