Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

«O tabaco é prejudicial à saúde.»

Qual a função sintática da expressão «à saúde»?

Muito obrigada.

Resposta:

O grupo preposicional «à saúde» tem a função de complemento do adjetivo.

O adjetivo prejudicial constrói regência com a preposição a: «Estás a fumar de mais, homem! Bem sabes que o tabaco é prejudicial à saúde» (Énio Ramalho, Dicionário Estrutural Estilístico e Sintático da Língua Portuguesa, Livraria Chardron e Lello e Irmãos Editores, 1985; ver também Dicionário de Regimes e Substantivos e Adjetivos, de Francisco Fernandes).

N. E. – Resposta atualizada em 10/05/2016.

Pergunta:

Agradeço a tradução do termo capitonné, ou seja, algo acolchoado ou estofado e picado rebaixado em alguns pontos.

Com os meus agradecimentos antecipados.

Resposta:

Sobre esta palavra, assinalo que Vasco Botelho de Amaral (Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, 1958) regista capitonné, considerando que se trata de um galicismo em alternativa do qual o filólogo Cândido de Figueiredo (1846-1925) propunha barbilhado e cadarçado. Botelho de Amaral observa que almofadado pode também corresponder a capitonné. O certo é que a palavra francesa é conhecida e está registada, por exemplo, no Dicionário Houaiss, (1.ª edição, de 2001)* que não lhe dá equivalente vernáculo: «acolchoado em tecido de algodão, seda, lã ou outro material (couro, plástico), formando desenhos geométricos (diz-se de estofamento).» Mas, não querendo empregar o galicismo, parece que almofadado ou, para usar uma das palavras do consulente, acolchoado podem ser bons equivalentes, se se achar que barbilhado ou cadarçado são termos já datados. E, se, ainda assim, quisermos empregar o galicismo, não será descabido aportuguesá-lo e dar-lhe a grafia capitonê.

* A edição de 2009 do Dicionário Houaiss já consigna o aportuguesamento capitonê..

Pergunta:

Sei que com o novo Acordo Ortográfico é suposto a palavra "pêlo" perder o seu acento circunflexo. Queria saber se é uma regra obrigatória ou facultativa, já que para algumas palavras se permite dupla grafia. Estou a escrever uma tese de mestrado na área de Dermatologia e faz-me muita confusão escrever «pelo» em vez de «pêlo». Parece descabido.

Obrigada.

Resposta:

A supressão do acento circunflexo em pelo (antigamente pêlo) é mesmo obrigatória, conforme o disposto no Acordo Ortográfico de 1990, na Base IX, 9:

«Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica/tônica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s); pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (é), substantivo ou combinação de per e lo(s); polo(s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); etc.»

A supressão do acento diferencial está, portanto, expressa aqui: «... pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (é), substantivo ou combinação de per e lo(s)...»

Pergunta:

Gostaria de saber se a expressão «em tempo» ou «e.t.» ainda se usa na escrita. Um exemplo: «Em tempo, estou enviando sua proposta anexa.»

Isso ainda se usa?

Resposta:

Entre as fontes a que tenho acesso, impressas em Portugal, encontro a expressão «em tempo», com o significado de «oportunamente», mas não acho registo da sua abreviatura. Contudo, em buscas feitas na Internet, foi-me possível recolher a forma E. T. como abreviatura de «em tempo» em páginas e documentos brasileiros: por exemplo, no Manual de Linguagem Jurídico-Judiciária/Departamento de Taquigrafia e Estenotipia, Porto Alegre: Departamento de Artes Gráficas, 2005, documento que apresenta como abreviatura de «em tempo» as forma E/T e E. T. Em suma, parece que E.T. é uma abreviatura (sobretudo) usada no Brasil que ainda tem atualidade.

Pergunta:

A palavra redemoinho é uma palavra composta por processo morfossintático (rede moinho), ou por derivação não afixal do verbo remoinhar, ou é outro processo?

Obrigado.

Resposta:

Considera-se que a palavra redemoinho é variante de remoinho e que esta última forma é um derivado não afixal (antigamente, regressivo) de remoinhar (cf. Dicionário Houaiss). A sílaba de da variante redemoinho talvez tenha surgido por analogia com roda (idem).