Os piropos constituem uma prática linguística universal que tem uma grande presença na cultura portuguesa. Por regra brejeiros e lúbricos, não raras vezes roçam o galanteio de mau gosto. A verdade é que os há, também, corteses e cavalheirescos e .. os dirigidos por elas a eles... Quem nunca soltou uma gargalhada ao ouvir certos piropos, em determinados contextos, ou até mesmo se sentiu mais desinibido depois de lhe ter sido dirigido uma expressão mais galante?
É o que se pode confirmar em O Piropo Nacional, da editora Guerra e Paz*, desdobrados em doze capítulos "temáticos". Por exemplo, à volta dos «piropos galantes, a delicadeza na língua»; dos «piropos requintados, cultos e literários»; dos «piropos da sétima arte, da tela para a vida»; dos «piropos 4.0, a nova geração»; dos «piropos a bater coro para quebrar o gelo»; dos «piropos que levaram resposta»; dos «piropos disfarçados de quadras»; dos «piropos que desdenham mas querem comprar»; dos «piropos moderadamente brejeiros»; ou, claro, dos «piropos com bola vermelha, a brejeirice destravada».
Apesar deste tipo de galanteio de rua estar mais associado aos homens, dois capítulos deste divertido livro "provam" à saciedade como as mulheres também o cultivam com gosto: «piropos no feminino para piscar o olho ao amado» e «piropos brejeiros de salto alto». Alguns exemplos: «És um bilhete de primeira classe para o pecado»; «queria ser a tua sombra, para te seguir o dia inteiro»; «és cá um pão!»; e «se a beleza fosse pecado, tu estarias no inferno».
Há, ainda, o registo de expressões que ficaram na história do galanteio, inspirados na literatura e no cinema – piropos por isso mais "poéticos", até mesmo de recorte "elevado": «Podemos ser o Carlos e a Maria Eduarda, porque connosco não há incesto» [clara alusão a Os Maias, de Eça de Queirós]; «se fosses a minha Penélope, eu não iria para Tróia»**; «quero fazer contigo o que a primavera faz com as cerejas» [citação de Pablo Neruda em Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada] «aquilo foi o ribombar de um canhão ou é o meu coração a bater?» [o que disse Ingrid Bergman a Humphrey Bogart no filme Casablanca]; «eu não mordo, sabes... a menos que mo peçam» [Audrey Hepburn para Cary Grant em Charade].
Além dos piropos «com bola vermelha» e «com a brejeirice destravada», os românticos e de coração de pomba, eles ou elas, também têm aqui muito por se inspirarem...
* Coleção em parceria o Grupo Cofina, detentor do Correio da Manhã e da CMTV.
** Mantém-se a grafia Tróia, anterior à ortografia em vigor. Troia é a forma que decorre do Acordo Ortográfico de 1990.
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