Assinalando o 500.º aniversário do nascimento de Luís Vaz de Camões, que se supõe ter ocorrido em 1524, o classicista, tradutor, ensaísta e escritor Frederico Lourenço brinda o público leitor em língua portuguesa com esta antologia, que abarca «as passagens mais brilhantes de Os Lusíadas e das Rimas».
Se Os Lusíadas, publicados em 1572, são um título com certeza bem conhecido, esclareça-se que as Rimas, uma compilação dos sonetos, canções, éclogas e outras composições líricas, tiveram edição póstuma, em 1595, a que se seguiu outra edição, em 1598 (p. 486). Este legado literário permite a Frederico Lourenço recolher sequências da epopeia e juntar uma seleção de poemas líricos, todos eles textos imbuídos da tradição clássica. O critério, como se lê no Prefácio (pp. 11-12) foi o da preferência pessoal.
Mas o interesse da antologia não fica pelos textos camonianos, porque Frederico Lourenço retoma a tradição de os anotar, na esteira de Manuel Faria e Sousa (1590-1649), um dos primeiros biógrafos do Poeta, de modo a «chamar a atenção para a matriz latina da poesia de Camões». O volume tem, portanto, uma organização bipartida: uma primeira secção constituída por um corpus, por sua vez dividido entre poesia épica e poesia lírica; e depois, a segunda parte, recheada de anotações aos poemas coligidos (pp. 319-611) e completada por uma lista de «abreviaturas bibliográfica e outras». Finaliza a antologia um anexo intitulado "O retrato de Camões" (pp. 625-630), registo ficcional da experiência de um narrador que, transferindo-se para o passado, se vê no corpo do pintor do quadro de Camões que o 2.º Conde de Linhares terá mandado fazer (ver comentário do historiador de arte Vítor Serrão no Facebook em 04/06/2024).
Há nesta antologia um extra talvez inesperado contido nas notas de Frederico Lourenço. É que à arte do comentário literário do antologiador, seguro, crítico e desassombrado nas releituras atualizadas, soma-se o engenho do seu estilo, que tempera a erudição com a frescura coloquial da língua de hoje.
A leitura dos versos de Camões fica assim novamente ao alcance de todos, mesmo de quantos reagem com relutância, por experiências passadas, más ou distraídas, ao contacto com este grande autor.
Cf. Camões — uma poética de conjecturas + Cinco mistérios sobre Camões + «Se [Camões] durasse eternamente, ninguém mais escrevia» + Retratos de Camões + O ensino de Camões continua refém da sua “versão oficial” + O rei que amava os livros (e Camões) + A vida extraordinária do mais genial poeta português. Luís de Camões foi viajante, soldado, boémio. + A biografia de Camões, o poeta a quem foi diagnosticada ingratidão + «Camões não ficou agarrado ao seu tempo. O que ele diz ainda ecoa»
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