Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.
Na frase seguinte, podia esclarecer como o louca vem antes do substantivo «a tua mulher» e, ainda mais, como é que pode justificar o uso do da entre a louca e «tua mulher»? Parece-me que a versão mais clara seria «a tua mulher louca», não é?
«Nunca se sabe quando vais ter de safar a louca da tua mulher.»
Muito obrigado.
A palavra louco/(a) pode, segundo a grande maioria dos dicionários de língua portuguesa, pertencer a duas classes de palavras diferentes: nomes e adjetivos.
Na frase «Nunca se sabe quando vais ter de safar a louca da tua mulher», a palavra louca pertence à classe dos nomes e, por conseguinte, a expressão «da tua mulher» funciona como modificador do nome, uma vez que completa o sentido do nome louca. Regra geral, os modificadores e complementos do nome são, em português, introduzidos pela preposição de, por isso se coloca da (contração da preposição de como artigo feminino a) entre o nome louca e a expressão «tua mulher».
Já na frase «Nunca se sabe quando vais ter de safar a tua mulher louca», a palavra louca funciona como um adjetivo, tendo a função de caracterizar aquela mulher específica como louca. Neste caso, a ocorrência do adjetivo louca é à direta do nome mulher, lugar tipicamente ocupado pelos adjetivos em português.
Note-se, contudo, que «a louca da tua mulher» e «a tua mulher louca» têm certa equivalência semântica, isto é, segundo Celso Cunha e Lindley Cintra, em Nova Gramática do Português Contemporâneo, trata-se de um «recurso expressivo, generalizado nas línguas românicas» e «é a caracterização de um substantivo por meio de um nome (substantivo ou adjetivo) anteposto,
Ando a aprender português há dois anos e meio e, hoje, não consegui encontrar na Internet a resposta à minha dúvida. Como todos os estudantes de português aprendem, há duas cores (laranja / «cor de laranja», e rosa / «cor-de-rosa») que não variam em género nem em número, porque as palavras laranja e rosa são substantivos. Hoje comecei a pensar na cor alaranjada que podemos chamar da cor coral. Pelo que entendi, também é possível dizer tanto coral, como «cor de coral» («uma saia coral» / «uma saia cor de coral» ou «um batom coral» / «um batom cor de coral»).
Na Infopédia encontrei a forma plural deste adjetivo – corais. Além disso, encontrei vários exemplos na Internet com expressões como «batons corais», «flores corais», etc. No entanto, o ChatGPT afirma que o adjetivo coral é invariável, porque vem do respetivo substantivo.
Então, a minha pergunta é: qual forma do plural está correta: "coral" ou "corais"? Por exemplo:
1) umas saias coral / umas saias corais / umas saias cor de coral
2) uns batons coral / uns batons corais / uns batons cor de coral
Agradeço antecipadamente a vossa resposta! Este site é tesouro para quem quer aprender a falar melhor português!
Antes de mais, agradecemos as suas gentis palavras.
A forma correta é «umas saias cor de coral» e «uns batons cor de coral».
O adjetivo «cor de coral» é um composto, isto é, resulta da associação das palavras cor e coral. Segundo Rita Veloso e Eduardo Paiva Raposo, na Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian), «os adjetivos compostos não flexionam em género e número, a menos que o último elemento do composto seja um adjetivo» (pág. 1376). Neste caso, como coral é um nome comum, a sua forma mantém-se «cor de coral» tanto com nomes singulares como plurais. Portanto, do ponto de vista normativo, o correto será «Ela comprou uns brincos cor de coral».
Do ponto de vista dos usos, pesquisas no Corpus do português, organizado por Mark Davies, apenas apresentam resultados para a palavra «cor de coral», o que indica que «cor de corais» se trata de uma utilização marginal e sem grande expressão mesmo entre usos menos formais.
Quanto ao uso da palavra coral como adjetivo, esta usa-se para referir algo «relativo aos coros» (Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa), ou seja, utiliza-se maioritariamente no âmbito da música. Neste caso, como apenas se usa o termo coral, estamos perante um adjetivo morfologicamente simples e, por isso, flexion...
Perguntava se o advérbio especificamente pode ser usado na frase «Ele nasceu no Bairro Alto, especificamente em Lisboa.»
Cumprimentos.
A utilização do advérbio especificamente na frase indicada pelo consulente é, do ponto de vista semântico, estranha e, portanto, pouco aceitável.
O advérbio especificamente é formado a partir do adjetivo específico, que, segundo o Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, deve ser utilizado com o sentido «que revela particularização, individualização; que é exclusivo, intrínseco». Ora, neste caso, a particularização está no nome Bairro Alto, o qual designa uma parte específica da cidade de Lisboa. Neste sentido, a utilização do advérbio seria compatível com uma frase como «Ele nasceu em Lisboa, especificamente no Bairro Alto».
Deste modo, Lisboa não pode ser referida como uma especificação de Bairro Alto, mas antes o contrário. Por esta razão, para que a frase indicada pelo consulente seja semanticamente aceitável, o advérbio especificamente não pode ocorrer, devendo ter a frase a seguinte forma: «Ele nasceu no Bairro Alto, em Lisboa».
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