Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Como fica o caso de palavras como "pronto-socorro" e "pronto-atendimento"?

Resposta:

A 5.ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de Letras só regista pronto-socorro, com hífen. Presume-se que que «pronto atendimento» não tenha hífen, atendendo ao exposto na Base XV, n.º 6:

«Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa).»

Por outras palavras, «pronto atendimento» não é uma excepção consagrada pelo uso e, por isso, não tem hífen. Pronto-socorro é uma expressão consagrada pelo uso ou, pelo menos, o VOLP assim a reconhece; por consequência, escreve-se com hífen.

Pergunta:

A palavra obrigado ou obrigada, quando usada como forma de agradecimento é considerada uma interjeição? E no caso de «muito obrigado(a)», é uma locução interjectiva?

Resposta:

O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, classifica obrigado como uma interjeição e «muito obrigado» como uma locução interjectiva. O Dicionário Houaiss não é tão peremptório e classifica obrigado como adjectivo «empregado também interjetivamente».

Noutras fontes, mais duvidosa se torna a classe de palavras de obrigado. O Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, diz que, como forma de agradecimento, se trata de «exclamação que exprime agradecimento». Na Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, e na Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara, não se incluem as formas de agradecimento entre as interjeições.

Observe-se que o Dicionário Terminológico (DT), isto é, a nova versão da TLEBS, ao definir interjeição como «palavra invariável», parece, por um lado, excluir a fórmula obrigado, porque esta varia em género em função do sexo do enunciador; por outro, descreve interjeição como tendo «uma função exclusivamente emotiva» e um valor que «depende do contexto de enunciação e corresponde a uma atitude do falante ou enunciador». Se é assim, obrigado e «muito obrigado» são ainda interjeições, embora não de um modo típico, dada a variação em género.

Em suma, apesar da identificação da classe de palavras de obrigado e «muito obrigado» poder ser assunto controverso, considero que a classificação proposta pelo dicionário da Academia das Ciências é adequada, porque obrigado e «muito obrigado» dão expressão a um agradecimento, ou seja...

Pergunta:

Como se pronuncia Wikipédia? "Viquipédia", ou "Uiquipédia"?

Obrigada.

Resposta:

O w de palavras de origem inglesa costuma ser adaptado ao português como u. Diga, portanto, "uíkipédia", com o "uí" pronunciado como se fosse a palavra francesa oui.

Pergunta:

Gostaria de saber se podem facultar a origem e o significado do nome Espadaneira.

Obrigada.

Resposta:

Segundo José Pedro Machado (Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa), Espadaneira é topónimo e apelido|sobrenome com origem no substantivo comum espadaneira, derivado de espadana, «nome vulgar extensivo às plantas herbáceas, palustres, de folhas lineares, do gé(ê)nero Sparganium (família das Esparganiáceas), espontâneas em Portugal» (Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora). Existe também o topónimo Espadanal, de espadanal, atestado como «lugar onde crescem espadanas» (idem). Espadaneira, por seu lado, não está atestado como substantivo comum, mas está bem formado, quando se atenta no facto do sufixo -eira poder adquirir o sentido de «acúmulo, de grande quantidade ou de coletividade da coisa denotada pela base substantiva: aguaceira, apostemeira, arrozeira, bagaceira, buraqueira, cabeleira, esterqueira, estrumeira, lamaceira, [...] piolheira, poeira etc» (Dicionário Houaiss).  Finalmente, é provável que o uso de Espadaneira como topónimo tenha precedido o uso como apelido|sobrenome}, visto muitos apelidos|sobrenomes serem alusivos ao lugar de origem do fundador de uma família (po...

Pergunta:

Gostaria de conhecer a origem etimológica do nome contra-regra.

Resposta:

Trata-se de um composto morfológico, constituído pela preposição e também prefixo contra e pela palavra regra.1 É, portanto, uma palavra formada em português que não tem globalmente origem numa palavra mais antiga (étimo) do latim, do grego, do árabe ou de outra língua qualquer com relevância para a história da língua portuguesa. Pode-se é abordar a questão da origem dos elementos constituintes; nesse caso, cabe fazer os seguintes comentários:

Contra: do latim contra, como preposição, «em frente de, em oposição a, contrariamente a, para com, a respeito de, de outro lado, em contraposição a, em comparação com», e, como advérbio, «em frente, defronte, ao contrário, pelo contrário» (Dicionário Houaiss).

Regra: «latim regŭla,ae, "régua, barra de pedreiro ou carpinteiro para aferir e tornar reta uma superfície, pau ou ripa que sustenta alguma coisa, tala que endireita osso quebrado, preceitos ou normas que servem de guia a procedimentos ou comportamentos", diminutivo derivado do radical do verbo regĕre, "dirigir, guiar, conduzir, governar"; de mesma origem, os vocábulos divergentes quanto à forma regra, régua e relha se firmam no português com significados também diferentes [...].» (ibidem).

1 Contrarregra, segundo o Acordo Ortográfico de 1990 (ver também 5.ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras).