Pergunta:
Bem hajam pelo regresso!
Para assinalar este dia, gostaria de colocar uma questão em que tenho vindo a pensar nos últimos dias, que diz respeito à frase «A tentativa de meter os indianos a gostar de futebol». Acontece que me deparei com reações de forte repúdio, devido ao emprego do verbo meter. Bem sei que ao verbo está associado um vector de interioridade, mas, tendo em conta a variação semântica que o seu uso tem vindo a registar, a frase não pode ser considerada aceitável?
Obrigada e votos de bom trabalho!
Resposta:
É com muito gosto que regressamos ao contacto diário com os nossos consulentes!
É verdade que há contextos em que meter pode substituir pôr, como acontece em «pôr/meter gasolina». No entanto, verificam-se exemplos da estrutura «meter a» + infinitivo descrita como construção reflexiva que faz referência à situação em que alguém atribui a si próprio uma competência que não possui: «apesar do desconhecimento, meteu-se a falar inglês» (Dicionário Houaiss). Ou seja, a expressão sugere uma situação em que alguém se atreve a alguma coisa, não costumando usar-se com um complemento direto com o papel semântico de paciente da ação verbal. Isto explica, por exemplo, a estranheza de «meti o meu filho a aprender inglês», visto a noção de atrevimento associada a «meter-se a» dizer respeito apenas ao agente da ação (de quem «se mete a fazer qualquer coisa»), e não a um eventual paciente forçado ou aliciado a atrever-se. Sendo assim, do ponto normativo, consideramos que o exemplo enviado tem fraca aceitabilidade e parece-nos preferível o emprego de pôr na frase: «A tentativa de pôr os indianos a gostar de futebol.»*
* Em alternativa à construção com pôr causativo, são também possíveis as frases: «a tentativa de fazer os indianos gostar(em) de futebol»; «a tentativa de fazer com que os indianos gostem de futebol»; «a tentativa de incentivar os indianos a gostar(em) de futebol»; «a tentativa de inculcar nos indianos o gosto pelo futebol, etc.» (sugestões do consultor Luciano Eduardo de Oliveira).