Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Tenho visto com frequência os vocábulos ingleses amenities (no sentido de comodidades oferecidas por determinado alojamento) e complimentary (na aceção de gratuito) traduzidos em português respetivamente como amenidades e «de cortesia». Tenho grandes reservas em relação a estas traduções, especialmente a primeira, que me parece um decalque, e não as encontrei dicionarizadas como tal nas publicações que consultei.

Grato, desde já, pelo vosso esclarecimento.

Resposta:

A palavra inglesa amenities, no plural (singular amenity) pode ser traduzida, em referência a instalações, por «comodidades e equipamentos» (versão em linha do Dicionário Inglês-Português da Porto Editora; ver também Dicionário Verbo Oxford Inglês-Português 2003 e The Oxford Portuguese Dictionary, que acrescentam atrativos, vantagens, confortos). A expressão «hotel amenities» é traduzida por «equipamentos de hotel» (Dicionário Inglês-Português da Porto Editora).

Quanto a complimentary, aceita-se a tradução pela expressão «de cortesia», além de grátis e «de graça» (cf. idem; no Dicionário Oxford Verbo Inglês-Português, como sinónimo de free).

Pergunta:

A minha dúvida prende-se com a maneira correcta de pronunciar o nome Diego.

Este nome encontra-se na lista autorizada de nomes do Instituto dos Registos e Notariado de Portugal, mas por ser pouco comum ninguém me sabe dizer se se pronuncia "Diêgo" ou "Diégo".

Será que me podem ajudar?

Obrigada.

Resposta:

Não conheço fontes que indiquem qual a pronúncia mais frequente ou mais aceite do nome próprio Diego. Como falante de português europeu, costumo pronunciá-lo com e aberto, e outros falantes também, como se pode ouvir numa reportagem televisiva com a locução nessa variedade. Além disso, é possível que esse e aberto na forma do nome em português europeu seja motivado pelos aspetos fonéticos do e no ditongo crescente ie em castelhano, atendendo ao que descreve T. Navarro Tomás, no Manual de Pronunciación Española (Madrid, Instituto Miguel de Cervantes, 1982, pág. 65; ę e ǫ representam e e o abertos; o acento tónico, sobre a vogal no original, passou para o começo da sílaba tónica):1

«De las vocales e, o queda dicho que ante la semivocal i resultan relativamente abiertas [...] Los diptongos crecientes, formados por semiconsoante y vocal, son: ia-ja, ie-ję, io-jǫ, iu-ju, ua-wa, ui-wi, uo-wǫ. Ejemplos. [...] viejobięxo [...].»

Mas não é impossível que muitos falantes o usem com e fechado tendo em conta que nomes próprios e substantivos comuns com -o final e -e- na penúltima sílaba (que é tónica), têm esta vogal pronunciada como "ê" (símbolo fonét...

Pergunta:

Deve dizer-se: «Deve evitar-se fazer queimas nos pinhais», ou «deve evitar-se fazer queimadas nos pinhais»?

Sempre ouvi e li «queimas (de geada)» para vegetais (videiras, hortaliças, etc.) e «queimadas» para restos de matos ou urze nos pinhais.

Obrigado.

Resposta:

Em relação a atividades típicas do mundo rural, aceita-se a diferença definida pelo consulente, embora se trate de uma esfera da realidade a que não se aplica rigor terminológico, pelo que queima e queimada podem ser sinónimos em certos contextos. A consulta de alguns dicionários publicados em Portugal (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa — DACL; versão em linha do Dicionário de Língua Portuguesa, da Porto Editora — DLPPE; e Dicionário Priberam da Língua PortuguesaDPLP)1 deixa concluir que uma queimada é uma queima, mas uma queima nem sempre é uma queimada; ou seja, queima tem maior extensão de significado do que queimada, palavra de sentido mais restrito. Diz-se, assim, que o primeiro vocábulo é hiperónimo do segundo, e este é hipónimo daquele.

Além disso, os dicionários consultados mostram que queimada é sinónimo de queima, quando esta palavra significa «destruição de vegetação ou lixo pelo fogo» (DLPPE) ou, noutra formulação equivalente, «fogo que se lança aos campos de restolho» (DPLP), muito embora esta aceção não se afigure como a mais típica de queima, atendendo a que não surge entre as primeiras atribuíveis. A respeito da entrada queimada, a primeira aceção é a de «destruição de ...

Pergunta:

Gostaria de descobrir mais informação acerca de um topónimo que é o Beco do Brangala, nome que parece ser único entre a toponímia portuguesa. Tenho neste momento duas "teorias": que Brangala tenha por base um antropónimo, provavelmente um patronímico, mas não consigo encontrar mais informação acerca da sua origem. Uma busca pelo Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira também não me apresentou qualquer referência; e/ou que é uma corruptela de bangala, referindo-se a um individuo em particular pertencente a esse povo. Podem ajudar-me, por favor?

Resposta:

Não sei de fontes que definam a etimologia do nome próprio Brangala: por exemplo, o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, é omisso sobre este nome. Também não encontro em dicionário ou enciclopédia a mesma forma classificada como substantivo comum. O mais que posso aqui dizer é que os Bangalas são o «povo que habita as margens do Congo e de Angola [Prov. constituem uma das nações dos jagas, invasores da região de Caçanje nos sXVI e XVII]» (Dicionário Houaiss). Deixo, portanto, aqui registadas as hipóteses que o consulente entendeu confiar-nos, de modo a que sirvam de inspiração para quem queira investigar as origens deste topónimo madeirense.

Pergunta:

O feminino de gramático, por mais estranho que pareça, é gramaticista, forma muito defendida pelos mais notáveis gramáticos clássicos.

Gramática é a Bíblia da língua. Não é o feminino de gramático.

Alguém que frequentou direitinho a escola, mesmo somente até ao ensino médio, errará no emprego do feminino de gramático? Queria acreditar que não. [...]

Gramática é o feminino de gramático?

Obrigado.

Resposta:

Se gramático significa «indivíduo que conhece bem gramática; especialista em gramática» (Dicionário Houaiss), então, mudando o sufixo de masculino pelo de feminino, obtém-se gramática, que efetivamente se confunde com gramática, que se define como «conjunto de prescrições e regras que determinam o uso considerado correto da língua escrita e falada», entre outras aceções (idem). Dada a homonímia existente entre estas palavras, poderá recorrer-se a gramaticista, adjetivo e nome comum de dois, que significa «estudioso de gramática; gramático, filólogo» (idem).

Por outras palavras, eu não me atreveria a declarar que gramática, «estudiosa de gramática», é um erro. O mais que posso afirmar é que, no sentido de evitar confusões com o seu homónimo gramática, «conjunto de prescrições», posso preferir o termo gramaticista.