Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Como se escreve dossier na língua portuguesa, é dossiê, dossier, ou não existe?

Resposta:

Dossiê é a palavra portuguesa (adaptada do francês dossier) registada, desde há algum tempo, pelos vários dicionários1, forma esta que está atestada pelo recente Vocabulário Ortográfico do Português, da responsabilidade do ILTEC (recurso disponível com a aplicação do novo Acordo Ortográfico), da seguinte forma:

dossiê – nome masculino – dos•si•ê

singular – dossiê

plural – dossiês

No entanto, este vocabulário ortográfico regista, também, o estrangeirismo dossier, sublinhando a atestação da forma portuguesa (adaptada) dossiê:

dossier – nome masculino – dos•sier

singular – dossier

plural – dossiers

estrangeirismo de francês – forma adaptada: dossiê

1O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa (2001), e o

Pergunta:

Como explicar aos alunos, exatamente, as diferenças e semelhanças entre estes dois conceitos, no âmbito do estudo do texto dramático: aparte e monólogo.

Resposta:

Monólogo e aparte são diferentes técnicas de representação discursiva que ocorrem sobretudo no texto dramático.

O monólogo caracteriza-se por constituir uma «técnica de desdobramento do eu que fala, levado muitas vezes a confrontar-se com os seus valores e as suas atitudes, em termos de oscilação dilemática ou em termos de pura justificação» (Biblos – Enciclopédia das Literaturas de Língua Portuguesa, da Verbo), razão pela qual as partes onde há monólogos são aquelas em que o ator/emissor se encontra sozinho em cena e, por isso, verbaliza o seu estado de espírito e a sua interioridade.

Verificam-se monólogos logo na cena I do ato I de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, em que Madalena reflete sobre os versos do episódio de Inês de Castro d´Os Lusíadas, relacionando-os com a sua própria realidade (escondida de todos), e na cena IX (em que Frei Jorge nos fala da angústia que o consome por ver a tensão que paira na família do irmão; assim como nas cenas que abrem os atos I e II de Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau Monteiro, em que Manuel sobressai no palco com o seu discurso marcado pela preocupação e pela consciência do peso da realidade política em que vivia.

Por sua vez, o aparte ocorre, geralmente, no meio de um diálogo, no interior da fala de uma das personagens, em que esta interrompe o seu discurso para fazer um comentário (dito num tom diferente, como se falasse para si próprio, ou também para o público, para o esclarecer com determinada opinião ou situação). É uma espécie de confidência q...

Pergunta:

Gostaria de saber se a expressão «encarregado de educação» tem aplicação no género feminino («encarregada de educação»), ou se deverá ser sempre utilizada na sua versão masculina.

Resposta:

A forma feminina é, de facto, «encarregada de educação».

Repare-se que o nome/substantivo masculino encarregado segue a regra geral para a formação do feminino, uma vez que se trata de um «substantivo terminado em -o átono, formando o feminino substituindo essa desinência por -a» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 192), o que se pode comprovar, também, através dos dados fornecidos pelos dois recursos disponíveis da responsabilidade do ILTEC, o Portal da Língua Portuguesa e o Vocabulário Ortográfico do Português:

Encarregado – nome masculino (en•car•re•ga•do)

Singular – encarregado

Plural – encaregados

Forma feminina: encarregada.

Pergunta:

Gostaria de saber como se deve fazer a divisão silábica da palavra coleccionador.

Resposta:

Uma vez que «a divisão silábica das palavras, quando haja necessidade de as mudar de linha, se faz pela soletração (Compêndio de Gramática Portuguesa, de José Nunes de Figueiredo e António Gomes Ferreira, 1965, p. 42), a palavra coleccionador divide-se em seis sílabas, «conservando-se na sílaba que a precede a consoante não seguida de vogal» (idem). Portanto, a divisão faz-se do seguindo modo: co-lec-ci-o-na-dor.

Repare-se que, com a ocorrência dos dois cc, não há qualquer dúvida de que cada um fica em sílabas distintas, porque é a própria norma que dita que «as consoantes iguais se separam obrigatoriamente» (idem, p. 43).

É de referir, também, que, segundo o novo Acordo Ortográfico, essa palavra de dupla consoante (cc) perde o primeiro c, uma vez que não é pronunciado (consoante muda). Por isso, consideramos oportuno que se faça igualmente a divisão silábica da palavra com esta nova grafia – colecionador. Tal como já foi dito em resposta anterior, para resolver dúvidas deste tipo, assim como sobre a translineação das palavras, basta utilizarmos dois recursos (em linha), da responsabilidade do ILTEC, o Vocabulário Ortográfico do Português, e o Portal da Língua Po...

Pergunta:

Tesouro pode ser nome colectivo?

Resposta:

Basta termos em conta a definição de nome coletivo e relacionarmos com o valor/significado da palavra tesouro, para verificarmos se este termo se enquadra nesse tipo de nomes comuns.

Relativamente às particularidades do nome coletivo, o Dicionário Terminológico explicita o seguinte:

«Nome que se aplica a um conjunto de objectos ou entidades do mesmo tipo (i). Há nomes colectivos contáveis, como os exemplificados em (i), e nomes colectivos não contáveis, que não aceitam plural, como os exemplificados em (ii). Os nomes colectivos têm, em alguns contextos, um comportamento semelhante a plurais, como na combinação com predicados colectivos (iii), mas distinguem-se de plurais. Exemplos:

(i) rebanho, alcateia, multidão

(ii) fauna, flora

(iii) A alcateia reuniu-se.»

Ora, se tesouro designa «grande porção de dinheiro, de jóias ou de objetos preciosos; amontoado oculto de dinheiro, jóias ou objetos preciosos de cujo dono não haja memória; conjunto de  recursos financeiros e objetos ou bens valiosos; conjunto de bens valorizados pela sua importância cultural» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 200), não há dúvida de que se trata de um nome coletivo, pois «remete para um dado conjunto (de jóias, de moedas, de notas, de pedras preciosas, de bens) que é uma parte plural encarada como um elemento» (Mira Mateus et alli, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2003, p. 234).