«(...) Jornalistas diplomados da agência pública de noticias e de um jornal de referência [usarem] uma palavra inexistente – falsamente atribuída a um líder partidário que não costuma atropelar o Português – mostra bem os maus tratos a que se encontra sujeita a língua. (...)»
Transcrevendo uma notícia da Lusa, o Público de [1/11/2016] diz que Jerónimo de Sousa acusou o PSD de só querer "encasinar" a questão da CGD, ao apresentar propostas sobre as remunerações e o dever de transparência dos gestores do banco público.
Ora, o que o líder do PCP disse, na sua habitual linguagem com laivos populares, foi que o PSD só queria «encanzinar» a questão da Caixa, ou seja, como dizem os dicionários, «criar dificuldades», «emperrar».
Mas o facto de jornalistas diplomados da agência pública de noticias e de um jornal de referência terem usado uma palavra inexistente – falsamente atribuída a um líder partidário que não costuma atropelar o Português – mostra bem os maus tratos a que se encontra sujeita a língua. Enquanto umas dúzias de fundamentalistas continuam a gastar energias a contestar ingloriamente o Acordo Ortográfico, os órgãos de comunicação vão sujeitando tranquilamente a língua a "tratos de polé", sem protestos visíveis.
O mínimo que se exige é a criação de um Provedor da Língua, com poderes para monitorizar e denunciar publicamente tais atropelos.
Adenda O referido erro continua patente no texto constante da edição eletrónica do Público, que se limitou a mudar o título da notícia da edição impressa, onde se lia em letras gordas o tal "encasinar".
Texto que se transcreve, com a devida vénia ao autor, do blogue Causa Nossa, de 31 de outubro de 2016.