Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

«A criança obcecada por se tornar uma mulher», ou «Obcecada com a ideia de se tornar uma mulher»? (Esta está OK, certo?)

Obrigada.

Resposta:

O adjectivo obcecado é, mais frequentemente, seguido da preposição por, mas pode ocorrer com a proposição com.

Em relação ao uso da preposição, ambas as frases são possíveis, mas a segunda parece-me mais feliz pela introdução do vocábulo ideia.

Curiosamente, em ambas as frases parece haver alguma ambiguidade, pois não é claro se tornar-se mulher é algo que se deseja ou que se receia. Pelo conhecimento que temos do mundo, podemos imaginar que a criança está tão ansiosa por crescer, que isso se tornou uma obsessão. Porém, poderá tratar-se de uma criança que, por qualquer motivo, receie crescer.

Por outro lado, assim, descontextualizadas, ambas as frases carecem do verbo, que poderia ser o verbo estar.

Bom trabalho!

Pergunta:

Gostaria de saber se essas palavras podem ser consideradas derivadas.

verdadeverdadeiro

flutuaflutuante

gigantegigantescos

mimomimada

gostogostoso

genegenética

Resposta:

A primeira coisa a ter em conta no caso da derivação é saber se ela ocorreu ou não no âmbito da língua portuguesa. As palavras podem ser derivadas, mas tratar-se de um processo ocorrido na língua de origem, como acontece em flutuante, cuja derivação ocorreu ainda no latim fluctuante-, particípio presente de fluctuare, ou em genética, que provém do francês genétique.

Nas restantes palavras, a derivação ocorreu na língua portuguesa. No entanto, a palavra mimada, que interpreto como sendo particípio passado de mimar com valor adjectival, embora possa associar-se a mimo, ligá-la-ia directamente ao verbo, que, por sua vez, deriva de mimo.

Em síntese, poderemos dizer que todas as palavras em apreço são derivadas, ainda que nem todas o sejam enquanto fenómeno ocorrido em português.

Pergunta:

Como reescrevo este trecho de modo a eliminar a ambiguidade?

«Perante o tribunal, o menino identificou como seu agressor o colega do primo que frequenta a mesma escola que ele.»

Reescrever utilizando o pronome demonstrativo para indicar que o colega frequenta a mesma escola que o primo.

Reescreva usando um sinônimo de colega para indicar que o primo frequenta a mesma escola que o colega.

Resposta:

As duas questões que coloca poderão ter como resposta a que se propõe:

a) Reescrever utilizando o pronome demonstrativo para indicar que o colega frequenta a mesma escola que o primo: «Perante o tribunal, o menino identificou como seu agressor o colega do primo que frequenta a mesma escola que este

b) Reescreva usando um sinônimo de colega para indicar que o primo frequenta a mesma escola que o colega: «Perante o tribunal, o menino identificou como seu agressor o condiscípulo do primo.»

Podemos ainda pensar que o menino e o primo frequentam a mesma escola:

c) «O menino frequenta a mesma escola que o seu primo, cujo colega identificou como seu agressor perante o tribunal.»

Ou que o menino e o colega do primo andam na mesma escola:

d) «Perante o tribunal, o menino identificou como seu agressor um condiscípulo que é colega do seu primo.»

Pergunta:

As pessoas costumam empregar as duas frases: «Carla Bruni pode estar grávida do presidente» (Diário de Notícias – 11/01/08) e «Fernanda Serrano grávida do terceiro filho» (Caras – 15/01/09). Como posso evitar mal-entendidos, deixando claro que, se a Carla Bruni estiver grávida, o pai do bebé é o presidente, e que nascerá o terceiro filho da Fernanda Serrano?

Resposta:

A sua pergunta é bastante interessante. Numa pesquisa pelo Google, encontrei outras expressões que poderíamos acrescentar às duas que refere:

(1) «Grávida de gémeos»

(2) «Grávida de 7 meses»

(3) «Grávida do terceiro filho»

(4) «Grávida do marido»

(5) «Grávida de um rapaz»

(6) «Grávida do João»

(7) «Grávida de esperança»

(8) «Grávida de novo»

Se, em vez do nome grávida, utilizarmos o verbo, obtemos resultados semelhantes (exce{#p|}to para o exemplo (2) — o asterisco indica que a expressão é agramatical):

(9) «Engravidou de gémeos»

(10) *«Engravidou de sete meses»

(11) «Engravidou do terceiro filho»

(12) «Engravidou do marido»

(13) «Engravidou de um rapaz»

(14) «Engravidou do João»

(15) «Engravidou de esperança»

(16) «Engravidou de novo»

A partir da análise das diversas expressões, poderemos dizer que os vários complementos, quer do nome, quer do verbo, adquirem sentido com base no valor semântico do complemento.

Quando esse complemento indica a origem do processo, digamos assim, então o nome que segue a preposição designa o pai. Esta situação só se torna ambígua nas situações ilustradas com os exemplos (13) e (14), em que o nome que segue a preposição poderá designar uma entidade que reúne as condições para ser pai (rapaz e João). Nesses casos, a...

Pergunta:

Qual é o plural da palavra copo-medida?

Obrigada.

Resposta:

O composto copo-medida parece não estar ainda totalmente fixado na língua portuguesa. Com efeito, numa pesquisa Google, para além de copo-medida, ocorrem copo medida (sem hífen), copo de medida e copo medidor.

De qualquer forma, assumindo que o vocábulo se fixa na língua portuguesa, e tendo em conta que o segundo termo do composto (medida) especifica de que tipo de copo se trata, o plural mais gramatical é copos-medida. No entanto, também aqui o vocábulo revela instabilidade, pois o número de ocorrências em que o primeiro termo é o único a ter plural é pouco superior ao número de situações em que os dois termos se encontram no plural.