Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Queria escrever o termo "peixe balão" num trabalho, mas não sei ao certo se este vocábulo leva ou não um hífen a separar os vocábulos peixe e balão, porque, por aquilo que encontrei na Net, vi que podem ser escritos das duas maneiras. No entanto, por uma questão de fidelidade ao português, resolvi escrever-vos para tirar a minha dúvida. Em resumo, será correcto escrever-se "peixe balão", ou, ao invés, "peixe-balão"?

Obrigado.

Resposta:

A exemplo de outros compostos que designam espécies zoológicas, como peixe-agulha, peixe-aranha, peixe-galo, cobra-capelo, leão-marinho, a grafia correcta dessa palavra é peixe-balão, tal como está previsto na Base XV do Acordo Ortográfico de 1990 — « Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde; bênção-de-deus, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inácio, bem-me-quer (nome de planta que também se dá à margarida e ao malmequer); andorinha-grande, cobra-capelo, formiga-branca; andorinha-do-mar, cobra-d'água, lesma-de-conchinha; bem-te-vi (nome de um pássaro)»

Trata-se, de qualquer modo, de um caso de uso de hífen (segundo o Acordo Ortográfico...

Pergunta:

No princípio de Agosto, levei meu marido ao Registo Civil para fazer o cartão do cidadão. Quando o mesmo chegou a casa, o seu nome constava como Manoel, e não Manuel, como consta em todos os outros documentos. Retornei ao Registo Civil, onde me foi dito que é por causa dos acordos ortográficos. Estou na dúvida: isto não configura alteração do nome?

Resposta:

O novo AO 90 (Acordo Ortográfico de 1990) não faz referência aos antropónimos (nomes de pessoas) portugueses, como é o caso de Manuel, razão pela qual se mantém a mesma ortografia.

Relativamente aos antropónimos, o AO 90 propõe algumas alterações somente para os de origem estrangeira, aconselhando o seu aportuguesamento, como se pode verificar no seguinte excerto «Os dígrafos finais de origem hebraica ch, ph e th podem conservar-se em formas onomásticas da tradição bíblica, como Baruch, Loth, Moloch, Ziph, ou então simplificar-se: Baruc, Lot, Moloc, Zif. Se qualquer um destes dígrafos, em formas do mesmo tipo, é invariavelmente mudo, elimina-se: José, Nazaré, em vez de Joseph, Nazareth; e se algum deles, por força do uso, permite adaptação, substitui-se, recebendo uma adição vocálica: Judite, em vez de Judith

Pergunta:

Parabéns pelo magnífico trabalho na defesa e promoção da língua portuguesa.

Estou a realizar um trabalho de investigação sobre o meu concelho e, hoje, no jazigo de um cemitério local, surgiu a palavra "prolanolário". Na lápide sepulcral estava escrito que o defunto, sepultado em 1925, tinha sido «prolanolário de Sua Santidade». Poderão esclarecer-me sobre o que significa esta palavra?

Resposta:

Apesar de se ter procurado em vários dicionários (dos mais antigos aos mais recentes) o termo "prolanolário", não encontrámos nenhum registo, do que inferimos que, talvez, se deva tratar de uma palavra específica da terminologia do domínio da religião, pois parece sugerir a ideia de um cargo ou de uma função ligada ao papa.

Pergunta:

Sendo as conjunções descritas muitas vezes como elementos que ligam orações, elas deverão ser inseridas nas mesmas ou ser consideradas elementos de ligação? Tomemos como exemplo a frase «O André chegou tarde porque esteve a conversar com o amigo». Nesta frase, a oração subordinada causal é «porque esteve a conversar com o amigo», ou «esteve a conversar com o amigo»? A minha dúvida surge do facto de, se a conjunção é um elemento de ligação, ela funcionar como uma espécie de ponte e nesse sentido não pertence a nenhuma das margens. Contudo, e penso que eu é que estarei errado, nas gramáticas elas aparecem sempre como parte integrante ou das orações coordenadas ou subordinadas. Nesse sentido, como explicar a contradição?

Desde já, o meu obrigado.

Resposta:

A oração subordinada causal é «porque chegou tarde», pois a conjunção porque faz parte dessa oração. Se tivermos em conta o Dicionário Terminológico, verificamos que conjunção é definida como «[o] que introduz uma oração subordinada completiva ou adverbial», lembrando que «as subclasses de conjunção subordinativa se estabelecem em função do tipo de oração que introduzem, sendo tradicionalmente listadas as conjunções subordinativas completivas, causais, finais, temporais, concessivas, condicionais, comparativas e consecutivas».

Cunha e Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 581) afirmam, também, que «as conjunções subordinativas [que se classificam em causais, concessivas, condicionais, finais, temporais, comparativas, consecutivas e integrantes] iniciam uma oração subordinada denotadora de causa» — as orações subordinadas [adverbiais] causais.

Assim como «as preposições e locuções prepositivas, juntamente com a categoria sintagmática que se lhes segue, um SN (sintagma nominal) ou uma frase, formam um sintagma preposicional (SP), ou, por outras palavras, o núcleo da categoria sintagmática SP é uma preposição ou uma locução prepositiva que tem a propriedade de seleccionar um complemento» (Mira Mateus et alli, Gramática da Língua Portuguesa, 6.ª ed., Lisboa, Caminho, 2003, p. 392), as conjunções formam juntamente com o SN e o SV uma oração. Como foi dito numa resposta anterior, «As orações subordinadas adverbiais correspondem a grupos adverbiais ou preposicionais que exprimem diferentes ideias — de tempo, de causa, de finalidade, de condição...

Pergunta:

Aplica-se a mesma regra de «O mais (...) possível» à seguinte frase — «tentar captar as melhores imagens possível de certas espécies», ou mantém-se o plural «melhores possíveis»?

Obrigada pelo esclarecimento.

Resposta:

De facto, e de acordo com as indicações de Cunha e Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 261), «o superlativo relativo denotador dos limites da possibilidade forma-se com a posposição da palavra possível ou uma expressão (ou oração) de sentido equivalente», como se pode verificar no exemplo que nos apresentam: «O arraial o mais monótono possível

Mas, como a frase que a consulente nos apresenta pressupõe a utilização do superlativo relativo do adjectivo bom, que, por sua vez, se enquadra nos casos dos «comparativos e superlativos anómalos [os adjectivos — bom, mau, grande e pequeno]» (idem, p. 262), porque «formam o comparativo e o superlativo de modo especial» (idem), isso implica que utilize a forma correcta prevista para esse caso: o superlativo relativo o melhor, que deve «assumir o género e o número  do substantivo» (idem, p. 252) ao qual se refere. Assim sendo, tendo em conta a correspondência de flexões, deverá ser usada a expressão «As melhores imagens».

Assim, o mais possível, como expressão adverbial, não pode ocorrer com o adjectivo bom, como mostra o seguinte exemplo (*o asterisco indica agramaticalidade):

i) *«As imagens o mais boas possível.»

Por isso, e tendo em conta o que nos diz o Guia do Uso do Português – Confrontando regras e usos (São Paulo, Editora UNESP, 2003), de Maria Helena Moura Neves, relativamente à concordância de possível