Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Offshore, off shore, ou off-shore?

Julgo que é sem hífen e ligado, mas como vejo as três formas...

Obrigado.

Resposta:

Em três dicionários de inglês, destinados a quem o aprende como língua estrangeira (Collins Cobuild Dictionary of English Language, Cambridge International Dictionary of English e Oxford Advanced Learner's Dictionary), a palavra offshore é sempre um adjectivo e nunca tem hífen.

Em português, a palavra é um adjectivo dos dois géneros e dos dois números e um substantivo masculino (cf. Dicionário Houaiss, dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora), tendo as seguintes acepções:

«adjectivo invariável

1. que se localiza a alguma distância da costa;

2. ECONOMIA fixado em território que não está sujeito às leis nacionais;

substantivo masculino

1. exploração de petróleo que se situa a alguma distância da costa;

2. ECONOMIA zona financeira que não está sujeita à legislação fiscal do país de que faz parte

(Do ing. offshore

Escreve-se sem hífen (cf. ...

Pergunta:

Quanto à discussão das frases «A profissão dele é professor.» e «A profissão dele é a de professor.», verificamos que as nossas prezadas Ciberdúvidas, a quem temos motivos para estar muito agradecidos pelos excelentes serviços que prestam, referem como evidentemente melhor e mais exacta a expressão «a profissão dele é a de professor.»

Ora esta declaração da evidência da qualidade superior e da exactidão da segunda frase levanta-me... novas dúvidas. Será que é assim tão evidente? A minha posição actual é a de que as frases merecem semelhante valorização, por pertencerem ao mesmo nível, padrão, de linguagem e serem funcionalmente equivalentes, o que não significa que não incorporem algumas diferenças, como abaixo expresso. Estilisticamente, não creio que a frase sem o pronome a seja inferior, como abaixo também expresso.
Para começar, estabelecendo cadeias em que as expressões revelem bem os seus sentidos, consideremos a sequência de frases:

Médico é uma profissão. Canalizador é uma profissão.

Professor é uma profissão e é a profissão dele. A profissão dele é professor.

E consideremos estoutra sequência de frases:

Existe a profissão dele. É a de professor. A profissão dele é a de professor.

Será que uma destas formulações é evidentemente melhor do que a outra? De acordo com o parecer dado pelas Ciberdúvidas, as questões em causa são mais de ordem semântica do que sintáctica. No entanto, os significados das duas frases são imediatamente reconhecidos como idênticos e claros por qualquer lusófono, que, à partida, nunca iria pensar em significados que envolvam a ideia de que a «profissão» é «um professor». A esta estranha ideia c...

Resposta:

Obrigado pelas suas observações, que são muito pertinentes e que me levaram a reformular a resposta em causa.

Parece que estamos de acordo quanto à correcção sintáctica de «A profissão dele é professor» e «A profissão dele é a de professor». Quanto à aceitabilidade semântica de «A profissão dele é professor», depois de ler o que escreveu, estou, como já disse, tentado a matizar a minha posição. Contudo, não adopto totalmente o seu ponto de vista, porque acho que a «natureza retorcida» da construção com o demonstrativo reflecte uma intuição de carácter linguístico; por outras palavras, não é da mesma ordem que a árdua elaboração de «Exercer o mester de professor». Assim:

1. Antes de comparar «A profissão dele é a de professor» e «A profissão dele é professor», é preciso ter em conta que uma coisa é dizer «O Francisco é professor», e outra, «A profissão é professor». A primeira frase tem valor atributivo, dando-se ao substantivo professor uma funcionalidade próxima (mas não idêntica, é verdade) à de um adjectivo, o que permitiria dizer que «O Francisco é professor» é próxima de «O Francisco é alto». A segunda frase tem carácter identificacional, porque estabelece a identidade entre «a profissão» e «professor».

