Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora
O português em África
Entrevista do Ciberdúvidas a três professoras universitárias nos PALOP

No sentido de tentar perceber melhor a realidade atual do português em diferentes países africanos, o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa apresenta um conjunto de reflexões sobre o português e o seu ensino em alguns países africanos de língua oficial portuguesa. Neste contexto, o Ciberdúvidas entrevistou Eunice Marta, docente no Instituto Piaget de BenguelaGoreti Freire, professora na Universidade de Cabo Verde, e Marta Sitoe, docente e investigadora da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique), sobre a situação linguística e o funcionamento do ensino do português em Angola, Cabo Verde e Moçambique.

Pergunta:

Do ponto de vista gramatical, é possível substituir verbos no condicional com os mesmos verbos, mas no futuro do pretérito composto, sem modificar o sentido da frase?

Por exemplo, queria saber se as frases seguintes são usadas com os mesmos significados.

1) Aonde é que ele iria? = 2) Aonde é que ele teria ido?

Muito obrigado.

Resposta:

A frase (1) apresentada pelo consulente tem o verbo no condicional simples (segundo a terminologia portuguesa) ou futuro do pretérito (segundo a terminologia brasileira), ao passo que na frase (2) o verbo está no condicional composto (segundo a terminologia portuguesa) ou futuro composto (segundo a terminologia brasileira). Estes não permutam, ou seja, não são sinónimos. Repare-se que as frases (1) e (2) quando integradas no discurso indireto apresentam valores diferentes:

(1) Ele perguntou onde é que ele iria.

(2) Ela perguntou aonde é que ele teria ido.

Em (1), iria refere um estado de desconhecimento sobre um evento simultâneo ao momento da pergunta. Já em (2), «teria ido», o desconhecimento é relativo a um evento ocorrido antes do momento da pergunta.

O condicional simples pode ter um valor temporal de “Futuro do Passado”, ou seja, localizando uma situação no passado, mas que ocorreu num tempo posterior a outra situação também passada, como exemplificado em (3). Este uso do condicional, tal como assinala Fátima Oliveira em Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian), é pouco usual na fala e escrita correntes.

(3) Depois da batalha, aquele cavaleiro seria proclamado herói.

O condicional simples pode também ocorrer em situações cujo pretérito imperfeito (P.I.) do indicativo também é possível, isto é, pode em certos contextos ser substituído pelo P. I. do indicativo. Neste sentido, o condicional simples pode ser usado para exprimir situações cuja realização está dependente de uma condição, como em ...

A expressão <i>«Nem que a vaca tussa»</i>
Expressões idiomáticas associadas a «nunca mais»

A utilização da expressão «nem que a vaca tussa» por um dos bailarinos da cantora  norte americana Taylor Swift durante um dos espetáculos que esta deu em Lisboa, motivou este apontamento da consultora Inês Gama

Particípios duplos
O caso do verbo limpar

Apontamento gramatical da consultora Inês Gama sobre o particípio do verbo limpar.

Pergunta:

Na frase «Na base da descoberta científica está um artigo de 1952», o constituinte «um artigo de 1952» é predicativo do sujeito, é complemento direto ou é sujeito? Há alguma circunstância em que o verbo estar possa reger constituintes que não cumpram a função de predicativo do sujeito?

Agradeço a ajuda.

Resposta:

Na frase «Na base da descoberta científica está um artigo de 1952», o constituinte «um artigo de 1952» tem a função sintática de sujeito.

O sujeito é, de acordo com o Dicionário Terminológico, o elemento que controla a concordância verbal. Neste sentido, uma forma de testar se um constituinte desempenha a função sintática de sujeito é colocá-lo ou no plural ou no singular e verificar se o verbo também acompanha essa mudança em número de modo que a frase continue gramatical. Colocando, à vez, os constituintes «Na base da descoberta científica» e «um artigo de 1952» no plural verifica-se que enquanto (1) é agramatical, (2) é gramatical.

(1)    «*Nas bases das descobertas científicas estão um artigo de 1952.»

(2)    «Na base da descoberta científica estão uns artigos de 1952.»

Note-se ainda que, embora...