DÚVIDAS

O grau de ricaço

Em primeiro, quero parabenizar o serviço que prestam através deste site. É, sem dúvida, muito útil.

Gostaria de colocar a seguinte questão: na frase «Aquele homem é um ricaço», em que grau é que se encontra o adjectivo ricaço? Na minha óptica, ricaço corresponderá a «muito rico» e, portanto, poder-se-á considerar no grau superlativo absoluto analítico. No entanto, após uma consulta na Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Lindley Cintra e Celso Cunha, pude constatar que este grau (superlativo absoluto analítico) não é referido e, pelos exemplos que aponta, fiquei com a impressão que ricaço, na frase que indiquei, poderá ser considerado grau superlativo absoluto sintético.

Na esperança de ser brevemente elucidado, despeço-me reiterando os meus respeitosos cumprimentos.

Resposta

Em nome da equipa do Ciberdúvidas, agradeço as palavras de apreço que nos dirige, esperando podermos corresponder às vossas expectativas.

Em relação à questão que nos apresenta, ricaço é o grau aumentativo do substantivo rico. Repare-se na frase em que ocorre: «Aquele homem é um ricaço», estando ricaço precedido de um artigo/determinante indefinido («um»).

De facto, a palavra rico pode ser um substantivo ou um adjectivo. Se ocorrer numa frase como «O rico e o pobre nunca se dão», tanto rico como pobre são substantivos.

Pode parecer estranha esta última designação, uma vez que rico, na grande maioria das situações, é um adjectivo. Seria o caso de frases como: «Aquele homem rico é fanfarrão» ou «Ele é um homem rico». Nestes casos, o grau superlativo absoluto sintético desses adjectivos seria riquíssimo.

Mas a gradação não é algo restrito aos adjectivos, pois enquanto estes prevêem a flexão de grau em normal, comparativo (de igualdade, de superioridade e de inferioridade) e superlativo (absoluto – sintético e analítico – e o relativo – de superioridade e de inferioridade), pois «a Nomenclatura Gramatical Portuguesa admite, também, a existência de três graus para o substantivo: o normal, o aumentativo e o diminutivo» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 200).

Ora, o grau aumentativo imprime ao substantivo «uma significação exagerada, ou intensificada disforme ou desprezivelmente» (idem, p. 199), pois «os sufixos aumentativos  [- ão, - ona, - arra, -orra, -aço, -az] de regra emprestam ao nome as ideias de desproporção, de disformidade, de brutalidade, de grosseria ou de coisa desprezível, [razão pela qual] ressalta, na maioria dos aumentativos, esse valor depreciativo ou pejorativo» (idem). São os casos de aumentativos como bocarra, solteirona, narigão, porcalhão, beiçorra, atrevidaço, mulheraça.

Na realidade, pode parecer bizarro o facto de um aumentativo ter um valor negativo, mas, quando se identifica alguém como «um/o ricaço», sobressai uma imagem não valorizada da pessoa em questão. Muito pelo contrário…

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