«No panorama, ouve algum investimento em vinhos franceses, italianos e americanos […]»
OJE, 10 de janeiro de 2014, p. 15.
Não é crível que alguém escreva "á de" quando quer dizer «há de» ou "ão de" quando quer dizer «hão de», ou «"avemos" de ir» quando queria dizer «havemos de ir». Mas pode acontecer, como no exemplo acima, que se troque houve por ouve. E isso acontece – parece-me – não por nenhum efeito de contaminação da regra que suprime certas letras em determinadas sequências consonânticas interiores (Base IV, do Acordo Ortográfico de 1990), as comummente designadas por consoantes mudas, como por vezes se ouve, mas pela simples confusão entre duas palavras existentes. Graficamente houve e ouve são-nos familiares, daí a confusão. Aliás, o próprio AO 1990 até dedica uma Base (II) ao caso do h inicial e final. A confusão é também potenciada pela homofonia, já que ambas se pronunciam do mesmo modo. O que acontece com houve/ouve é igual ao que se passa com acento/assento, cozer/coser, conserto/concerto, conselho/concelho, dispensa/despensa, voz/vós, entre outros casos. Quase apetece perguntar se não houve ali um efeito de contaminação com a grafia do próprio título do jornal?…