Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Quais são as formas finitas dos verbos?

Resposta:

São todas as que têm flexão de tempo, pessoa e número: canto, cantas, cantava, cantei, cantaremos, etc. As formas não finitas são o infinitivo, o particípio e o gerúndio.

Trata-se de termos que ocorrem, no Dicionário Terminológico (B 2.2.2. Flexão Verbal, Modo), que os define do seguinte modo:

«[Formas finitas são] [t]odas as formas verbais à excepção das do infinitivo, gerúndio e particípio. As formas verbais finitas, tipicamente, podem ocorrer como forma verbal única numa frase simples e admitem variação máxima nas categorias tempo, pessoa e número.»

«[As formas não finitas são as] [f]ormas verbais do infinitivo, gerúndio e particípio. As formas verbais não finitas, tipicamente, não ocorrem como forma verbal única numa frase simples e não variam em tempo.»

Pergunta:

Estou com dúvidas quanto ao modo de introduzir a palavra pirueta numa frase. «Damos uma pirueta», ou «fazemos uma pirueta»? À semelhança de uma cambalhota ou de um salto mortal, por exemplo, «daria» uma pirueta; mas, por outro lado, trata-se de uma figura que se apresenta, daí que também me parece aceitável dizer que se «faz» uma pirueta. Qual é a correcta?

Muito obrigado.

Resposta:

Ao substantivo pirueta podem associar-se quer o verbo fazer quer o verbo dar.

No Corpus do Português, de Mark Davies e Michael Ferreira, e na Linguateca, encontram-se exemplos dos dois usos, muito embora o verbo fazer seja mais frequente. O emprego de dar, se bem que minoritário, é correto e encontra-se noutras expressões relativas a movimento: «dar uma cambalhota/salto/pulo». Perante estes exemplos, não se afigura ilegítima a expressão «dar uma pirueta». E mesmo que se queira definir pirueta como «figura de movimento que se apresenta ou se exibe», basta lembrar que também se usa o verbo dar com exibição – «dar uma exbição» –, mesmo que com menor frequência em comparação com «fazer uma exibição» (cf. fontes referidas).

Pergunta:

Qual a origem do nome próprio Bessa?

Resposta:

O apelido ou sobrenome Bessa, também escrito como Beça, é provavelmente um nome que provém do topónimo espanhol Baeza (José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, 2003). D. Luiz de Lancastre e Tavora, no Dicionário das Famílias Portuguesas (Lisboa, 2010, p. 99), reitera esta proveniência do seguinte modo: «No tempo do nosso rei D. Fernando I fixou-se em Portugal Juan Alfonso de Baeza, que daquele soberano recebeu as vilas de Alter do Chão e do Vimieiro. Juan, depois João Afonso, casou aqui e teve descendência, que começou por aportuguesar o nome em Baeça e depois em Beça [...].»

Baeza, que é como se chama uma cidade da província de Jaén, na Andaluzia, é topónimo que evoluiu por via do árabe (Bayyāsa) a partir das formas Beatia e Vivatia, atribuídas a uma villa romana e derivadas do nome próprio Vivatius (Jairo J. García Sánchez, Andalucía y sus topónimos IV, Centro Virtual Cervantes). Há autores que contestam que as famílias com este apelido provenham diretamente de Baeza, considerando que com este nome vários cavaleiros procuravam prestigiar-se aludindo à sua participação na conquista da cidade aos árabes; assim se explica que, na Idade média, a família mais conhecida com este apelido procedia de Valdepeñas, na comunidade de Castela-La Mancha (Blasonari. Genealogía e heráldica).

Perante a hipótese de uma origem espanhola, é de assinalar que a grafia mais adequada é a que exibe um ç, uma vez que esta é uma das letras correspo...

Pergunta:

Com a entrada da República da Guiné Equatorial [na CPLP], muitos jornalistas utilizaram os gentílicos guinéu-equatoriano e equato-guineense para o país, distinguindo-os assim dos da República da Guiné-Bissau (e também da República da Guiné, conhecida muitas vezes entre nós pelo oficioso Guiné-Conacri). Sabendo que este assunto já foi superficialmente tratado aqui no Ciberdúvidas, gostava no entanto de saber se é legítimo o uso de "equato-guineense"? É que nunca tinha ouvido falar do prefixo "equato-". E quanto ao "bissau-guineense" (usado por analogia com o inglês Bissau-Guinean)? Não seria uma boa alternativa para casos em que seja necessário distinguir os gentílicos das três Guinés?

Muito obrigado pelo esclarecimento.

Resposta:

O Dicionário Houaiss, o Dicionário Priberam (DP) e o Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora (DLP-PE),  registam guinéu-equatoriano. No entanto, o primeiro dos referidos  dicionários também dá outra pista ao registar a forma equatoro-guineo- como antepositivo usado em compostos em que se coordenam dois gentílicos (cf. afro-asiático); Sendo assim, poderia propor-se a forma não atestada "equatoro-guineense". Por outro lado, o DP e o DLP-PE já registam uma forma com o elemento de composição equato- (não é um prefixo, mas também não é a rigor um radical; é um elemento de composição obtido por truncação): equato-guineense.

Quanto ao gentílico da Guiné-Bissau, não se afigura descabido propor, em alternativa ao decalque do inglês "bissau-guineense", as formas não atestadas guinéu-bissauense ou guinéu-bissanense, que incluem os gentílicos correspondentes a Bissau, bissauense e bissanense (cf. DP e DLP-PE).

Cf. Sem Ano-Bom, a Guiné Equatorial não tem nenhum vínculo com a CPLP

Pergunta:

Gostaria de saber qual a diferença entre régio e real.

Quando devo usar uma ou outra palavra?

Resposta:

Não se pode dizer que haja uma diferença nítida entre as duas palavras. O seu uso parece depender das palavras a que se associam preferencialmente (colocações) e com as quais funcionam quase como expressões idiomáticas. Por exemplo, emprega-se muito mais «carta régia», «iniciativa régia» ou «autorização régia», em comparação com «carta real», «iniciativa real» e «autorização real» (cf. Corpus do Português, de Mark Davies e Michael Ferreira). Assinale-se, contudo, que real tem sentido genérico, abrangendo régio, como termo mais específico que significa sobretudo «emanado do rei» (Dicionário Houaiss). E observe-se que, mesmo assim, há expressões que podem aceitar ambos os sinónimos: «absolutismo real/régio», «poder real/régio», «tesouro real/régio», «erário real/régio» (cf. idem).