Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual o adjetivo relativo ao rio Meno (Alemanha), aos seus ribeirinhos e às terras por ele banhadas? Este adjetivo, se existe, serviria também como substantivo quando se refere aos ribeirinhos?

Muito obrigado.

Resposta:

O nome Meno é, segundo Rebelo Gonçalves (Vocabulário da Língua Portuguesa, 1966), «equivalente vernáculo do alemão Main». No entanto, este autor não consigna termo gentílico correspondente; também não encontro termo consagrado noutas fontes, pelo que são possíveis várias formas. No entanto, convém transcrever uma observação no Dicionário Houaiss (2001) que me parece também útil para gentílicos pouco ou nada usados, correspondentes a geónimos com forma portuguesa:

«[...] é mister ter presente que, nos geônimos sem tradição própria dentro da língua e quando seus gentílicos não são introduzidos pré-formados, a tendência predominante é recorrer a -ense, raro a -ês, ou -ano, ou -ita (queniense, paquistanês e paquistanense, cambojano, vietnamita) [...].»

Tendo isto em conta, porque não "menense" ou "menês"? Trata-se de meras sugestões que terão de ser validadas pelo uso, se é que alguma vez se poderá fixar a forma de tal gentílico. Para mais, este será relativo à região atravessada por um rio cujo nome em português só é mencionado quando se impõe a necessidade de referir a cidade de Frankfurt am Main pelo seu equivalente português, Francoforte do Meno, eventualmente para a distinguir da menos conhecida Frankfurt am Oder, em português Francoforte do Óder (ver Rebelo Gonçalves, Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, Coimbra, Atlântida Editora, 1947, p. 352, n.4).

Sobre os limites da criação de regras ou de padrões para a construção de gentílicos, convém aqui transcrever o que se lê na

Pergunta:

Há algum adjetivo relativo ao rio Elba, às terras por ele banhadas, aos seus ribeirinhos, etc.?

Este rio nasce na Chéquia e deságua no mar do Norte, em Cuxhaven, Alemanha?

Muito obrigado.

Resposta:

Em português não há termo consagrado, pelo que pode dizer elbense ou elbês, não sendo ainda de excluir uma forma como elbiano.

Quanto à segunda pergunta, penso que o consulente não estará à espera de eu confirmar a localização da nascente e da foz do rio Elba. Calculo, portanto, que pretenda uma resposta sobre a correcção das formas que menciona. Sobre Chéquia já existe resposta, e sobre Cuxhaven há apenas a dizer que não encontro dicionarizados os respectivos aportuguesamentos.

Pergunta:

Antioqueno, antioquense, antioquiano são gentílicos de Antioquia da Síria (atualmente na Turquia) ou valeriam também para a Antioquia da Písida, antiga região da Anatólia, hoje também integrante do território da Turquia? Designariam os naturais e habitantes dessas cidades na Antiguidade e também nos tempos hodiernos?

Há também antióquio, ou antioquio. Ele funciona apenas como adjetivo?

Antioqueu existe? Se a reposta for afirmativa, podeis dizer-me se se trata apenas de adjetivo ou substantivo também?

Haveria outras denominações ainda?

Muito obrigado.

Resposta:

Usam-se as mesmas formas da Antioquia síria: antioquiano, antioquense, antioqueno (adjectivos; com maiúsculas se forem substantivos; ver F. rebelo Gonçalves, Vocabulário da Língua Portuguesa, 1966). Não sei de indicação que as atribua apenas a uma época histórica, pelo que julgo possível usá-las em referência tanto à Antiguidade como à actualidade.

Acrescente-se que, segundo Luiz Autuori e Oswaldo Proença Gomes (Nos Garimpos da Linguagem, Livraria São José, 4.ª edição), que escrevem uma forma não recomendada, "Antióquia", as formas do gentílico respectivo são antioquenho e antioqueno.

Ao contrário do consulente, não encontro as formas "antióquio" ou "antioqueu", mas verifico que ocorre antioquio no dicionário Aulete Digital.

Pergunta:

Algarvio, beiraltino, duriense, estremenho, minhoto, ribatejano e trasmontano são, respectivamente, os gentílicos das seguintes antigas províncias portuguesas: Algarve, Beira Alta, Douro Litoral, Estremadura, Minho, Ribatejo, Trás-os-Montes e Alto Douro.

Açoriano e madeirense, dos Açores e da Madeira, as quais continuam existindo como entidades de cunho administrativo, territorial e político.

Duriense, todavia, só faz menção à região do Douro, nada dizendo de sua condição litorânea, como seria de se esperar, talvez porque se refira a uma região chamada de Douro, anterior no tempo a Douro Litoral, mais recente. Este é a razão pela qual tenho dúvidas a respeito deste gentílico.

Trasmontano tem como variante transmontano. As duas formas parecem, no entanto, referir-se apenas a Trás-os-Montes, pois nada há nele que lembre o Alto Douro, motivo pelo qual eu estou inseguro quanto a estes dois pátrios também.

Quanto aos gentílicos das regiões da Beira Baixa, Beira Litoral, Alto Alentejo, Baixo Alentejo, nada sei. Quais seriam eles?

Beirão e alentejano parecem referir-se às regiões da Beira e do Alentejo, antes da sua divisão em cinco províncias.

Por favor, os esclarecimentos ...

Resposta:

Os gentílicos que enumera estão correctos, mas cabe aqui fazer breves comentários, com base no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves, que regista as formas seguintes:

a) baixo-duriense, que pode ser usado em referência ao Douro Litoral

b) alto-duriense, relativo ao Alto Douro;

c) alto-beirão, relativo à Beira Alta (o Dicionário Houaiss regista beiraltino);

d) baixo-beirão, relativo à Beira Baixa;

e) alto-alentejano, relativo ao Alto Alentejo;

f) baixo-alentejano, relativo ao Baixo Alentejo.

Note que, para a Beira Litoral, não há designação especial e que, a respeito das Beiras, se usa simplesmente beirão. Já para a região do Douro, costuma-se empregar duriense mais como gentílico correspondente à região vinhateira do Alto Douro (que abrange a sul terras que já pertencem à Beira Alta), embora a palavra se aplique a qualquer natural ou residente das regiões ribeirinhas do Douro. Finalmente, em Portugal, usa-se sobretudo trasmontano em referência a Trás-os-Montes, embora alguns dicionários (Dicionário Houaiss) remetam essa forma para transmontano, que também é corrente.

Pergunta:

Gostaria de saber o significado da palavra "panapana" (ou "panapanã"). O vocábulo é o coletivo de borboletas, em geral, ou designa apenas a reunião de uma espécie de borboletas em determinadas épocas do ano, segundo a tradição indígena?

Resposta:

Pouco tenho a acrescentar a respostas anteriores sobre esta palavra (ver Textos relacionados). Com base em dicionários gerais, concluo que panapaná, panapanã ou panamá são formas que podem ter os dois significados:

Dicionário Houaiss (2001):

«[em entomologia] bando de borboletas em migração»; «aglomeração de borboletas de várias spp., ger. reunidas para sugar sais minerais em terra úmida à beira de rios».

Aulete Digital:

«bando de borboletas, que migram em certas épocas, formando verdadeiras nuvens.»