Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Queria uma explicação sobre o que são variações fonéticas, morfológicas, sintáticas e morfossintáticas. E a diferença destes mesmos níveis enquanto oposição.

Obrigado.

Resposta:

A variação é um fenómeno característico das línguas. A língua está sujeita à ocorrência de formas diferentes consoante a época, o lugar, o grupo social ou o contexto situacional.

Essas variações podem ser de natureza fonética, morfológica, sintáctica ou outra. As formas diferentes utilizadas para designar a mesma realidade estão em oposição. Existe uma relação de oposição entre dois fonemas ou duas palavras usadas em alternativa num local ou noutro, por uma pessoa ou outra, etc.

Existe variação fonética quando a mesma palavra é pronunciada de forma diferente, por exemplo, quando os falantes de uma região pronunciam /baca/ por vaca, trocando o fonema /v/ por /b/. Nesta variação, o fonema /b/ está em oposição ao fonema /v/. Como é sabido, a pronúncia das palavras no Brasil é diferente da das mesmas palavras em Portugal, o que constitui uma variação de natureza fonética (por exemplo, qual pronuncia-se no Brasil /quau/).

Existe variação morfológica quando varia a forma de uma palavra ou o seu género ou a sua flexão, etc. Por exemplo, no plural, as palavras aldeão e Verão têm as formas aldeãos e verãos em oposição a aldeões e Verões. A marca do plural em -ãos está em oposição à marca em -ões.

Existe variação sintáctica quando varia a construção frásica ou a regência de um verbo ou a concordância, etc. Por exemplo, a construção estou a pensar é substituída no Brasil por estou pensando. Um outro exemplo é o do emprego dos pronomes: em Portugal, numa oração absoluta afirmativa o pronome...

Pergunta:

O que são conetivos lógicos?

Resposta:

Transcrevo a definição de conector lógico (ingl., logical connective; fr., connecteur logique) dada pelo Dicionário de Termos Linguísticos da Associação Portuguesa de Linguística:

«Símbolo com um valor fixo que se combina com variáveis proposicionais num cálculo lógico, para formar fórmulas válidas (ou bem formadas). Os conectores lógicos do cálculo proposicional são ‘~’ (negação), ‘&’ (conjunção), ‘V’ (disjunção), ‘↔’ (bicondicional). Exemplos: (P V Q), ~P, ~(P & Q) são expressões (ou fórmulas) bem formadas do cálculo proposicional. Estes conectores fazem parte do vocabulário de outros sistemas lógicos. Note-se que ‘~’ é um operador unário, diferentemente dos outros.»

Pergunta:

Um dos nossos sufixos diminutivos é o -ete. Pelo menos no português do Brasil, o seu primeiro e é pronunciado com timbre fechado em palavras mais antigas, como sabonete, sorvete, joguete, estilete, tapete, e com timbre aberto em palavras mais novas, como disquete, carpete, diabete(s). Estas são as pronúncias que, efetivamente, eu ouço no meu dia-a-dia.

Diante disso, pergunto-lhes: é correto, em português, pronunciar com timbre aberto o primeiro e do sobredito sufixo? Isto seria francesismo?

Muito obrigado.

Resposta:

A pronúncia das palavras tem, normalmente, uma causa etimológica, mas não exclusivamente.

Nos casos que refere, há palavras terminadas em -ete com o som e fechado e outras com ele aberto, não podendo uniformizar-se a pronúncia dessa terminação.

Quando o componente -ete é um sufixo, ou é sentido como tal, tem o som fechado, independentemente de, originariamente, esse som ser aberto ou fechado: beberete (de beber + sufixo -ete), joguete (de jogo + sufixo -ete), palacete (de palácio + sufixo -ete), toalhete (de toalha + sufixo -ete), diabrete (de “diabro”, forma antiga de diabo + sufixo -ete), mas também sabonete (do fr. ‘savonnette’) e estilete (do fr. ‘stylet’). A palavra tapete é originária do latim ‘tapetem’ (do gr. ‘tapes, tapetos’), e o seu som é fechado.

Noutros casos, essa terminação tem o som aberto: carpete (do fr. ‘carpette’, do ingl. ‘carpet’), disquete (do fr. ‘disquette’), diabetes (do lat. ‘diabetes, ae’, do gr. ‘diabetes, ou’). A palavra sorvete não tem uniformidade de pronúncia. É originária do fr. ‘sorbet’, do turco ‘xerbet’, do ár. ‘xurba’.

 

Pergunta:

Tenho procurado em vários dicionários de língua portuguesa se existe a entrada para o termo «violentação», busca essa que se verificou infrutífera.

Contudo verifiquei que existem entradas para «violentar»; «violentado», etc.

Será que a utilização do nome está errada?

Resposta:

Também não encontrei o termo violentação registado em dicionários e vocabulários. A palavra violência aparece com o significado de «acto de violentar», e é esta a palavra que designa a acção da família do verbo violentar, que significa «exercer violência contra». No entanto, considero que a palavra violentação tem razão de existir, pois pode designar uma realidade ligeiramente diferente da de violência e de violação.

Violação, acto de violar, usa-se com o significado de violar uma pessoa (no sentido de estupro), um cofre, uma promessa, um contrato, a lei. Violência designa a atitude de quem é violento ou uma acção violenta. Violentação usa-se no sentido de constrangimento ou coacção da vontade, do querer, do desejo, por exemplo.

Assim, o facto de esta palavra ter uma significação própria (diferente das de violação e de violência), de seguir as regras de formação das palavras portuguesas (verbo + sufixo –ção) e de ser efectivamente utilizada confer-lhe direito à existência.

Pergunta:

Gostaria de conhecer a vossa opinião sobre o aportuguesamento de «blog» em BLOGUE e de «blogesphere» em BLOGUESFERA (de blogue + (e)sfera).
Não devia ser assim? Porque é que se está insistindo na Internet e nos restantes "media" nacionais em «BLOGOSFERA» (de blogo + (e)sfera. Ainda se se tivesse adaptado por BLOGO o «blog» ...

Resposta:

Os neologismos são palavras novas criadas para designar novas realidades. A adaptação de estrangeirismos e a sua grafia no português é multideterminada. Assim, no que diz respeito à grafia portuguesa de “blog” (termo reduzido da associação “web”+”log”), tanto poderia ter vingado a forma blogue como blogo, pois qualquer delas respeita a estrutura normal da palavra portuguesa; mas foi blogue a escolhida, certamente pela óbvia semelhança com a pronúncia da palavra original. E é assim que se encontra já registada nos dicionários mais recentes.
Quanto a blogosfera, igualmente já dicionarizado, a formação desta palavra com o a ligar os dois termos que a compõem talvez tenha tido em conta as palavras da mesma família como atmosfera, estratosfera, oosfera, etc. ou a lembrança da remota herança grega: ‘logos’. Como se trata de termos novos, a competência científica de quem os tem introduzido e a frequência de utilização ditarão a sua grafia.