Pergunta:
Quanto à discussão das frases «A profissão dele é professor.» e «A profissão dele é a de professor.», verificamos que as nossas prezadas Ciberdúvidas, a quem temos motivos para estar muito agradecidos pelos excelentes serviços que prestam, referem como evidentemente melhor e mais exacta a expressão «a profissão dele é a de professor.»
Ora esta declaração da evidência da qualidade superior e da exactidão da segunda frase levanta-me... novas dúvidas. Será que é assim tão evidente? A minha posição actual é a de que as frases merecem semelhante valorização, por pertencerem ao mesmo nível, padrão, de linguagem e serem funcionalmente equivalentes, o que não significa que não incorporem algumas diferenças, como abaixo expresso. Estilisticamente, não creio que a frase sem o pronome a seja inferior, como abaixo também expresso.
Para começar, estabelecendo cadeias em que as expressões revelem bem os seus sentidos, consideremos a sequência de frases:
Médico é uma profissão. Canalizador é uma profissão.
Professor é uma profissão e é a profissão dele. A profissão dele é professor.
E consideremos estoutra sequência de frases:
Existe a profissão dele. É a de professor. A profissão dele é a de professor.
Será que uma destas formulações é evidentemente melhor do que a outra? De acordo com o parecer dado pelas Ciberdúvidas, as questões em causa são mais de ordem semântica do que sintáctica. No entanto, os significados das duas frases são imediatamente reconhecidos como idênticos e claros por qualquer lusófono, que, à partida, nunca iria pensar em significados que envolvam a ideia de que a «profissão» é «um professor». A esta estranha ideia c...
Resposta:
Obrigado pelas suas observações, que são muito pertinentes e que me levaram a reformular a resposta em causa.
Parece que estamos de acordo quanto à correcção sintáctica de «A profissão dele é professor» e «A profissão dele é a de professor». Quanto à aceitabilidade semântica de «A profissão dele é professor», depois de ler o que escreveu, estou, como já disse, tentado a matizar a minha posição. Contudo, não adopto totalmente o seu ponto de vista, porque acho que a «natureza retorcida» da construção com o demonstrativo reflecte uma intuição de carácter linguístico; por outras palavras, não é da mesma ordem que a árdua elaboração de «Exercer o mester de professor». Assim:
1. Antes de comparar «A profissão dele é a de professor» e «A profissão dele é professor», é preciso ter em conta que uma coisa é dizer «O Francisco é professor», e outra, «A profissão é professor». A primeira frase tem valor atributivo, dando-se ao substantivo professor uma funcionalidade próxima (mas não idêntica, é verdade) à de um adjectivo, o que permitiria dizer que «O Francisco é professor» é próxima de «O Francisco é alto». A segunda frase tem carácter identificacional, porque estabelece a identidade entre «a profissão» e «professor».
2. Ao mesmo tempo, é hierárquica a relação entre profissão e professor, uma vez que esta palavra é um hipónimo (ou seja, é mais específica) daquela (é o hiperónimo). Sendo assim, pode-se dizer que na frase «Professor é uma profissão» ocorre uma expressão singular indefinida com uma leitura não específica ou intensional (ver Inês Duarte e Fátima Oliveira, "Referência Nominal", in