Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Unimed é uma marca, é o nome de uma cooperativa de serviços médicos do Brasil. A dúvida é: o plural de Unimed é "Unimeds", ou "Unimedes"?

Agradeço antecipadamente seu auxílio.

Resposta:

Enquanto designação, ou firma, de uma cooperativa, não se espera que a palavra tenha plural. A tê-lo, deverá seguir as regras do português, que prevêem a introdução de uma vogal, habitualmente e, quando a palavra termina em consoante. O plural seria, pois, Unimedes.

Pergunta:

A palavra assinatura é da família de sinal?

Resposta:

Se tivermos em conta a história da palavra, sim. Com efeito, ambas as palavras têm em comum o radical de sign-, do termo latino signum (sinal). Se nos centrarmos no português, assinatura provém de assinar, que, por sua vez, se liga ao latim assignare, verbo constituído pela associação da preposição ad ao termo signo (ad + signo). Ainda no latim surgiu o termo signale, de que deriva directamente a palavra sinal.

Pergunta:

Costumamos escrever "anti-touradas" para enfatizar que somos "anti". Será, ainda assim, considerado um erro? Apenas é correcto escrever "antitouradas" ou, neste caso, é aceitável "anti-touradas"? Devemos escrever "touradas", ou "antitouradas", no plural, ou será mais correcto utilizar o singular, no caso, "antitourada" ou "anti-tourada"?

Antecipadamente gratos pela resposta.

Resposta:

À luz do novo acordo ortográfico, a maioria dos prefixos, entre os quais anti, unem-se sempre à palavra que antecedem, excepto se esta iniciar com h ou com a mesma letra com que acaba o prefixo. Por essa razão, segundo o novo acordo ortográfico, escreve-se sempre e só antitouradas.

Se tivermos em conta o acordo de 1945, ainda em vigor em Portugal, deveremos igualmente aglutinar o prefixo, pois diz-se na base 29:

«3.°) compostos formados com os prefixos anti, arqui e semi, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por h, i, r ou s: anti-higiénico, anti-ibérico, anti-religioso, anti-semita; arqui-hipérbole, arqui-irmandade, arqui-rabino, arqui-secular; semihomem, semi-interno, semi-recta, semi-selvagem

Importa ter em conta que os dois acordos, o de 1945 (Base L) e o novo (Base XXI: "Das assinaturas e firmas"), ou próximo, prevêem que assinaturas e firmas se mantenham, pelo que se «Marinhenses Anti-Touradas» corresponde à designação oficial de uma associação, regist{#|r}ada como tal em notário, poderá continuar a ser grafada, nesse contexto, com o hífen.

Pergunta:

Deparei-me com a expressão latina «veni, vidi, forravi» num livro escrito em espanhol, mas não consigo descobrir o significado de forravi. Será que me conseguem ajudar?

Grata pela atenção.

Resposta:

Não encontrei o hipotético verbo *forro, de que forravi seria a primeira pessoa do pretérito perfeito, em nenhum dos dicionários de latim consultados.

Por outro lado, a expressão correcta, proferida por Júlio César, é «veni, vidi, vici», ou seja, «vim vi e venci», a qual tem sofrido, ao logo dos tempos, adaptações, algumas irónicas. Na Wikipédia, pode ler-se por exemplo: «Vim, vi, quebrei as cadeiras»; «Veni, vidi, veggie» («Vim, vi, comi uma salada»); «Veni. Vidi. Codi» («Vim. Vi. Codifiquei»).

Julgo que a expressão «veni, vidi, forravi» é um dos casos em que há jogo de palavras. Encontrei o verbo forrar em castelhano, ou espanhol, que, quando pronominal, significa «enriquecer» (forrarse, fam. Ganar gran cantidad de dinero). Se adoptássemos esse sentido, teríamos algo como «vim, vi e enriqueci». Deve, pois, encarar a expressão como jogo de palavras e descobrir o sentido adequado do espanhol forrar, para recriar ou traduzir a expressão.

Pergunta:

Tenho visto em vários sítios os verbos boiar e apoiar classificados como irregulares. Porque são considerados irregulares esses verbos (se realmente o são)?

Seria acertado dizer que a raiz de boiar é "boi", sendo "boia" o tema?

Obrigada.

Resposta:

Pela análise da conjugação dos verbos em apreço, que pode ser consultada no Portal da Língua Portuguesa, não se registam situações que justifiquem a sua integração na lista dos irregulares, pois obedecem ao padrão da conjugação a que pertencem.

Quanto à raiz, são vários os verbos cuja raiz termina em vogal. Próximo dos que indica refiro, por exemplo, criar (cri + ar). A estrutura que indica para o verbo boiar (boi + ar) parece-me adequada e correcta.