Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber a diferença dos termos língua e idioma e qual dos dois devo usar para permitir ao utilizador ajustar a língua (ou idioma) do texto disponibilizado na aplicação.

Gostava também de sugerir que adicionassem aos "Erros mais frequentes" a utilização do termo linguagem em vez do termo língua/idioma.

Desde já obrigado.

Resposta:

São sinónimos, na acepção de «língua própria de um país ou de uma nação». Contudo, podem não permutar em todos os contextos e formações vocabulares; por exemplo, «falar idiomas» é o mesmo que «falar línguas»; em contrapartida, fixou-se no léxico o composto língua-mãe, e não "idioma-mãe" nem "idioma-pai". O uso da forma idiomas em certas aplicações informáticas parece dever-se mais ao hábito de, nesse contexto, assim se traduzir language, que deverá ter sido o termo original em inglês (língua em que a tecnologia em apreço foi concebida e transmitida). Será que tudo começou pela inabilidade de um tradutor mais treinado em castelhano, língua em que é mais frequente empregar a expressão «hablar idiomas» do que «hablar lenguas»? Deixo a pergunta em aberto.

Pergunta:

Agradecia que me dissessem qual a função sintáctica de «muito», numa frase como «Choveu muito».

Obrigada.

Resposta:

De acordo com o Dicionário Terminológico, muito constitui um modificador do grupo verbal no contexto em apreço, uma vez que se trata de um constituinte não seleccionado por chover, verbo intransitivo. Numa terminologia mais antiga, pode classificar-se como um complemento circunstancial de quantidade.

Pergunta:

Depois dos polvos pronunciados [pól], o sr. Daniel Catalão, locutor da RTPN, deixou-me, mais uma vez, perplexo (noticiário 27/02/2010, 19 horas) com a explicação dos terramotos por deslocação das placas "técnicas". Ora, se não estou muito esquecido destas questões de geomorfologia, eu diria que se trata de «placas tectónicas». Não, aqui o c pronuncia-se, portanto, salvo melhor opinião, mantenho-o na escrita. Não é assim?

Resposta:

O Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, regista as palavras tectónica, «parte da geologia que estuda as deformações produzidas na crusta terrestre (enrugamentos, fracturas) pela acção de forças internas», e tectónico, «relativo à estrutura da crusta terrestre», cuja transcrição fonética é, respectivamente, [tɛ`ktɔnikɐ] e [tɛ`ktɔniku], com [k] na articulação do radical tect-.

Pergunta:

Tenho vindo a reparar na utilização frequente de "conosco" em vez de connosco, sendo a primeira um claro erro ortográfico, no entanto parece-me que um dos "n" já deveria ter caído, sendo connosco, uma das poucas, senão a única palavra em português com dois "n" seguidos.

Existe alguma regra relativamente a esta situação, ou a palavra simplesmente não evoluiu?

Resposta:

Em português de Portugal, escreve-se e continuará a escrever-se connosco (ver Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, e Vocabulário Ortográfico do Português, do ILTEC). A forma conosco é brasileira (ver Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras).

Pergunta:

No calendário revolucionário francês, o dia 16 do Brumário era o dia de chervis (sium sisarum), cuja tradução para o português parece ser "cherívia". Confirmam o acerto desta tradução?

Muito obrigado.

Resposta:

É difícil dar-lhe uma resposta precisa, porque os nomes não especializados de certas espécies botânicas podem ter muitas variantes. Por exemplo, o termo faia aplica-se geralmente a uma árvore cujo nome botânico é fagus sylvatica, mas também designa qualquer outro tipo de árvore que pertença aos géneros fagus e nothofagus (Dicionário Houaiss).

O mais que consigo fazer é transmitir informação disponível em dicionários gerais e em páginas da Internet, sempre com a ressalva de poder verificar-se o tipo de variação apontado. Assim:

— para designar a Sium sisarum, encontro, não "cherívia", mas cherivia, forma registada no Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, com a variante cheruvia;

— no entanto, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora (2004), que também regista estas formas, a par de cherovia e pastinaga, acolhe-as como designação de planta comestível, da família das Umbelíferas, cultivada em Portugal [...]». Ora, a pastinaga ou, como se encontra grafada no Dicionário Houaiss, pastinaca é definida como nome vulgar da Pastinaca sativa.