Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Há algum adjetivo relativo ao Tâmisa (rio da Inglaterra), aos seus ribeirinhos e às terras por ele banhadas?

Muito obrigado.

Resposta:

Em primeiro lugar, recorde-se que Tâmisa é forma usada em português do Brasil, enquanto Tamisa ocorre preferencialmente em português europeu. Quanto à questão do gentílico, não há registo, na bibliografia consultada1, de adjectivo português relativo ao rio Tamisa nem às terras por ele banhadas.

Na tentativa de se encontrar algum adjectivo formado a partir da origem da palavra, retirámos o seguinte: Tamisa, «rio de Inglaterra, o antigo Tamesis, deriva do francês Tamisa (adaptação do inglês Thames), donde também o it. Tamigi (Ariosto, Orlando Furioso, 8.º, 26; 10.º,73» (José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa). Mas estes dados não nos forneceram a solução.

Como Tamisa não corresponde propriamente a «nome do país, da região, do estado, da província, do condado, do município, da cidade, da povoação, ou afins, em que alguém nasceu, habita ou de onde procede» (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa), não se poderá, decerto, prever a existência de um adjectivo gentílico que se lhe refira. Sobre este assunto, aconselha-se a leitura da resposta sobre adjectivos e substantivos relativos do rio Meno, na Alemanha (ver Textos Relacionados).

1 Dicionário de Gentílicos e Topónimos (disponível no Portal da Língua Portuguesa); Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

Pergunta:

Como se pronuncia correctamente o nome de Amor, freguesia do concelho de Leiria? Oiço frequentemente, até em publicidade radiofónica, a pronúncia "Ámor", que não me parece correcta. Podem esclarecer-me?

Muito obrigado.

Resposta:

Segundo o Dicionário Etimológico Onomástico da Língua Portuguesa (2003), de José Pedro Machado, o nome Amor, como «topónimo. Leiria», surge com as seguintes indicações: «Amor (à … ô). Do lat. adamōre-, tornado Aamor, donde Amor com a aberto, mas átono.»

Portanto, a pronúncia correcta para esse topónimo implica a abertura do a inicial da palavra, tornando-a distinta da do substantivo amor, derivada de amōre-, termo este que designa um sentimento.

Pergunta:

Qual a forma correta e a diferença de sentido?

1) Pesquisas de intenção de voto;

2) Pesquisas de intenções de votos;

3) Pesquisas de intenção de votos.

Grato.

Resposta:

Qualquer uma das duas palavras — intenção e voto — tem a forma plural. Portanto, o uso do singular ou do plural estará relacionado com o contexto em que se enquadrar.

Por exemplo, se nos referirmos ao tema das pesquisas, parece-nos que a forma singular é a adequada: «As pesquisas de intenção de voto». No entanto, se quisermos designar situações específicas em que se quer indicar a realização de inquéritos a várias pessoas sobre as probabilidades da sua votação num determinado indivíduo ou numa lista, então, será caso de se utilizar a expressão «pesquisas de intenções de voto».

As gramáticas consultadas não abordam o plural desse tipo de estruturas, que não são tratadas como unidades lexicais, mas, se tivermos em conta as expressões «direito de voto», «livro(s) de leitura», «livro(s) de estudo», aconselha-se a forma singular para a palavra voto.

Pergunta:

Em primeiro, quero parabenizar o serviço que prestam através deste site. É, sem dúvida, muito útil.

Gostaria de colocar a seguinte questão: na frase «Aquele homem é um ricaço», em que grau é que se encontra o adjectivo ricaço? Na minha óptica, ricaço corresponderá a «muito rico» e, portanto, poder-se-á considerar no grau superlativo absoluto analítico. No entanto, após uma consulta na Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Lindley Cintra e Celso Cunha, pude constatar que este grau (superlativo absoluto analítico) não é referido e, pelos exemplos que aponta, fiquei com a impressão que ricaço, na frase que indiquei, poderá ser considerado grau superlativo absoluto sintético.

Na esperança de ser brevemente elucidado, despeço-me reiterando os meus respeitosos cumprimentos.

Resposta:

Em nome da equipa do Ciberdúvidas, agradeço as palavras de apreço que nos dirige, esperando podermos corresponder às vossas expectativas.

Em relação à questão que nos apresenta, ricaço é o grau aumentativo do substantivo rico. Repare-se na frase em que ocorre: «Aquele homem é um ricaço», estando ricaço precedido de um artigo/determinante indefinido («um»).

De facto, a palavra rico pode ser um substantivo ou um adjectivo. Se ocorrer numa frase como «O rico e o pobre nunca se dão», tanto rico como pobre são substantivos.

Pode parecer estranha esta última designação, uma vez que rico, na grande maioria das situações, é um adjectivo. Seria o caso de frases como: «Aquele homem rico é fanfarrão» ou «Ele é um homem rico». Nestes casos, o grau superlativo absoluto sintético desses adjectivos seria riquíssimo.

Mas a gradação não é algo restrito aos adjectivos, pois enquanto estes prevêem a flexão de grau em normal, comparativo (de igualdade, de superioridade e de inferioridade) e superlativo (absoluto – sintético e analítico – e o relativo – de superioridade e de inferioridade), pois «a Nomenclatura Gramatical Portuguesa admite, também, a existência de três graus para o substantivo: o normal, o aumentativo e o diminutivo» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 200).

Ora, o grau aumentativo imprime ao substantivo «uma significação exagerada, ou intensificada disforme ou desprezivelmente» (idem, p. 199), pois «os sufixos aumentativos  [- ão, -<...

Pergunta:

Será correcto dizer em português «os nossos efeitos pessoais» no sentido de objectos, pertences. Agradeço desde já a resposta à minha dúvida e aproveito para deixar os meus parabéns pelo vosso trabalho!

Resposta:

Em nome da equipa do Ciberdúvidas, agradeço as palavras de apreço que nos dirigiu, esperando continuar a corresponder às expectativas dos nossos consulentes.

Após a consulta de vários dicionários1, apercebemo-nos de que a palavra efeito (do latim effectu-, «efeito; sucesso»), tanto no singular como na forma plural, não abrange o sentido de «objecto», de «pertences», de «bens» ou «coisas» materiais.

Associado, sobretudo, à ideia de «consequência», o valor de efeito inclui uma vasta gama de realidades: 1. «resultado produzido por uma causa»; 2. «realização concreta; concretização; execução»; 3. «intenção; intuito»; 4. «objectivo; finalidade»; 5. «aplicação (da lei, medida, etc.) com resultado prático»; 6. «eficácia; eficiência»; 7. «impressão; sensação»; 8. «prejuízo», sem se entrar nos domínios específicos da física, da economia, do cinema e da televisão («efeitos especiais») nem da farmácia («efeitos secundários).

Numa pesquisa Google encontra-se a locução «efeitos pessoais» enquanto sinónimo de consequências de um contrato que pode incidir sobre bens.

Por sua vez, «efeitos comerciais», «efeitos públicos» e «circulação de efeitos» são referidas como expressões do âmbito das finanças para designar, respectivamente, «valor; letra; livrança, títulos… representativos de um crédito a curto prazo», «títulos e valores emitidos e garantidos pelo Estado, departamentos ou estabelecimentos estatais e cotados na bolsa» e «valores negociáveis, nomeadamente, letras, promissórias, cheques».

Deve, decerto, ter sido o facto de a palavra efeito representar a ideia de «resultado» ou de «concretização» que levou ...