Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Confesso que nem me tinha apercebido, antes de ouvir o reparo ao presidente do Governo Regional da Madeira, na [estação televisiva] TVI 24. Que, ao contrário do que se vê por aí escrito e dito, o que está dicionarizado é o substantivo politicólogo (pessoa que se dedica ao estudo da política), e não "politólogo". O que me dizem, do Ciberdúvidas?

Resposta:

São correctas as formas politicólogo, politólogo e politocologista, mas os dicionários parecem favorecer a primeira.

O Dicionário Houaiss regista-as, muito embora remeta a explicação do significado de politólogo e politicologista para politicólogo, «estudioso ou especialista de ciências políticas; politicologista, politólogo». As mesmas formas ocorrem no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de Letras. Note-se que tanto no Dicionário Houaiss como no VOLP se acolhem as formas sinónimas politicologia e politologia, as quais remetem para um terceiro sinónimo, ciência política.

Em dicionários portugueses recentes, a forma politólogo não terá muitos anos, e politicologista não tem menção. Assim, verifico que, entre as três formas, o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, de 2001, regista só politicólogo, embora outro termo também aí consignado, politicologia, permita criar politicologista. Não obstante, é preciso assinalar que a forma politólogo está bem formada, porque o radical polit- encontra-se também inventariado no Dicionário Houaiss como elemento de composição que deriva do grego pólis, eōs, «cidade, a cidade por excelência». Assim se compreende que o Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, na sua edição de 2009, já contenha politólogo com remissão para p...

Pergunta:

Bom regresso a todos!

Qual a pronúncia correta de caquexia? Há dicionários que indicam x = ch, e outros, x = ks. Parece-me preferível x = ks, por ser palavra de origem grega. O que poderiam dizer-nos a respeito disso?

Muito obrigado.

Resposta:

A pronúncia recomendada em vocabulários ortográficos e dicionários quer de Portugal quer do Brasil é com [ks] e acento tónico no i (cf. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, 2009; Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, 1966, e Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2004).

Acrescente-se que caquexia significa «grau extremo de enfraquecimento», tendo origem no termo grego kakheksía, «má constituição física, má disposição moral», pelo latim cachēxia, «constituição enfraquecida, saúde estragada; indisposição do estômago» (Dicionário Houaiss). 

Pergunta:

Será correcta a utilização da palavra leiturabilidade para realizar com a palavra legibilidade a mesma distinção que em inglês é feita entre legibility e readability?

Resposta:

Não recomendo a forma "leiturabilidade", que pressupõe o adjetivo "leiturável" e o verbo "leiturar", não atestados em dicionário e discutíveis do ponto de vista da sua boa formação. É preferível aceitar a expressão «agradabilidade de leitura», tradução proposta pelo Dicionário Inglês-Português da Porto Editora para readableness, sinónimo de readability.

N. E. (5/2/2017) – O substantivo leiturabilidade consagrou-se  como termo equivalente ao inglês readibility, para designar o grau em que o aspeto gráfico global de um texto facilita ou dificulta a sua leitura e a apreensão da sua mensagem. Sobre este assunto, observa o consultor Paulo Barata o seguinte: «[..] na língua em ato, em concreto no socioleto da tipografia, estão já consagrados os termos legibilidade e leiturabilidade, independentemente da maior ou menor correção da formação do segundo. A legibilidade refere-se ao desenho individual das letras e à capacidade de o leitor as distinguir umas das outras; e a leiturabilidade refere-se à forma como as letras se comportam num texto e à capacidade de o leitor as percecionar em conjunto, na relação que estabelecem umas com as outras. Reduzindo muito, legibilidade distingue/lê letras, leiturabilidade distingue/lê palavras. [...] Leiturabilidade não me parece suscetível de ser (bem) substituída por agradibilidade, pois os critérios não são apenas estéticos, mas de de leitura efetiva.»

Pergunta:

Dirigo-me a Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, no sentido de ser elucidado quanto ao modo correcto como se escreve uma das freguesias, que também é localidade, do concelho de Torres Novas, distrito de Santarém.

Trata-se da freguesia de Assentis, que uns escrevem (a terminar) com s (Assentis), e outros com z (Assentiz). Existem mapas que escrevem Assentis, outros há que optam por Assentiz. E nas placas toponímicas a confusão também está presente. Qual é a grafia correcta?

Alguns organismos públicos baseiam-se na publicação efectuada no Diário da República n.º 41, 2.ª Série, de 17/2/1995 – Normalização e harmonização do “Código da Divisão Administrativa/Revisão 1994”, em que a grafia é com z.

No entanto, e segundo o Decreto n.º 35 228, de 8 de Dezembro de 1945, a nova Convenção Ortográfica Luso-Brasileira, que logo entrou em vigor, começou esta freguesia a escrever-se no final com s... ou estarei errado?

Resposta:

Deve escrever-se Assentiz. Rebelo Gonçalves, no seu Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), obra que fixa a grafia das palavras de harmonia com o Acordo Ortográfico de 1945, estabelece a grafia Assentiz, com z. Numa versão mais antiga deste vocabulário, datada de 1940 e preparatória da adopção do referido acordo, também se escreve Assentiz.

Se muitas pessoas começaram a escrever o nome da freguesia com s final na sequência da publicação do decreto que instaurava o Acordo de 1945, é possível que tenha havido alguma precipitação ao aplicar as regras ortográficas. Recorde-se que nessa época muitos apelidos|sobrenomes que tinham origem em patronímicos medievais já se escreviam com -s (p. ex., Fernandez > Fernandes) e, com o então novo acordo, muitas palavras viram fixar-se na sua grafia um -s final, desde que para isso houvesse razão etimológica; p. ex.: Aviz > Avis; Queiroz > Queirós. No caso vertente, como em muitos outros (Esmoriz, Romariz), o z final de certos nomes de lugar parece imposto por razões etimológicas, como sugere José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, quando explica que o t...

Pergunta:

Por favor, qual a origem da expressão «peneirar o fraque»?

Resposta:

Não encontrei fontes que dêem conta dos factos históricos que estão na génese da expressão. No entanto, tendo em conta que a expressão significa «fugir», «bater em retirada», «dar no pé» (cf. Dicionário Aberto de Calão e Expressões Idiomáticas), podemos ver nela um modo figurado de transmitir este mesmo conteúdo: peneirar significa, entre outras acepções, «bambolear», «sacudir o corpo»; fraque é a designação de uma peça de vestuário que tem longas abas e que se usa só em certas cerimónias. Sendo assim, «peneirar o fraque» é a imagem de alguém que, apesar de envergar um traje formal, perde a compostura que seria de esperar e expõe-se ao ridículo, quando, ao fugir, não consegue impedir que as abas do fraque se agitem no ar.