Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Estou a tentar ensinar o meu filho e não encontro o grau aumentativo de rapariga.

Resposta:

Raparigaça é a forma mais reconhecida como aumentativo do nome/substantivo rapariga, forma sintética esta que se obteve a partir do emprego do sufixo aumentativo -aça ao nome comum, conferindo-lhe uma significação exagerada ou intensificada, o que pode traduzir imagens positivas (de pessoa de caráter forte) ou negativas [«de desproporção, de disformidade, de brutalidade, de grosseria ou de coisa desprezível» (Cunha e Cintra, Nova Gramática de Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 199)]».

Repare-se que esta não é a única forma de aumentativo de rapariga, pois não nos podemos esquecer de que a formação do grau aumentativo pode ser feita por dois processos:
a) sinteticamente, mediante o emprego dos sufixos aumentativos usados em português:

   — formas masculinas -ão (caldeirão, paredão), -aço (animalaço, ricaço), -ázio (copázio),  -alhão (vagalhão), -(z)arrão (homenzarrão, gatarrão, canzarrão), -anzil (corpanzil), -aréu (fogaréu), -astro (medicastro), -az (lobaz), -alhaz (facalhaz), -arraz (patrarraz), -eirão (asneirão, caldeirão);

   — formas femininas: -ão (um mulherão), -aça (barbaça, barcaça, raprigaça), -arra (bocarra, naviarra), -ona (solteirona, chorona), -orra (cabeçorra), -uça (dentuça);

 b) analiticamente, acrescentando-se um adjetivo que indique aumento ou esteja relacionado com essas noções, tal como

Pergunta:

A regência de resposta pode ser: «resposta para tal pergunta», ou tem de ser necessariamente «resposta a tal pergunta»?

Resposta:

A forma correta implica o uso da preposição a (cf. Dicionário de Regimes de Substantivos e Adjetivos, de Francisco Fernandes), razão pela qual «resposta a tal pergunta» é a que deve ser usada.

Repare-se que o nome/substantivo segue a regência do verbo correspondente – responder –, tal como nos indica Celso Luft no seu Dicionário Prático de Regência Verbal (2003): «regência primária é responder a algo (pergunta, carta, etc.) com objeto direto indeterminado, numa estrutura plena suposta [alguém responde-algo-a uma pergunta, carta, etc.].»

Pergunta:

Como se faz a divisão silábica das palavras era e palácio?

Resposta:

Tal como já foi dito em respostas anteriores, para resolver dúvidas deste tipo, assim como sobre a translineação das palavras, basta utilizarmos dois recursos (em linha), da responsabilidade do ILTEC (Instituto de Linguística Teórica e Computacional), o Vocabulário Ortográfico do Português, e o Portal da Língua Portuguesa, recursos que nos fornecem outras informações sobre as palavras: singular-plural; masculino-feminino; indicação da sílaba tónica (sublinhada).

É, portanto, a partir desses recursos que se ilustra a resposta:

Era (nome/substantivo feminino ou 1.ª e 3.ª pessoas dos singular do pretérito imperfeito do indicativo do verbo ser) é formada por duas sílabas: era (sendo a 1.ª a sílaba tónica).

Palácio (nome/substantivo masculino) tem três sílabas: pa•lá•cio (a tónica é a 2.ª). Provém do latim palatĭum, «residência dos Césares; palácio».

 

Fonte: Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora (2010)

 

Pergunta:

Tenho uma dúvida: a palavra despersonalização é derivada por parassíntese, ou por prefixação e sufixação? Posso dizer personalização, mas não posso dizer “despersona”. Será que me podem esclarecer?

Resposta:

Embora, à primeira vista, possa parecer um caso de derivação parassintética ou parassíntese, a realidade é que não o é. Segundo o Dicionário Terminológico e a Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus et alii, a parassíntese, geralmente «descrita como um processo de prefixação e de sufixação simultâneas», destaca-se como caso especial de derivação por ser «particularmente frequente na formação de verbos deadjetivais (formados a partir de um adjetivo) ou denominais (formados a partir de um nome)» (Mira Mateus et alli, op. cit., p. 952).

Repare-se que este tipo especial de derivação ocorre em casos como os de enfraquecer, esbracejar, apadrinhar, ensonar, no qual a afixação de dois elementos é simultânea: en- + fraqu- + -ecer; es- + brac- + -ejar; a- + padrinh- + -ar; en- + son- + -ar.

Enfraquecer não deriva de "fraquecer" nem de "enfraco", assim como esbracejar não deriva de "bracejar" nem de "esbraço", do mesmo modo que o verbo apadrinhar não deriva de "padrinhar" nem de "apadrinho" e ensonar não resulta de "sonado" nem de "ensono". De facto, a sua base é, respetivamente, fraco, palavra à qual se juntam ao mesmo tempo en- e -ecer; braço, a q...

Pergunta:

Gostaria de saber se realmente o feminino de frango é franga, pois estou muito confusa, sempre tive franga com fêmea do frango.

Resposta:

De facto, a forma feminina de frango é franga.

Embora possa parecer uma palavra invulgar (ou estranha), porque pouco usual, o Portal da Língua Portuguesa e o Vocabulário Ortográfico do Português, da responsabilidade do ILTEC, fornecem-nos todos os dados sobre a flexão de frango:

Frango – nome masculino (fran-go)

Plural – frangos

Forma feminina: franga