Pergunta:
Em primeiro lugar, os meus cumprimentos e parabéns pelo site e serviço de esclarecimento público e pedagógico tão utilmente prestado.
A minha dúvida, na senda da mais correcta expressão oral das palavras, é perceber como proferir oralmente a forma verbal dos verbos da 1.ª conjugação na 1.ª pessoa do plural nos tempos verbais pretérito perfeito e presente, ambos do modo indicativo. Distinguem-se, quer pelo seu contexto, quer, quando na forma escrita, pelo acento (obrigatoriedade que julgo desaparecer com o famigerado acordo ortográfico).
E foneticamente? Não são ambas as formas verbais palavras graves, com acentuação na penúltima sílaba? Como portuense, confesso que tenho manifesta dificuldade em imitar as pronúncias mais sulistas, que alternam o a aberto com o a fechado, conforme seja o tempo pretérito ou presente. Pergunto: qual a forma mais correcta de pronúncia? Está errada a não distinção fonética/sonora feita no Norte, no que tange à pronúncia dos dois tempos verbais?
Antecipadamente grato pela vossa resposta, deixo os meus votos de sucesso para este sítio virtual e para os seus colaboradores.
Resposta:
Só se dirá que é correcta a distinção entre a fechado e a aberto nas formas de primeira pessoa do pretérito perfeito do indicativo, quando se considera que o padrão do português europeu se identifica com o dialecto das chamadas classes cultas de Lisboa. O facto de a diferença ser funcional, porque permite contrastar valores temporais distintos, favorece a opinião segundo a qual a indistinção é resultado de confusão e, como tal, constitui erro linguístico.
Mas se o critério em causa se pautar pela maior antiguidade da pronúncia, então dificilmente se pode dizer que a distinção é mais correcta que a não distinção, até porque existe um caso sem contraste de abertura de vogal; refiro-me à primeira pessoa do plural do presente e do pretérito perfeito do indicativo de verbos da 2.ª conjugação: «normalmente comemos arroz ao almoço» (presente do indicativo); «ontem comemos arroz ao almoço» (pretérito perfeito do indicativo).
Ivo Castro, na sua Introdução à História do Português (Lisboa, Edições Colibri, 1982, pág. 193), refere-se assim ao aparecimento do contaste entre a aberto e a fechado em sílaba tónica:
«[No sistema do vocalismo tónico do português quinhentista,] a vogal central [ɐ] ainda não adquirira pertinência distintiva, limitando-se a funcionar como variante contextual de /a/ em posição não acentuada, antes da consoante nasal. Paul Teyssier (1982: 42), contra a opinião de Serafim da Silva Neto (Neto 1...