2. Ao mesmo tempo, é hierárquica a relação entre profissão e professor, uma vez que esta palavra é um hipónimo (ou seja, é mais específica) daquela (é o hiperónimo). Sendo assim, pode-se dizer que na frase «Professor é uma profissão» ocorre uma expressão singular indefinida com uma leitura não específica ou intensional (ver Inês Duarte e Fátima Oliveira, "Referência Nominal", in

Pergunta:

À questão lançada pelo consulente Paulo Morgado, gostava de fazer notar que o termo typed, em contexto de Ciência de Computadores (da Matemática e da Lógica), remete para a Teoria de Tipos, inicialmente desenvolvida por Bertrand Russel enquanto alternativa ao modelo axiomático de Frege — c.f.: Principia Mathematica.

Para esta palavra não existe correspondente em português — tanto quanto fui capaz de constatar pelos dicionários —, mas é muito frequente encontrar textos que empregam o verbo tipar e o adjectivo tipado para se referir às características de uma estrutura que remete para a Teoria de Tipos — e. g.: «Haskell é uma linguagem fortemente tipada.»

Resposta:

Agradecemos a achega ao consulente. Fica assim registado este uso especializado do neologismo tipar.

Pergunta:

Em resposta a uma questão colocada no Ciberdúvidas sobre a origem da denominação serra dos Candeeiros, JMC responde: «José Pedro Machado (in Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa) relaciona o nome da serra dos Candeeiros aos cumes que parecem castiçais, embora outros autores o considerem de origem obscura. O topónimo Candeeiro encontra-se noutros pontos de Portugal, como por exemplo em Vila do Bispo, referindo-se a uma ponta da costa. Segundo JPM, o nome talvez esteja associado a fogaréus nocturnos que guiariam os navegantes até à praia e ao porto local.»

Esta explicação suscita-me algumas dúvidas. Em livros antigos (por exemplo, no Guia de Portugal, de Raul Proença, 1927), o nome da serra aparece escrito como “Serra dos Candieiros”. Aliás, foi esta a grafia que aprendi quando estava em idade escolar. Suspeito assim que “Candeeiros” seja uma corruptela de “Candieiros”. A este propósito, é de registar que na Serra da Estrela, concelho de Manteigas, existe um vale glaciar denominado “Ribeira da Candieira”, que ainda surge com esta grafia na maioria dos mapas da região.

Gostaria de saber se a grafia Candieiros ainda existe e se é plausível que possa ter resultado em “Candeeiros”. Gostaria igualmente de saber se existe algum significado registado para “Candieiro” ou “Candieira” (já ouvi dizer que este nome designa uma planta, mas não consegui confirmar esta hipótese).

 

Resposta:

Não me parece que, do ponto de vista etimológico, a grafia "Candieiros" seja melhor que Candeeiros. A. Moralejo Lasso, em Toponimia Gallega y Leonesa, regista os topónimos galegos Candaira, Candeeira, Candeira, atribuindo-lhes como étimo *candanetum ou candaneta derivado do galego cando, «rama seca de pinheiro» ou castelhano cándano, idem. Ora, pressupondo que o galego é mais conservador que o português em relação ao vocalismo do latim vulgar do Ocidente da Península, podemos aceitar que a grafia do nome da serra em questão seja de facto Candeeiros. Outra coisa é falar da sua etimologia, que mais provavelmente é a mesma que encontramos na Candeeira galega.

 

Pergunta:

A origem da frase «A bom entendedor, meia palavra basta» é o francês «A bon entendeur, salut»?

Resposta:

O Dicionário de Provérbios de Roberto Corte de Lacerda et al. (Lisboa, Contexto Editora, pág. 2000), apresenta «À bon entendeur, salut» como provérbio francês equivalente a «a bom entendedor, meia palavra basta». Outras versões são também possíveis em português: «a bom entendedor, poucas palavras (bastam)»; «muito cego é o que não vê através de uma peneira»; «para bom entendedor, piscada de olho é mandado»; «para os entendidos, acenos lhes bastam». Em francês, há também outras versões: «à bon entendeur, peu de paroles» (século XVI); «à bon entendeur, ne faut que une parolle» (séculos XV).

A referida obra permite depreender que quer as versões francesas quer as portuguesas são adaptações de uma frase latina:

«O precedente clássico é o latim dictum sapienti sat est (para o sábio basta uma palavra), que figura em Plauto (Persa, 729) e também em Terêncio (Phormio, 541). Há equivalentes em italiano: a buon intenditor poche parole em em espanhol: al buen entendedor pocas palavras