«Ao que o nosso jornal apurou, "terão havido contactos
junto de pessoas que tinham pedido para analisar os valores
de indemnizações no âmbito de anteriores planos de rescisão para
voltarem a negociar e a RTP estava a propor valores mais altos."»
"Diário de Notícias", 23 de agosto de 2014
Se o jornal apurou mesmo o que ficou acima transcrito, apurou duplamente mal. Primeiro, pelo terão havido (em vez de terá havido) – um erro de tal modo primário que só deslustra quem o comete (e publica) em registo escrito*; mas também pela redação desleixada de toda restante frase, sem nexo.
* Sendo plausível a incorreta conjugação no plural do verbo haver no discurso oral menos cuidado, a boa prática jornalística recomenda, no entanto, que ela fique devidamente corrigida na transposição para o texto escrito. Acresce que é de todo improvável que alguém, em discurso direto, utilizasse o futuro composto do erro. Diria, antes, «houve contactos». Ou, quando muito, o erróneo «“houveram” contactos». Salvo se, em vez da certeza inerente a qualquer informação minimamente fiável, tivesse prevalecido o seu contrário. Resultado: quem veiculou a informação,– ainda por cima sob anonimato e sem a devida confirmação – arranjou esse expediente verbal precisamente para acautelar o seu contrário: uma mera suposição. ... Duplo erro, então: as aspas teriam de ter sido colocadas depois (e não antes) do terão havido. Na gíria jornalística, chama-se a isto “escrever com os pés”.