Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

No vosso site diz-se que o termo jubilado se aplica aos professores universitários que atingem o limite de idade.

No entanto, creio que o mesmo termo é aplicado a juízes, independentemente de serem, ou não, professores universitários.

Assim, gostaria de perguntar se o termo jubilado deve ser também aplicável a juízes.

Muito obrigado.

Resposta:

Em Portugal, o termo jubilado também se aplica aos juízes conforme o Estatuto dos Magistrados Judiciais:

«CAPÍTULO V - APOSENTAÇÃO, CESSAÇÃO E SUSPENSÃO DE FUNÇÕES

SECÇÃO I - Aposentação

Artigo 67.º - (Jubilação)
       1 - Consideram-se jubilados os magistrados judiciais que se aposentem ou reformem, por motivos não disciplinares, com a idade e o tempo de serviço previstos no anexo II da presente lei e desde que contem, pelo menos, 25 anos de serviço na magistratura, dos quais os últimos 5 tenham sido prestados ininterruptamente no período que antecedeu a jubilação, excepto se o período de interrupção for motivado por razões de saúde ou se decorrer do exercício de funções públicas emergentes de comissão de serviço.»

Pergunta:

Não logrei encontrar a expressão “barba-cara” (com ou sem hífen) em nenhum dicionário.

Contudo, a expressão aparece, no sentido de «com desfaçatez», em diversas passagens de livros e artigos. Porém, todos os textos que pude encontrar, incluindo esta expressão, são cabo-verdianos, pelo que gostaria de perguntar se tem, efetivamente, origem cabo-verdiana ou se a posso utilizar numa tradução para português europeu, nestes moldes:

«Estás a dizer isso na minha barba cara?», i.e., «tens o descaramento de me dizeres isso»?

Resposta:

É uma expressão muito interessante e têm todo o cabimento no português de Cabo Verde. No português europeu é um uso muito discutível, porque é uma expressão idiomática que não parece ainda ter-se enraizado no uso de Portugal.

Nos dicionários gerais aqui consultados não se encontrou registo da expressão «barba cara», mas, numa pesquisa em páginas da Internet, é de facto em conteúdos com origem em Cabo Verde ou relacionados com este país que ocorrem exemplos de «barba cara» ou «barba-cara» como sinónimo de «nas barbas de», isto é, «na presença de alguém, em atitude de desfaçatez ou desafio» (cf. Infopédia):  

(1) «De acordo com a Biosfera I, barcos espanhóis têm vindo a fazer descargas de toneladas de tubarão e espadarte "na barba cara" das autoridades, sem que estas ensaiem uma reação contra isso» ("ONG pede proibição de pesca em Cabo Verde", in Corpus do Português, secção dialectal).

Pergunta:

A ideia é "absolutamente simples".

É a proposta de um neologismo, a saber, avicóptero que é referente à fantástica máquina em questão: o V-22 Osprey  

Sem mais de momento e grato pela disponibilidade.

Resposta:

Na verdade, uma pesquisa em páginas da Internet revela que a palavra avicóptero já circula há algum tempo, quer em português quer em espanhol.

Por exemplo, para designar o V-22 Osprey, mas também para designar outros tipos de aeronave.

Pergunta:

Antes de mais, parabéns pelo vosso excelente trabalho. Recorro frequentemente ao Ciberdúvidas desde há muitos anos e fico sempre esclarecido.

Quanto à pergunta que me levou a contactar-vos: à luz do Acordo Ortográfico de 1990, o termo "cabeça-de-cartaz" redige-se com ou sem hífens?

Já vi diversas fontes defenderem que os hífens se mantêm, enquanto outras defendem o contrário. Ou seja, não consigo chegar a uma conclusão.

Podem esclarecer-me?

Obrigado e bom trabalho. 

Resposta:

Agradece-se o apreço em que é tido o trabalho aqui desenvolvido.

A palavra composta em questão deve escrever-se sem hífenes: «cabeça de cartaz».

É assim que a palavra está grafada no artigo correspondente a cabeça2, nome masculino e feminino, no Dicionário de Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa: «cabeça de cartaz: artista, grupo, atração principal num espetáculo ou companhia».

Os compostos que incluem elementos de ligação, ou seja, preposições, como é o caso de de, escrevem-se geralmente sem hífenes.

São exceções todas as denominações de espécies botânicas e zoológicas: ervilha-de-cheiro, andorinha-do-mar. Fora deste tipo de compostos, alguns casos como cor-de-rosa e mais-que-perfeito, de forma discutível, mantêm-se hifenizados (cf. Base XV, 6, Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa).

Pergunta:

Qual a origem da palavra princípio?

Resposta:

É uma palavra que vem diretamente do latim principium, um adjetivo que se tornou substantivo.

Por sua vez, principium é palavra que, em latim, terá origem em princeps, «o primeiro, o chefe, o principal», vocábulo evoluiu para príncipe em português e que resulta do composto primocaps, formado por primus, «primeiro», e a raiz cap- do verbo também latino capere – ou seja, princeps é literalmente «o primeiro a tomar, a agarrar (alguma coisa)».

Fontes: Dicionário Houaiss e dicionário da Academia das Ciências de Lisboa.