Pergunta:
Sempre uma viagem ao Alentejo tem os seus impactes na cadência da nossa fala. Apercebemo-nos de que nos falares desta região não só o ritmo estranha, como também há uma tendência à monotongação do “ditongo” (depois do rol de mensagens a este propósito, as aspas são compreensíveis) [ɐj] em [e]. Ilustrativamente, vejamos pasmaceira > "pasmacêra". Também há regiões do país onde não menos frequente é ouvir-se "mê" em vez de meu. Há gente que pronuncia "côsa" em vez de coisa e "na" [nɐ] em desproveito de não [nɐ~w~]*. Em contraponto, noutras regiões do país, há uma tendência à ditongação (arquipélagos e Norte, a bem dizer).
Impõem-se a seguintes perguntas:
♦ O caso alentejano faz prova da fragilidade das semivogais em português (veja-se, porém, que nunca ouvi dizer [pa] por pai – penso nomeadamente no timbre vocálico/na abertura vocálica...)?
♦ Como justificar esta tendência (biológica?) à monotongação ou, vice-versa, à ditongação?
Quaisquer outros comentários a este propósito serão bem-vindos.
* Por razões técnicas, não foi possível sobrepor o til aos símbolos fonéticos ɐ e w, de modo a representar a representar o ditongo nasal.
Resposta:
É próprio das línguas variarem, e é próprio da sua institucionalização como veículos da administração de um país reduzir essa variação, com a elaboração da chamada norma-padrão. Os casos de monotongação1 apresentados são característicos de grande parte dos falares centro-meridionais de Portugal: sul da Beira Baixa, parte da Estremadura, Ribatejo, Alentejo e Algarve. Não há razão biológica especial para a monotongação: esta pode ser devida a uma situação histórica (um substrato, isto é, uma língua anterior à implantação do latim ou do português, que não tinha ditongos) ou à pópria deriva do sistema fonológico do português nessas regiões.
Refira-se ainda que a perda de ditongo em meu e a sua manutenção em pai não parece traduzir uma fragilidade que se generalize a todos os ditongos nos falares do Sul de Portugal. O que acontece é mais a fragilidade dos ditongos em palavras que não têm acento próprio e que se subordinam ao de outras, como sejam os pronomes átonos e muitas formas de determinantes, entre elas, a do possessivo no género masculino da 1.ª pessoa do singular, ou seja, meu: daí dizer-se, com frequência nos dialetos centro-meridionais, «o mê pai», em lugar de «o meu pai». A palavra pai conserva melhor o ditongo, pelo menos, antes de pausa, não se sujeitando à monotongação que pode ocorrer em meu: «Viste o mê pai?» (e não «viste o mê pá»).
Por último, importa dizer que os dialetos portugueses que incluem ditongos não têm propriamente uma «tendência a ditongar»; talvez seja mais adequado dizer que tendem a conservar os ditongos. Nestas variedades, que em Portugal se identificam sobretudo com os chamados dialetos setentrionais, os ditongos são resultado da evolução dos ditongos do latim (AURU > ouro) ou da deslocação de segmentos na palavra, ou ...