D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Nas frações que têm os denominadores múltiplos de 10, de 20 a 90, a leitura pode ser feita também como nos numerais ordinais. O mesmo pode ser feito para múltiplos de 100, de 200 a 900. E os denominadores múltiplos de 1.000, 10.000, 100.000, 1.000.000, etc.?

Resposta:

Gramática de Celso Cunha indica que pode ser usada a mesma designação para o fracionário que para ordinal, se expresso numa só palavra. Exemplo em Celso Cunha: 1000 → milésimo. Logo: 1/1000000 → milionésimo.

Quando o ordinal é expresso por mais que uma palavra, usa-se o para o fracionário o cardinal seguido do termo avos (fração da unidade). Logo: 10 000 → dez mil avos, 100 000 → cem mil avos.

Parecer pessoal

Os ordinais, exprimindo quantidades inteiras de 10 000 e de 100 000, são respetivamente: dez milésimos e cem milésimos. Os fracionários exprimem partes de quantidades, e o numeral nas quantidades inteiras não pode ser cardinal nos fracionários porque passa a ser uma fração: no primeiro caso é um décimo e no segundo um centésimo. Então, neste raciocínio, e como alternativa à regra geral, penso que poderia, no caso em apreço, ter-se, também: para 1/10000: um décimo de milésimo (do total), e para 1/100000 um centésimo de milésimo (do total).

Ao seu dispor

N.E. – Em Portugal. os números inteiros ou decimais com cinco ou mais dígitos – por exemplo, 32 048 e 21 237,459 32 – são separados em grupos de três por um espaço, de acordo com Norma Portuguesa 9 de 2006 (NP9 2006, págs. 3/4). Os números com quatro algarismos são escritos sem espaço, a não ser que figurem em coluna (ibidem); exemplos:

– 1437,327 61 e 14 373,2761

Pergunta:

Considerando que as ilhas são britânicas, eu escrevo Ilhas Malvinas ou Ilhas Falkland*? *Quando não estiver acompanhado da palavra "Ilhas", usa-se no plural: as Falklands.

Resposta:

Dados de estudo

A designação Malvinas é espanhola. Os espanhóis chegaram a ter assentamentos no arquipélago em conjunto com os britânicos. Em Portugal, as ilhas são mais conhecidas por Malvinas. Os britânicos reivindicam que as duas ilhas são britânicas porque, afirmam, foram descobertas pelo capitão inglês John Strong, que fez o primeiro desembarque em 1690.

A designação ilhas Falkland deriva do nome do estreito Falkland (fonte: enciclopédia Larousse) que separa as duas ilhas, nome que terá sido escolhido pelo próprio John Strong.

Nas Nações Unidas são designadas por Falkland Islands (Malvinas).

Parecer pessoal

Na América do Sul é mais apropriado que se designem as ilhas por Malvinas, tanto mais que a Argentina as considera também suas.

Atendendo, porém, a que a língua internacional é hoje o inglês, num texto em inglês ou de divulgação geral, eu escreveria ilhas Falkland ou simplesmente as Falklands.

Ao seu dispor,

Contra o simplificacionismo imponderado do AO de 1990
Pelas virtualidades peculiares da variedade portuguesa da língua

A propósito da notícia  "Parlamento [português] prevê (des)Acordo Ortográfico", publicada no semanário português Expresso do dia 4 de maio de 2019, D´Silvas Filho  fez chegar às autoras da peça algumas incorreções nos apontados «exemplos do que poderá voltar a mudar», acrescentando no texto a seguir transcrito as suas conhecidas reservas quanto à supressão de algumas consoantes não articuladas das sequências internas.

Cf. Em louvor da língua portuguesa, o género das profissões e um episódio entre Augusto Abelaira e a gramática

Na imagem, o frontispício de Orthographia, ou arte de escrever, e pronunciar com acerto a lingua portugueza para uso do excellentissimo Duque de Lafoens, (1738), de João de Morais Madureira Feijó (1688-1741).



Um vocabulário adequado ao português europeu
Critérios do autor à luz do Acordo Ortográfico de 1990

Texto do autor, em anexo ao seu livro Histórias que o avô deixou... Sobre o poder feminil. Outros contos. Ensaios. Crónica *, resumindo os critérios  ortográficos que defende – e segue –, tendo em conta as suas reservas a algumas opções adotadas pelos vocabulários editados em Portugal à luz nas novas regras prescritas no Acordo Ortografico de 1990. Cf. Acordos ortográficos imperfeitos não são sagrados.

* edição CSC.Reticências, 2018

 

 

Pergunta:

O meu grande agradecimento ao ciberduvidas. E felicitações pelo contributo para a Língua Portuguesa.

A resposta foi dada em várias entradas. Parece consensual esta forma:

«— Amanhã vai chover — disse o Manuel. — O céu está muito escuro. Neste exemplo, o primeiro travessão serve para introduzir a fala da personagem (3), e o segundo, para separar o que é fala da personagem do que é discurso do narrador. O primeiro ponto justifica-se porque termina o período (2). O terceiro travessão é de novo sinal de introdução do discurso directo e termina com a pontuação respetiva. Como o locutor é o mesmo, não há mudança de linha.»

Encontro uma forma diferente de pontuação e de uso da maiúscula na frase intercalada num autor e peço esclarecimento sobre a sua correção e aceitação:

A «– Nem desses plenários tive conhecimento. – Garanti. – Nada tenho a ver com isso.»

B «– Simplifiquei ao máximo e menos do que isto é impossível. – Explicou. – Mas eles não querem estudar e não vão concordar com nada.»

C «– Como não há?! – E eu próprio fui procurar aquele produto insubstituível. – Ora vê! Está aqui!...» 

Muito obrigada.

Resposta:

Na literatura, foi criado o discurso indireto livre, para que se tenha a liberdade de misturar discurso direto e indireto sem necessidade de travessão ou aspas. Ora, a ausência destes sinais gráficos de pontuação é o sinal de que o autor está a usar o discurso indireto livre, para que o leitor esteja atento à distinção. Muitas vezes, porém, a liberdade é tal, que o leitor fica confundido. Temos exemplos típicos na literatura dos nossos dias, com autores que me dispenso de citar porque não sou crítico literário e todos os viandantes da escrita me merecem respeito.

No caso em apreço, deseja-se distinguir o discurso direto do indireto, dado que foi usado o travessão. Nestes casos, põe-se o problema de haver necessidade de se cumprirem as regras. Caso contrário, a confusão pode ainda ser maior.

Analisemos cada uma das frases em apreço:

A «– Nem desses plenários tive conhecimento. – Garanti. – Nada tenho a ver com isso.»

O primeiro travessão introduz o discurso direto na narrativa, o segundo passa à narrativa e o terceiro volta ao direto.

O que um dos meus mestres na língua me ensinou é que, se na escrita dum diário pode não haver grande preocupação com as interpretações erradas, normalmente esta preocupação é fundamental para que a mensagem seja exatamente a que desejamos transmitir.

Na pontuação usada na frase A, o que é que a personagem garantiu? O texto antecedente ou o sequente? Era o antecedente? Então seria preciso fazer a ligação:

«– Nem desses plenários tive conhecimento –, garanti. – Nada tenho a ver com isso.»

Mas é o sequente? Então, seria...