Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Nos termos cefalorraquidiano e cerebrorraquidiano, a primeira sílaba é tónica, isto é, os seus elementos iniciais pronunciam-se tal e qual como nas palavras céfalo e cérebro?

Muito agradecido às excelentes Ciberdúvidas por mais este esclarecimento.

Resposta:

As transcrições fonéticas de palavras que incluam os radicais cefalo- e cerebro-, disponíveis no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, apresentam:

cefalorraquidiano com e mudo (o que ocorre na preposição de) na sílaba ce-;

cerebrospinal (não existe a entrada cerebrorraquidiano): com e aberto na sílaba ce-, pelo que é de admitir que cerebrorraquidiano também se pronuncia com essa vogal na primeira sílaba.

Note que, ainda em relação a cefalorraquidiano, o mesmo dicionário regista cefalotórax com e aberto na sílaba ce, o que sugere que o radical cefalo- pode também ter e aberto mesmo quando não recebe o acento principal dos compostos eruditos (morfológicos) em que intervém.

Pergunta:

Peço-vos uma definição única para as palavras Nação, Pátria, País e Estado. Também agradeço a sua contextualização.

Obrigado pelo inestimável serviço que nos prestam.

Resposta:

Se por definição única se entende definição comum a vários vocábulos, verifica-se que as palavras acabam muitas vezes por ser usadas como sinónimos, sobretudo Nação, Pátria e País, que remetem muitas vezes para uma comunidade identificada por uma cultura e um território próprios.  Contudo, depressa se verifica que tais palavras não se definem da mesma maneira, sobretudo em contextos mais especializados. Com base no Dicionário Houaiss é possível dizer que:1

Nação é próximo de País, mas sublinha os valores culturais comuns a uma população — «comunidade de indivíduos que, dispersos em áreas geográficas e políticas diversas, estão unidos por identidade de origem, costumes, religião Ex.: a n. católica, a n. maometana, a n. judaica».

Pátria salienta um país ou território enquanto realidade afectiva a que grupos e indivíduos estão ligados — «país em que se nasce e ao qual se pertence como cidadão; terra, torrão natal; terra natal»; ex.: «a minha pátria é Portugal».

País refere-se normalmente a um território com organização política própria — «território geograficamente delimitado e habitado por uma coletividade com história própria; ex.: os p. do Mercosul aceitaram o Chile e a Bolívia como membros associados».

Estado é a entidade responsável pela organização de um território e da vida da população ou do conjunto de populações que aí habitam — «país soberano, com estrutura própria e politicamente organizado» e «o conjunto das i...

Pergunta:

Surgiu-me, num exercício sobre adjectivos, uma dúvida acerca dos adjectivos relativos a «estátua de alguém deitado», «estátua de alguém a cavalo» e «rapaz que ainda não tem barba». Seria possível indicar-me quais os adjectivos correspondentes às expressões? Além disso, podia confirmar-me qual o adjectivo correspondente ao nome monge?

Obrigado.

Resposta:

Os adjectivos são os seguintes:

«que está deitado»: jacente («estátua jacente»);

«a cavalo»: equestre («estátua equestre»);

«sem barba»: imberbe («rapaz imberbe»);

«relativo a monge»: monacal («vida monacal») ou monástico.

Pergunta:

Quando falamos de processos de formação de palavras, confunde-se muito derivação por prefixação e sufixação e parassíntese. Trata-se de um mesmo processo, ou são dois processos distintos? Há quem afirme que parassíntese é um processo que só ocorre na formação de verbos, no entanto no DT classifica-se parassíntese como o processo em que se junta um prefixo e um sufixo em simultâneo a uma forma de base. Em que ficamos?...

Resposta:

1. São processos diferentes, porque a parassíntese se opera da forma que descreve (cf. Dicionário Terminológico – DT).

2. Que a parassíntese ocorra sobretudo em verbos não é observação que se oponha à descrição da parassíntese como «processo em que se junta um prefixo e um sufixo em simultâneo a uma forma de base». Segundo Alina Villalva (in M.ª Helena Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, 2003, pág. 952):

«a derivação parassintética, que pode ser exemplificada por formas como enfraquecer ou esbracejar, é particularmente frequente na formação de verbos deadjectivais e denominais, embora também se  verifiquem alguns casos de adjectivalização: [...] en [son] RN ado/a »1

1 RN = radical nominal.

Pergunta:

Por que motivo não temos por hábito dizer «calçar umas calças»? Ou será que é correcto dizê-lo?

Obrigada.

Resposta:

Sobretudo porque a tradição não fixou esse uso. Calçam-se sapatos, meias e mesmo luvas, mas no caso de calças usam-se mesmo só os verbos despir e vestir, pelo menos, em português europeu.