Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

De onde vêm as expressões «vai tirar a mãe da forca» e «da cor de burro quando foge»?

Desde já obrigado pelas respostas.

Resposta:

São de Sérgio Luís de Carvalho (Nas Bocas do Mundo, Lisboa, Planeta, 2010, pág. 104) os seguintes apontamentos:

«Ir tirar a mãe da forca»

A forma da expressão costuma ser «ir tirar o pai da forca», a qual «[...] se aplica a uma tarefa urgente e que se deve desempenhar com celeridade. De acordo com a hagiografia, Santo António tirou, de facto o pai da forca. Assim, Santo António estaria a pregar em Pádua, em 1227, quando sentiu que alguém o chamava, desesperado, em Lisboa; de imediato, o santo cobriu a cabeça em profunda meditação e deu por si em Lisboa, onde o seu pai tinha sido injustamente condenado por homicídio. Ressuscitado e questionado pelo santo, o homem assassinado afirmou a inocência do pai de Santo António. Desse modo foi o inocente libertado, enquanto em Pádua todos garantiram que o santo se mantivera no mesmo sítio, em silêncio e reflexão profundas durante várias horas. Fora tirar o pai da forca...

«Da cor de burro quando foge»

«[...] designa uma cor incaracterística, vagamente desagradável e insípida. Há uma tese para explicar esta expressão (que, em rigor, como tantas outras, não se sabe bem quando surgiu). Assim, a frase seria uma corrupção de um provérbio antigo que recomendava "Corra do burro quando foge", numa clara recomendação para evitar burros quando estes se enraiveciam. A corruptela do provérbio deu origem a um tipo de cor... que não existe.»

Sobre «da cor de burro quando foge» , deve observar-se que a ocorrência da palavra burro na expressão pode remeter efectivamente para uma cor. É que o sugere Vasco Botelho do Amaral, no Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português (pág. 686):

«...

Pergunta:

Antes de qualquer coisa, parabéns pelo maravilhoso site, que me é tão útil quando tenho alguma dúvida sobre nossa língua.

Agora vamos à pergunta: Há algum topônimo para os nomes dos estados estado-unidenses de Oregon, Kansas, Arkansas, Oklahoma e Ohio?

Resposta:

Existem efectivamente aportuguesamentos dos nomes em apreço, pelo menos em obras de referência publicadas em Portugal, muito embora a comunicação social dê clara preferência às formas em inglês:

Oregon: Oregão (Rebelo Gonçalves, Vocabulário da Língua Portuguesa, 1966)

Kansas: Cansas (Gonçalves, op. cit.)

Arkansas: Arcansas (Rebelo Gonçalves, op.cit; Dicionário Prático Ilustrado, Porto, Lello e Irmão Editores, 1970)

Oklahoma: Oclaoma (Gonçalves, op. cit.)

Ohio: Oaio (Gonçalves, op. cit.)

N.E.–  Os nossos agradecimentos pela suas palavras amáveis para com o Ciberdúvidas.

Pergunta:

Qual o gentílico de Trôade, Anatólia? Seria o mesmo para Troia?

Muito obrigado.

Resposta:

Nas fontes consultadas, encontro só as formas Tróade e Tróada (Rebelo Gonçalves, Vocabulário da Língua Portuguesa, 1966), como designação da «região onde se localizava Tróia» (ver José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa), à qual não se atribui gentílico específico. Quanto a troiano (ou Troiano), acho-o só como gentílico correspondente à cidade de Tróia, sem comentários que o definam também como designação do natural ou habitante da Tróade.

Pergunta:

Qual é a origem de Pêro Neto, o nome de uma povoação da região da Marinha Grande?

Resposta:

Não encontro este topónimo no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado. Não sabendo de outras fontes de consulta que permitam esclarecer de alguma maneira a história da toponímia portuguesa, o mais que posso fazer é remeter o consulente para uma página que dá conta de uma história popular sobre a origem de Pêro Neto.

Pergunta:

Qual é o gentílico da Carníola, a qual corresponde mais ou menos à Eslovênia atual?

Muito obrigado.

Resposta:

Em português não existe gentílico dicionarizado, o que não surpreende, porque hoje o nome Carníola só em contextos eruditos se usa, sobretudo em referência à história medieval dos territórios hoje ocupados pela Eslovénia. Se alguém quiser referir-se em português aos naturais ou habitantes da Carníola desses tempos, terá de criar um gentílico conforme às possibilidades oferecidas pelo sistema morfológico (leia-se o que dissemos sobre o gentílico das regiões banhadas pelo rio Meno, na Alemanha).