Os debates da pré-campanha com vista às eleições presidenciais em Portugal, a terem lugar em 18 de janeiro de 2026 são uma corrida argumentativa, um duelo que os media exploram até ao infinito, na avassaladora produção de conteúdo nem sempre muito informativo. Na vertigem das intervenções públicas, candidatos políticos e comentadores mediáticos ficam, afinal, estranhamente vulneráveis ao erro, eventualmente à chamada "asneira" gramatical. 

No canal SIC Notícias ("Presidenciais: o debate entre Catarina Martins e Henrique Gouveia e Melo"  25:06), em 23/11/2025 (21h26), ouviu-se a seguinte consideração:

«Não é verdade que o Estado, se intervir para fazer baixar os preços da habitação, esteja a intervir numa esfera privada.»

Talvez a excessiva velocidade de processamento exigida pela situação tenha conduzido a candidata para a solução mais intuitiva. Pois se o verbo intervir acaba em -ir no infinitivo, e se um verbo da mesma conjugação (a 3.ª) como partir tem o futuro do conjuntivo igual ao infinitivo flexionado (cf. «se ele partir mais cedo» e «é preciso partir»), porque não dizer «se [ele] intervir» numa frase condicional?

Bom seria que a regularidade fosse rainha absoluta da ativação das formas linguísticas, e que felizes seriam, por exemplo, os professores de Português como Língua Estrangeira, que só teriam de apresentar regras sem exceções a quantos desejam aprender a língua portuguesa. O mundo, contudo, revela-se contingente, a gramática é demasiado humana e a impiedosa irregularidade apanha nas suas malhas a precipitação de quem desfere e esgrime argumentos.

A verdade amarga é que o futuro do conjuntivo de intervir é intervier, porque este verbo é um derivado de vir, cuja forma nos mencionados tempo e modo é vier. Tudo isto redunda em reconhecer que "intervir" numa oração condicional é, sem dúvida, um erro grave. Felizmente que não ficou escrito.