Pergunta:
Sou professora e deparei-me, mais uma vez, com uma dúvida, aquando da abordagem do complemento determinativo. Tudo estava bem até ao momento em que veio a pergunta inevitável «Qual a diferença entre um complemento circunstancial de matéria e um complemento determinativo de matéria?». A resposta era fácil, o primeiro depende do verbo, e o segundo, de um nome. O mesmo não aconteceu com igual pergunta, mas relacionada com a causa, pois os exemplos que encontrei não foram os mais adequados («Barulho de passos» — «de passos» — complemento determinativo de causa). Agradecia que me esclarecessem quanto a esta situação, já que os exemplos que encontro deixam muito a desejar e se há alguma explicação além desta (complemento determinativo-nome/complemento circunstancial-verbo).
Resposta:
A sua questão/reflexão ilustra bem, poder-se-ia dizer, a razão pela qual expressões como «complemento determinativo» e «complemento circunstancial» não ocorrem no Dicionário Terminológico. De uma forma geral, como refere, complemento circunstancial tem, na gramática tradicional, subjacente uma relação sobretudo entre um verbo e um grupo adverbial ou preposicional, enquanto o complemento determinativo se associa a uma relação entre nomes obtida através da preposição de.
Assim, do ponto de vista da gramática tradicional, poderemos dizer que, tal como o complemento circunstancial veicula diversos sentidos, ou valores semânticos, o mesmo acontece em relação ao complemento determinativo. Epifânio Dias da Silva, na Sintaxe Histórica Portuguesa, pág. 130 e seguintes, sem dar nome à função desempenhada pelo nome mais encaixado, ou, se preferir, pelo grupo preposicional, diz que a preposição de pode veicular valor de parentesco, posse, instrumento ou meio, causa, qualidade «homem de talento», origem «homem do povo», matéria «taça de prata», sentimento «lágrimas de arrependimento», etc.
Ainda que sem uma interpretação consensual, há gramáticos que indicam ocorrer um complemento determinativo sempre que dois nomes estão ligados pela preposição de, o que corrobora, de certo modo, o que se diz acima. Ilustrando a falta de consenso desta interpretação, note-se, por exemplo, que Cunha e Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, não referem conceitos como complemento determinativo nem complemento circunstancial,...