A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostava de saber com exactidão como e a partir de quê é que se derivam advérbios de modo. Recentemente, uma colega abordou-me com a palavra proselitisticamente, que havia encontrado num texto académico, e gostava de saber qual o significado. Embora não a tenhamos encontrado no Dicionário Houaiss, encontrámos prosélito, proselítico e proselitismo.

A dúvida que então surgiu foi se o advérbio de modo deveria ser proseliticamente, por derivação do adjectivo proselítico. Nesta matéria, contudo, somos leigos e por isso a vós recorremos para conhecermos melhor os mecanismos da nossa língua.

Obrigado pelo excelente trabalho.

Resposta:

Os advérbios de modo são formados pelos adjectivos na forma feminina com o pospositivo -mente que está relacionado com substantivo do género feminino mente.

Proselitisticamente pressupõe o adjectivo proselitístico/a, que para muitos dicionaristas ainda não mereceu entrar nos seus dicionários. Partindo do adjectivo proselitista, o advérbio de modo será proselitistamente. Finalmente, de proselítico, forma-se proseliticamente. O uso destas palavras é muito restrito, mas a sua formação está bem feita em qualquer dos casos.

 

Cf. Acentuação dos advérbios de modo

Pergunta:

A frase «Não dá para esquecer nunca» está correta? As duas negativas na frase são admitidas? Caso eu substitua a posição da palavra nunca e a trouxer para o início da oração, a frase estará correta?

Obrigado pela atenção.

Resposta:

Na frase «Não dá para esquecer nunca», a segunda negativa confirma a primeira, intensificando a declaração. Na língua portuguesa, as duas negativas são possíveis, desde que nunca se siga a não.

Já na frase «Nunca dá para esquecer», que é corrente e compreensível, não é possível a dupla negativa (é agramatical «Nunca não dá para esquecer»). Outra forma possível será «(Isso) nunca dá para esquecer».

Pergunta:

A palavra malta, designando um grupo de amigos e grupos de trabalhadores agrícolas sazonais, e a palavra malteses têm alguma relação etimológica com Malta (país)?

Resposta:

Os substantivos (ou nomes) comuns malta e malteses estão relacionados com a ilha de Malta, porque esta ilha servia de abrigo à pirataria.

Malteses eram, portanto, os corsários ou os náufragos daquela ilha que surgiam nas regiões costeiras e que eram aprisionados ou integrados na população nacional, passando a executar trabalhos braçais pesados.

Pergunta:

Desde o meu tempo de menino, as doenças transmitidas pelos contatos sexuais sempre se chamaram doenças venéreas (ou doenças do mundo). De uns tempos para cá, venho notando que a designação doenças venéreas foi quase que completamente substituída pelo pomposo circunlóquio «doenças sexualmente transmissíveis». A que se deve tal delírio lingüístico?

Muito grato.

Resposta:

«Doenças venéreas» significa «doenças relacionadas com a deusa Vénus».

Dado que entre estas doenças surgiu a sida (ou AIDS, no Brasil), os médicos preferem chamar-lhes «doenças sexualmente transmissíveis», quando ainda não ocorreram, ou «doenças sexualmente transmitidas», quando já se manifestaram.

Numa linguagem mais concreta (e não fantasiosa), os serviços de saúde chamam a atenção para o perigo das relações sexuais com parceiros ocasionais.

Pergunta:

Qual o aumentativo da palavra relógio?

Resposta:

Os relógios mecânicos surgiram na Itália e foram, inicialmente, instalados em torres e fachadas de grandes igrejas.

A evolução tecnológica tem permitido a redução das dimensões dos relógios mecânicos. Por isso apenas usamos os diminutivos. O aumentativo não tem uso porque não há relógios mecânicos maiores do que aqueles que vemos nas catedrais.

 

N. E. (12/05/2025) – O aumentativo de relógio pode formar-se com a adjunção de -ão ou -zão, e, portanto, são possíveis as formas relogião, que encontra algumas abonações em páginas da Internet, e relogiozão, que parece forma pouco ou nada usada. É, portanto, escasso uso que têm estas formas sintéticas, pelo que se afigura preferível empregar expressões analíticas como «relógio grande», «relógio enorme», «relógio gigantesco», «relógio de grande tamanho» etc.