Pergunta:
Com respeito à pergunta do consulente Luís Graça, permito-me discordar da resposta emitida pelo Professor José Neves Henriques, por duas razões: a primeira: não cabe a quem lida com determinada palavra, por ser ela restrita a seu meio ou por tê-la criado, o atributo de decidir a regra gramatical que se deve seguir para a mesma palavra. Se assim o fosse, um médico não saberia nunca como escrever um termo novo próprio do vocabulário da Engenharia, por exemplo. As regras gramaticais existem para todos os que as usam e se aplicam igualmente a palavras em uso e a neologismos, principalmente a estes, uma vez que os 'novatos' é que mais se devem sujeitar às regras existentes, mesmo para que não surjam outras, o mais das vezes desnecessárias, que só irão criar confusão - precisamos de pensar também, e mais ainda, nos que ainda vão aprender o nosso idioma.
Quanto ao caso específico do 'não' seguido de adjetivo (aqui, minha segunda razão de discordância) e na forma dos exemplos dados pelo consulente, creio que se deva considerá-lo um advérbio a modificar o termo que se lhe segue (sem necessidade, portanto, de hífen).
Assim, escrevemos:
pessoal docente, pessoal não docente
radiação ionizante, radiação não ionizante
critérios estabelecidos, critérios não estabelecidos
circunstância atenuante, circunstância não atenuante, etc.
No caso - não citado pelo consulente, mas existente - do 'não' seguido de substantivo, emprega-se o hífen, pois se trata de autêntico prefixo:
não-ordenamento, não-realização, não-violência, etc.
Em não havendo um substantivo expresso que modificar, deve-se ter apenas o cuidado de verificar se se trata de uma expressão que exija ou não o hífen.
Vejam-se o seguintes ex...
Resposta:
Estou muito grato a Fernando Bueno pelas achegas que me dá sobre a grafia não-ionizantes/não ionizantes.
Para nós, não há estudo tão vasto como o da nossa língua, porque ela não tem fronteiras de assuntos, ao contrário do que se dá com os outros saberes. Ela entra em tudo, até no que não existe, porque também falamos daquilo que não existe. Por isso mesmo, quem estuda a nossa língua não raro tem necessidade de trocar impressões com os médicos, os engenheiros, os da informática, etc., porque é impossível abarcar os outros saberes; e até com os analfabetos, que às vezes têm linguagem mais correcta e mais expressiva do que a dos cultos.
Foi por tudo isto que não quis dar uma resposta decisiva ao consulente Luís Graça, uma vez que não estou dentro do assunto, mas indiquei-lhe o que me pareceu o melhor caminho para ele próprio descobrir a grafia preferível de não-ionizante/não ionizante, embora me parecesse devermos optar por não ionizante. Mas note-se que, desta grafia, pode-nos afastar o óptimo «Dicionário Aurélio», que menciona não-combatente, não-participante; e em dicionários de Portugal, não-beligerante. É esta a minha resposta ao comentário que faz às minhas palavras a Luís Graça, quando afirma: «não cabe a quem lida com determinada palavra (...) o atributo de decidir a regra gramatical que se deve seguir para a mesma palavra».
Depois continua a comentar o que escrevi, dizendo:
«Quanto ao caso específico do «não» seguido de adjectivo (aqui, minha segunda razão de discordância) e na forma dos exemplos dados pelo consulente, creio que se deva considerá-lo um advérbio o termo que se lhe segue (sem necessidade, portanto, de hífen)».
A isto respondo: